Milhares de professores nas ruas em dia de greve forte

06 de junho 2023 - 19:24

A data era simbólica porque coincidia com o tempo de serviço congelado aos professores desde o tempo da Troika. No Porto, Mário Nogueira classificou os governante de prepotentes, arrogantes e irresponsáveis. Em Lisboa, Mariana Mortágua salientou que os professores defendem a escola pública e o Governo usa uma “chantagem permanente”.

PARTILHAR
Professores em manifestação esta terça-feira. Foto de ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA.
Professores em manifestação esta terça-feira. Foto de ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA.

Houve escolas fechadas e provas de aferição por realizar no dia em que milhares de professores fizeram greve e saíram às ruas de Lisboa e do Porto para assinalar a data simbólica “06.06.23” que coincide exatamente com os anos, meses e dias de tempo de serviço que foram congelados no governo de Pedro Passos Coelho/Paulo Portas e que não voltaram a ser contabilizados aos docentes.

O Governo tem de responder e garantir a escola pública”

Mariana Mortágua esteve presente na manifestação de Lisboa e realçou a importância da mobilização: “Estas professoras, estes professores estão aqui a dizer ao Governo o que deve fazer para resolver o problema, para ter professores nas escolas de forma permanente, para responder pela escola pública”, afirmou a coordenadora do Bloco de Esquerda.

E enquanto os professores apresentam soluções, o Governo insiste nos problemas. Para Mariana Mortágua, o executivo “não dá respostas, não cria condições para os professores ficarem e depois culpa aqueles que lutam pela escola”, numa “permanente chantagem”.

Questionada sobre se as formas de luta dos professores não têm influência negativa nas aprendizagens dos alunos, Mariana contrapõe que “os alunos não têm aulas porque não há professores. Não é por causa dos professores que defendem a escola pública”. Pelo contrário, “ao defender que os professores tenham condições para poderem ter uma carreira”, os docentes em luta estão a “defender o direito à escola pública” porque “se nada for feito vão continuar a sair da escola pública, a reformar-se, e não vai haver professores para dar aulas”. E “se não há educação, não há futuro do país”, garante, defendendo que “não podemos querer ter uma economia qualificada sem ter uma educação pública”.

Sobre a questão do tempo de serviço congelado, a dirigente bloquista pensa que é a sua reposição é o “mínimo de justiça” porque “é seu”. E “não podemos ter serviços públicos de qualidade e negar a dignidade aos trabalhadores dos serviços públicos”.

Assim, resume, “o Governo tem o dever de responder por esta carreira e garantir a escola pública”.

Contra a prepotência e a irresponsabilidade do Governo

Prepotentes, arrogantes e irresponsáveis. Estes foram os adjetivos repetidos pelo secretário-geral da Fenprof para qualificar “os governantes” durante a manhã na manifestação do Porto.

Ainda sem adiantar números, garantiu foram “centenas de escolas” onde não foram realizadas as provas de aferição para além das “escolas fechadas, dos jardins-de-infância a grandes secundárias”.

Mário Nogueira chama irresponsáveis “a todos os governantes, não só ao ministro, infelizmente, senão era mais fácil. Estou a chamar a todos os governantes porque não estão a olhar para aquilo que está a acontecer nas escolas”, referindo-se aos problemas “ de carreira, instabilidade” e a “quem acha que a escola pública pode no futuro vir a viver sem professares qualificados e isso não é possível”.

Já a “prepotência e a arrogância dos atuais governantes assenta muito na sua maioria absoluta mas eles devem pensar que os professores são uma maioria bem maior do que a maioria deste governo.

Mas os sindicatos de professores não esquecem o papel de João Costa, o ministro da Educação, ao qual dirigem uma mensagem: “se o senhor ministro não é capaz de encontrar soluções para os problemas, então, se calhar, o senhor ministro tem que pensar bem se tem condições para continuar ou não à frente do ministério”. Respondendo-lhe a partir da mesma metáfora, já que este tinha dito que “os professores fazerem greve agora é a mesma coisa que os médicos não passarem análises clínicas”, disse: “Eu diria que a prática política do senhor ministro, usando a mesma retórica, equivale a um médico que manda fazer análises, que faz o diagnóstico, mas que depois recusa tratar o doente e o deixa definhar até morrer, é isso que está a fazer à escola publica”.

Para além da reivindicação que deu o mote ao dia de luta, Mário Nogueira acrescentou outras questões a serem resolvidas: “temos um problema gravíssimo de falta de professores, de envelhecimento da profissão, temos um problema gravíssimos que tem a ver com as questões das condições de trabalho e dos horários de trabalho e há quem não perceba que esse é um problema que não afeta só os professores mas a escola pública”.

Em nome da plataforma sindical de nove diferentes organizações que convocaram o protesto, anunciou que os professores seguem a luta marcando presença nas comemorações do 10 de junho no Peso da Régua.

Um “impacto forte” nas escolas

Sobre os efeitos da greve, os diretores escolares reconhecem que houve um “forte impacto” nas escolas, tendo fechado muitas deles, sobretudo no 1º ciclo, e sido canceladas provas de aferição em vários outras. Ao Público, o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, traçou este panorama explicando a grande adesão pelo “simbolismo” da data.

E Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares também confirma: “boa parte das escolas ou está fechada ou está a funcionar com muito pouca gente” disse.