O trumpismo regressa à Casa Branca

Nas vésperas de um presidente de extrema-direita voltar a assumir o poder nos Estados Unidos, olhamos para o trumpismo e o que se pode perspetivar, interna e externamente, para o futuro da superpotência mundial. Dossier organizado por Carlos Carujo.

07 de dezembro 2024 - 18:53
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Donald Trump regressa à Casa Branca em janeiro. E com ele volta ao poder uma extrema-direita que promete deportar milhões de migrantes, despedir milhares de funcionários públicos, baixar impostos aos mais ricos, anular proteções ambientais, dar carta branca ao genocídio na Palestina, reforçar o protecionismo económico e iniciar guerras aduaneiras com grande parte do mundo, entre outras das suas bandeiras.

É tempo portanto de regressar à análise de o que é o trumpismo e ao que se perspetiva para a política da superpotência mundial, interna e externamente.

Neste dossier, com o historiador Paul Le Blanc, olhamos não só para a figura de Trump mas também para as várias componentes do movimento trumpista. E ainda para o papel da esquerda e das mobilizações sociais ao longo das últimas décadas.

Do lado do trumpismo, o professor de Estudos Internacionais David Hastings Dunn sublinha a importância dentro do movimento ultra-conversador de um novo projeto orientador traduzido no documento Mandate for Leadership: The Conservative Promise da Heritage Foundation. Um dos seus arquitetos, Russell Vought, já foi nomeado por Trump para o Gabinete de Gestão e Orçamento. Ele que foi o responsável direto por escrever o capítulo que prevê o despedimento de milhares de funcionários públicos.

Esta é uma das várias medidas daquilo a que se tem vindo a chamar a trumponomics, ou seja as propostas económicas de Trump. Rob Hoveman analisa-as, prevendo turbulências económicas dadas as guerras aduaneiras e os efeitos económicos da anunciada deportação de milhões de migrantes, mas salvaguardando que é difícil antecipar o que do propalado durante a campanha se manterá.

É precisamente sobre os possíveis efeitos desta deportação massiva que Victor Cabral se debruça, salientando que a “caça aos migrantes” que os coloca inimigos implica um investimento muito elevado e a perda da mão de obra barata dos indocumentados que tem vindo a alimentar a economia norte-americana.

Já Daniel Tanuro faz um breve apanhado de algumas das figuras que têm vindo a ser chamadas pelo presidente eleito dos EUA para o seu Governo que considera ser “um governo de fanáticos iluminados” que vê como um sintoma da decomposição da classe dominante.

Do lado da resistência, a socióloga Kay Mann recorda como no mandato anterior Trump enfrentou, desde o início, as manifestações de milhões de mulheres, depois do movimento Black Lives Matter e o remergir de um pujante movimento sindical que tem vindo a entrar onde antes nunca se tinha conseguido organizar. Já na era Biden, os estudantes de dezenas de campus enfrentam repressão para exigir fim da guerra genocida contra Gaza. Nestas lutas vê exemplos da ação necessária para lutar contra o trumpismo e o capitalismo.

Do ponto de vista ambiental, Cristiane Prizibisczki faz um apanhado das políticas que Trump, um negacionista convicto das alterações climáticas e pró-combustíveis fósseis, colocou em marcha no seu anterior mandato, e das suas promessas de ser ainda mais duro com as restrições ambientais quando voltar a tomar posse.

Candice Choo-Kang defende o multimilionário é um perigo para saúde, pretendendo desfinanciar o Obamacare, abrir ainda mais espaço para as empresas na saúde e dificultar o acesso ao aborto. Isto para além

No plano internacional, Walden Bello, apesar de também ele não deixar de ter em conta a imprevisibilidade de Trump, analisa a sua pulsão isolacionista que se traduz mais precisamente numa estratégia de um “envolvimento seletivo”, talhado a partir da noção de “esferas de influência” para o contrastar com o envolvimento global aberto de um anterior consenso denominado como internacionalismo liberal.

Pelo contrário, Tom Stevenson, que tal como ele olha para as consequências da política externa trumpista nas várias geografias, considera que, apesar de tudo, Trump se situa ainda no interior do consenso das elites norte-americanas na sua utilização da maquinaria do império americano e da ideologia da primazia perpétua, defendo o princípio do máximo poder, máxima pressão sem ilusões consoladoras.

Por último, Gilbert Achar olha principalmente para uma região do mundo, o Médio Oriente, e nota que Benjamin Netanyahu aguardava ansiosamente a vitória de Trump e fez tudo o que podia para contribuir para ela. Não deixa ainda de ponderar que, sobre a Ucrânia, o presidente eleito dos EUA não tem qualquer interesse em apoiar o país invadido e prefere chegar a um acordo com Putin e, como grande parte do establishment do seu país olha para a China como o principal concorrente.