Desde a queda da ditadura de Assad, o exército israelita desferiu mais de 300 ataques contra a Síria. De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, as principais instalações militares do país foram destruídas.
A organização, sediada fora da Síria mas que baseia os relatórios numa rede de informadores no terreno, faz uma lista dos ataques, sublinhando a destruição esta terça-feira de fábricas das forças de defesa aérea em Alepo, de armazéns de armas e munições nos arredores de Damasco e na área de e perto de Al-Salamiyah, entre outras, numa tentativa de destruir toda a capacidade militar possível.
Em dias anteriores, tinham sido atingidas bases militares, armazéns, aviões, sistemas de radar e comunicações, centros de investigação. O que resultou na “completa suspensão das defesas aéreas” sírias.
O mesmo pode ser dito acerca da frota naval, segundo várias outras fontes. O porto de Latakia foi atacado na segunda-feira, com pelo menos seis barcos afundados e graves estragos na infraestrutura portuária, avança a Reuters. O ministro da Defesa israelita, Israel Katz, confirmou esta terça-feira que “a marinha de Israel agiu na segunda-feira à noite com sucesso destruindo a frota síria”.
Um centro de investigação em Damasco foi também destruído sob a acusação de que desenvolvia armamento avançado.
O objetivo, diz aquele governante sionista, é estabelecer uma “zona de defesa estéril, contra as ameaças terroristas de armas no sul da Síria, sem a presença contínua de Israel”. O governo de extrema-direita de Netanyahu pretende criar no país “uma realidade semelhante à que existia no Líbano e em Gaza no Líbano e em Gaza antes de 7 de outubro”, com o estabelecimento de uma zona tampão, ou seja desarmada do lado sírio, armada do lado israelita, não ficando claro sequer quais os contornos desta.
Por outro lado, as forças militares israelitas desmentiram as notícias de entrada em território sírio para além da existente zona tampão atual. Recorde-se que os montes Golã sírios estão já ocupados por Israel. As informações de várias fontes sírias tinham sido que os tanques israelitas tinham avançado até posições a cerca de 25 quilómetros da capital. Avichay Adraee, porta-voz do exército israelita, escreveu na rede social X que estas eram “totalmente falsas”.
Qatar, Iraque e Arábia Saudita tinham condenado esta violação do acordo de cessar-fogo que se seguiu à guerra de 1967. Por seu turno, Geir Pedersen, emissário especial da ONU para a Síria, instou Israel a parar com os ataques aéreos. Numa conferência de imprensa disse ser “muito inquietante constatar os ataques e movimentos israelitas no território sírio. Isto deve parar. É extremamente importante”.
Síria
Curdos na Síria: entre a esperança no futuro e a resistência aos ataques turcos
No dia em que Mohammad al-Bachir, que até agora governava Idlib sob a batuta do grupo extremista islamista Hayat Tahrir al-Sham, foi nomeado primeiro-ministro de um governo “transitório” sírio, Pedersen considerou ainda que esta organização tinha até ao momento “enviado mensagens positivas ao povo sírio de unidade, de inclusão”, sendo que “faz agora nove anos que o HTS foi considerado como um grupo terrorista pela ONU”. Avaliando contudo que é ainda preciso passar das palavras aos atos.
Países europeus aproveitam para suspender pedidos de asilo
Enquanto a situação em Damasco continua incerta, vários países europeus declararam já a intenção de suspender os pedidos de asilo que tinham em mãos de refugiados sírios.
Entre eles estão a Alemanha, a Suíça, a Noruega, o Reino Unido, a Itália, a Dinamarca, a Suécia, a Bélgica, a França e os Países Baixos. A Áustria diz mesmo que preparará expulsões.
De acordo com a agência da ONU para os Refugiados, UNHCR, na sua sigla em inglês, há 131.574 sírios na Europa ainda à espera de uma resposta. A grande maioria deles, indica a instituição, ficam agora suspensos.
À Al Jazeera um porta-voz da UNHCR defende que “a suspensão do processamento dos pedidos de asilo de sírios é aceitável, desde que as pessoas possam solicitar asilo e possam apresentar os pedidos” e que, entretanto, “os requerentes de asilo sírios que aguardam o retomar da tomada de decisões sobre os seus pedidos devem continuar a ter os mesmos direitos que todos os outros requerentes de asilo, incluindo em termos de condições de acolhimento”.
Defende-se que nenhum requerente de asilo deve ser obrigado a regressar à força “pois isso violaria a obrigação de não repulsão dos Estados”. Assim que as condições no país “fiquem claras”, a UNHCR compromete-se a fornecer normas para a proteção internacional de “perfis relevantes de sírios em risco”.