EUA

Negócios em quebra e medo: o impacto da política de Trump nas comunidades portuguesas

31 de janeiro 2025 - 16:36

Cafés, restaurantes e negócios locais portugueses que costumavam estar cheios, agora encontram-se vazios porque os portugueses têm medo de ser detidos nas rusgas que têm sido feitas por todo o país.

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Little Portugal
Little Portugal, em Newark. Fotografia de Wally Gobetz/Flickr

No dia 20 de janeiro, Donald Trump tomou posse como presidente dos Estados Unidos da América. Discursando aos cidadãos americanos e ao mundo, o presidente americano prometeu que “todos os que entraram ilegalmente [nos Estados Unidos da América] serão imediatamente detidos e deportados”.

Agora, essas promessas batem à porta das comunidades portuguesas no país. Cafés, restaurantes e negócios locais portugueses que costumavam estar cheios, agora encontram-se vazios porque os portugueses têm medo de ser detidos nas rusgas que têm sido feitas por todo o país.

É o caso da padaria Wilson, em Newark, Nova Jérsia. À RTP, uma das clientes explicou que “anda tudo cheio de medo”, indicando que o local “está sempre cheio” mas agora “está vazio”. “As pessoas estão a esconder-se em casa porque estão com medo de sair à rua”, conclui.

António Nobre, que vive há 40 anos nos Estados Unidos da América, explicou também à RTP que “nas cidades grandes, a maioria é clandestina”. Votou em Trump, mas agora vê uma quebra de 50% no restaurante do qual é dono, porque as pessoas também têm medo das rusgas.

De facto, as rusgas em negócios portugueses já começaram e foram o gatilho para o medo dos imigrantes daquela comunidade. Uma empresa de distribuição de marisco, na mesma cidade, foi alvo de uma rusga pela agência de Imigração e Alfândegas (Immigration and Customs Enforcement, em inglês). Foram detidos três trabalhadores latino-americanos, o que colocou o funcionamento da empresa em risco. Ao Público, Luís Janota, responsável pelo armazém de peixe e marisco disse que “estamos no negócio há 26 anos e nunca tivemos uma coisa assim”. O português também concorda com a política de Trump, mas agora vê o seu negócio colocado em risco. “Estes meus funcionários não são criminosos, trabalham connosco há vários anos”.

“Eu penso que eles estavam a discriminar os funcionários hispânicos, porque estavam a desconfiar dos documentos apresentados pelo manager do armazém, um veterano do exército, que é hispânico. Mas, às pessoas brancas que lá estavam não perguntavam nada. A mim e a outras pessoas não perguntaram nada. Isso não faz sentido. Ou se pergunta a todos ou não se pergunta a ninguém”, disse o empresário.

Vidas suspensas

Para além do impacto nos negócios, a política de Trump para a imigração põe em suspenso muitas vidas construídas há décadas no país, que agora se veem em risco de ser deportados. À RTP, o vereador da Câmara de Newark, Michael Silva, explicou que há muitos portugueses na cidade “há mais de 20 anos e que não estão legais”.

“Estão a pagar as taxas, estão a pagar o que têm de pagar, Washington tem de pensar melhor isto”, defende. “As pessoas que estão a fazer a coisa certa, temos de lhes dar a oportunidade de estar a trabalhar e de fazerem a vida deles cá”.

Mas se as deportações acontecerem, o governo português está preparado para lidar com elas? À Sábado, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, explicou que o governo não sabe ao certo o número exato de cidadãos portugueses sem documentos a morar nos Estados Unidos da América.

Apesar dessa falta de informação, e das várias deportações já registadas para países como o Brasil, o secretário de Estado não acredita que o número de pessoas deportadas dos Estados Unidos da América aumente relativamente aos anos anteriores.

O antigo secretário de Estado das Comunidades do Partido Socialista, José Luís Carneiro, indicou que as medidas anunciadas por Trump podem afetar até 3.600 portugueses a viver no país. Mas o atual secretário de Estado das Comunidades não confirmar nenhum número.

Os censos de 2020 dos Estados Unidos indicam que as comunidades portuguesas têm mais expressão na Califórnia, Massachussetts, Flórida, Nova Jérsia e Rhode Island. Em 2024, foram repatriados 69 portugueses num universo de 1,5 milhões de norte-americanos com origem portuguesa.