Lukashenko ameaça cortar o gás à Europa em caso de novas sanções

13 de novembro 2021 - 10:05

A crise na fronteira da Bielorrússia com a Polónia subiu de tom com a troca de ameaças entre Minsk e Bruxelas. O regime bielorrusso continua a encaminhar milhares de migrantes para a fronteira e os países vizinhos temem um conflito militar.

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Lukashenko na reunião do executivo esta quinta-feira. Foto publicada no site da Presidência da Bielorrússia.

“Nós aquecemos a Europa e eles ainda nos ameaçam com o fecho das fronteiras. E se lhes cortássemos o gás natural?”, perguntou Lukashenko, citado pelo Guardian, durante uma reunião de emergência com os principais membros do governo da Bielorrússia, aconselhando os líderes da Polónia, Lituânia “e outras pessoas desmioladas a pensarem antes de falar”.

A ameaça de Lukashenko de cortar a passagem do gás com origem na Rússia para a União Europeia pode não passar disso mesmo, diz a líder da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, que reuniu esta quinta-feira em Berlim com os principais partidos e figuras políticas da Alemanha. Para a ex-candidata presidencial atualmente no exílio, o presidente bielorrusso teria mais a perder com o corte do gasoduto do que a própria União Europeia.

A ameaça de reforço das sanções que já atingem diretamente muitas figuras do regime bielorrusso e algumas das principais empresas do país está na origem da retaliação de Lukashenko entretanto batizada por Bruxelas de “guerra híbrida”. Aqui, a arma são os migrantes vindos do Iraque, Síria e Líbano, a bordo de aviões comerciais com destino a Minsk, e depois encaminhados por terra até à fronteira com a Polónia. Rapidamente a promessa de uma passagem segura para a União Europeia se transforma num pesadelo para estas pessoas, que além das temperaturas negativas durante a noite, enfrentam a violência de milhares de polícias e soldados polacos com ordem para não deixar passar ninguém. Resta-lhes procurarem refúgio na floresta e tentarem a sorte nalgum ponto em que consigam cortar o arame farpado. Em caso de sucesso, há depois que conseguir escapar à polícia de fronteira que está a passar toda a região a pente fino, por entre relatos de espancamentos e roubos de todos os pertences a quem é apanhado em solo polaco.

Só na quarta-feira, as autoridades polacas anunciaram ter impedido 468 tentativas de passar a fronteira ilegalmente. Segundo a agência de notícias Belta, estima-se que haja cerca de três mil migrantes, entre os quais 500 crianças, a tentarem cruzar a fronteira com a Polónia.

Por seu lado, o governo da Polónia também aproveita a crise humanitária para reforçar a sua retórica anti-imigração. Esta quinta-feira celebrou-se o dia da independência com uma marcha em Varsóvia promovida por grupos de extrema-direita. Tradicionalmente marcada por ataques violentos dos grupos neonazis, a manifestação deste ano tinha sido proibida pelo presidente da Câmara liberal e pelos tribunais, mas o Governo de Mateusz Morawiecki reverteu a decisão, ao declará-la cerimónia de Estado.

Países vizinhos temem confronto militar

O risco da escalada desta crise humanitária para um conflito militar é uma das preocupações da Estónia, Lituânia e Letónia. Os ministros da Defesa das repúblicas bálticas assinaram na quinta-feira um comunicado conjunto a declarar a situação atual como “a crise de segurança mais complexa para a nossa região, a NATO e a UE desde há muitos anos”.

Ao reforço dos militares na fronteira polaca, Lukashenko respondeu com o apoio vindo de Moscovo, com bombardeiros nucleares a sobrevoarem a região fronteiriça em exercícios conjuntos com a aviação bielorrussa. “Sim, são bombardeiros capazes de transportar armas nucleares. Não temos outra saída. Precisamos de saber o que fazem do lado de lá da fronteira”, disse o presidente na reunião com o executivo.

O reforço da presença militar russa é justificado por Lukashenko com idêntica medida por parte das tropas polacas e da NATO. “Vê-se que já são 15 mil militares, tanques, veículos blindados, helicópteros que voam ao lado de aviões. Foram enviados para a fronteira e, mais ainda, sem avisar ninguém, embora sejam obrigados a fazê-lo”, denunciou. Daí a necessidade de Minsk ter “planos de contra-ataque” no caso de eclodir “uma pequena guerra na fronteira”.

No Conselho de Segurança da ONU, uma declaração subscrita pelas delegações dos EUA e UE voltou a apelar às autoridades bielorrussas que “parem com esta ação desumana e não ponham a vida das pessoas em risco”. A declaração não faz referência ao aliado russo e acusa a Bielorrússia de tentar “desestabilizar os países vizinhos e a fronteira externa da UE para desviar as atenções das suas crescentes violações dos dieitos humanos”, declarando o regime de Lukashenko “uma ameaça à estabilidade regional”.

Segundo a agência Reuters, na lista de futuras sanções europeias à Bielorrússia estão mais 30 pessoas e empresas, entre as quais o ministro dos Negócios Estrangeiros, a transportadora aérea Belavia e outras entidades consideradas suspeitas de organizarem o fluxo de migrantes para desencadear a crise. A Belavia deixou de poder sobrevoar espaço da UE após o desvio de um avião da Ryanair para Minsk com a finalidade de deter um opositor de Lukashenko. As novas sanções irão impedir a companhia de alugar aviões às companhias irlandesas, dinamarquesas e romenas, mas ainda se debate se esse impedimento se aplicará apenas a novos contratos ou também aos que já existe. Com este quinto pacote de sanções, subirá para mais de 200 o número de pessoas sujeitas a congelamento de ativos e proibição de viajar para o espaço da UE. Quanto a empresas e instituições alvo de sanções, o número ultrapassará uma dúzia.

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