Incêndios: Este ano, Portugal tem metade da área ardida na UE

17 de agosto 2016 - 17:44

Associação de técnicos da proteção civil, que divulgou os dados, diz que estes números “não são da responsabilidade deste Governo, nem deste dispositivo operacional”, mas “de anos e anos de medidas estratégicas mal tomadas” e “decisões políticas de ordenamento florestal erradas”. Comissão parlamentar visita esta quinta-feira locais mais afetados pelos incêndios.

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Uma parte dos passadiços do Paiva destruída pelos incêndios que têm lavrado no concelho de Arouca, 11 de agosto de 2016 – Foto de José Coelho/Lusa

Segundo a Lusa, a associação portuguesa de técnicos de segurança e proteção civil (Asprocivil) analisou os dados disponibilizados pelo sistema europeu de informação de fogos florestais (EFFIS na sigla em inglês) e concluiu que, até esta terça-feira, 16 de agosto, a área ardida na União Europeia (UE) foi 218.651 hectares e em Portugal já atingia 116.833 hectares, ou seja, "em Portugal, já arderam cerca de 53,4% da área total ardida na UE".

Segundo a associação, a área ardida em 2016 está "muito acima da média dos últimos oito anos, por esta data, o número é quatro vezes maior do que a média da área ardida entre 2008 e 2015, que rondava os 25 mil hectares". Além disso, Portugal tem as percentagens mais altas dos países mediterrânicos. Por exemplo, a Espanha tem uma área ardida este ano de 24 mil hectares, inferior à média de anos anteriores e cerca de 14% da área ardida na UE.

"Não é possível a nenhum dispositivo operacional, por mais capaz, eficaz, organizado e competente que seja, [uma resposta] otimizada a um pico da dimensão evidenciado" nos números do EFFIS, salienta a Asprocivil.

Propostas da associação dos técnicos da proteção civil

A associação de técnicos da proteção civil aponta que "este problema, estes números e estas consequências, não são da responsabilidade deste Governo, nem deste dispositivo operacional, antes, de anos e anos de medidas estratégicas mal tomadas, e decisões políticas de ordenamento florestal erradas, omissas e insuficientes", além de só se falar de incêndios nos meses críticos e "exclusivamente sobre a resposta operacional".

A Asprocivil defende o aumento da capacidade de reflorestação, a criação de equipas de prevenção de incêndios florestais, em janeiro de cada ano, a aposta numa fiscalização do cumprimento da lei, que deve ser aplicada, se necessário, de uma forma coerciva, e uma rede nacional de pontos de água, que devem ser fiscalizados e ter manutenção.

Os técnicos da proteção civil defendem ainda a informação à população, a criação de incentivos à fixação das pessoas no interior e a criação de um grupo de trabalho nacional, intersetorial e pluridisciplinar, para apresentar até 31 de dezembro, um plano operacional de prevenção de incêndios e a definição de uma estratégia para um ordenamento florestal, com mecanismos de prevenção e contenção de incêndios, como aceiros, espécies mais resistentes ou redução do combustível.

Comissão parlamentar de Ambiente visita locais mais afetados pelos incêndios

Nesta quinta-feira, 18 de agosto, a comissão de ambiente, ordenamento do território, descentralização, poder local e habitação, que é presida por Pedro Soares do Bloco de Esquerda, vai visitar alguns dos pontos do país mais afetados pelos incêndios, nomeadamente, o Parque Nacional da Peneda-Gerês no concelho de Arcos de Valdevez (distrito de Viana do Castelo), S. Pedro do Sul (distrito de Viseu) e Arouca (distrito de Aveiro).

O deputado Pedro Soares manifesta-se “particularmente preocupado com os graves problemas ambientais que decorrem dos incêndios, com o papel das autarquias na gestão das manchas florestais e no apoio ao sistema de Proteção Civil, bem como com a necessidade de uma intervenção que não pode continuar a ser adiada relativamente ao ordenamento territorial, especialmente no que respeita à floresta”.

Segundo o deputado, o objetivo da visita é “perceber como está a decorrer o processo de apoio a quem ficou desalojado, também aos agricultores mais afetados, sobretudo, aqueles que têm maior necessidade de pasto para os animais e ver como se pode intervir nestes casos de forma rápida”.

Pedro Soares aponta ainda que o relatório final para análise da problemática dos incêndios florestais, elaborado em 2015, propunha um conjunto de medidas que não foram implementadas pelo anterior Governo.