Milhares de migrantes, em números estimados entre três a quatro mil, vindos sobretudo do Curdistão iraquiano mas também de outros pontos do Médio Oriente, do Afeganistão e de África, continuam desde segunda-feira a estar acumulados na zona da fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia. Estarão a ser empurrados do lado bielorrusso, a tentar passar para a Polónia de onde são repelidos pela polícia e pelo exército.
A União Europeia acusa o regime de Lukashenko de estar a incentivar a passagem destas pessoas como forma de retaliação contra as sanções que lhe foram impostas. O presidente do Conselho da União Europeia, Charles Michel, diz que se trata de um “brutal ataque híbrido” em que a Bielorrússia usa a “angústia dos migrantes” como uma arma “de forma cínica e chocante”. A resposta prevista é aumentar sanções. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, prometeu esta quarta-feira que “muito rapidamente no início da próxima semana vai haver um alargamento das sanções” que podem atingir também as companhias áreas e agências de viagens que “facilitam o tráfico humano até Minsk e depois para a fronteira entre a UE e a Bielorrússia” e mais trinta indivíduos e entidades do país. Atualmente já sofrem sanções 166 cidadãos bielorrussos, incluindo o presidente e o seu filho.
O principal aliado da Bielorrússia também reagiu ao acentuar da crise. A Rússia anunciou o envio de dois bombardeiros Tupolev Tu-22M3 que têm capacidade de utilizar misseis nucleares para patrulhar o espaço aéreo deste país. Para além disso, considera as sanções inaceitáveis e diz que o encerramento da fronteira pretende “estrangular” o país. Sergei Lavrov, ministro russo dos Negócios Estrangeiros, declarou que os países ocidentais são a “raiz” desta crise e que espera que os europeus responsáveis “não permitam ser empurrados para uma espiral que é bastante perigosa”.
O primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, não poupa nas palavras e culpa diretamente Putin de ser o cérebro por detrás da crise e de querer “reconstruir o império russo”. Por seu turno Lukashenko, numa entrevista à agência noticiosa pública do seu país, garante que “não quer briga” e declara que “sabemos bem qual é o nosso lugar mas também não nos ajoelharemos”.
No meio destas tensões diplomáticas estão os migrantes. A situação preocupa Michelle Bachelet, Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, que diz que “estas centenas de homens, mulheres e crianças não devem ser forçados a passar mais uma noite num clima gelado sem abrigo adequado, água e assistência médica”.
À Reuters, uma fonte no local avisa que há “muitas famílias aqui com bebés entre os dois e os quatro meses” e que estas pessoas não comeram nada nos últimos três dias. O jornal polaco Gazeta Wyborcza noticia que pelo menos dez migrantes já morreram desde o início desta crise, sete do lado polaco da fronteira.