Os 13 anos de Mark Rutte à frente do governo dos Países Baixos chegaram ao fim. O executivo do político conservador caiu na passada sexta-feira e esta segunda-feira anunciou que não se recandidatará ao lugar e que deixará a política.
Os quatro partidos da coligação que liderava não concordaram com um pacote de medidas sobre imigração e Rutte anunciou que a decisão de pôr fim à experiência governativa devido a “diferenças irreconciliáveis” tinha sido unânime.
Depois de dez meses de negociações para formar um governo entre VVD, o Partido do Povo para a Liberdade e a Democracia, o Democrats 66, ambos liberais, o Apelo Democrata-Cristão e a União Cristã, ambos fazendo referência ao cristianismo e pertencendo ao Partido Popular Europeu, o governo durou apenas 18 meses.
Agora, de um lado da discussão ficou o VVD e o Apelo Democrata-Cristão, que pretendiam endurecer a política migratória, nomeadamente restringindo o direito ao reagrupamento familiar aos refugiados de países em guerra, do outro os restantes, com posição contrária. Sobre este assunto, a vice-primeira-ministra, Carola Schouten, da União Cristã, declarou que “a família, que as crianças cresçam com os seus pais, é um valor fundamental para nós”.
O governo neerlandês tinha vindo a cortar os gastos no alojamento de requerentes de asilo e o ano passado começaram a multiplicar-se notícias sobre as más condições nos centros de acolhimento do país. Em agosto passado, depois de ter sido reportada a morte de uma criança, o Centro Holandês para os Refugiados denunciava situações “desumanas”, com falta de condições básicas, como água potável, duches, privacidade, alimentação adequada e cuidados de saúde, enquanto centenas de pessoas se acumulavam em acampamentos à espera de poder aceder às instalações. Os Médicos Sem Fronteiras enviaram então uma equipa para o país por causa disto.
Com esta crise política agora aberta, Rutte ficou à frente de um governo de gestão e as eleições legislativas deverão ocorrer no próximo mês de novembro.
A extrema-direita regozijou com esta queda motivada por um dos seus temas de predileção, com Geert Wilders a aproveitar para se posicionar como candidato a entrar num próximo governo: “somos o partido que pode assegurar uma maioria para restringir significativamente o fluxo de requerentes de asilo”, declarou, de acordo com o Independent.
E Caroline van der Plas, líder do partido populista e ruralista de direita, BBB, Movimento Agricultor-Cidadão, que venceu as eleições provinciais em meados de março, apressou-se a publicar uma mensagem nas suas redes sociais a dizer que as bandeiras do seu partido já estão desfraldadas.
Este partido teve apenas cerca de 1% nas eleições passadas em 2021, mas subiu espetacularmente nas eleições regionais, à boleia da revolta dos agricultores contra os planos de corte nas emissões de nitrogénio do país através da redução de cabeças de gado em um terço e da possível compra pública de quintas para depois as encerrar. Os Países Baixos têm níveis de nitrogénio no solo e na água que excedem os limites da União Europeia e o Governo tentava reduzi-los para metade depois de, pela mesma razão, ter sido obrigado a limitar as emissões antes de poder licenciar novos projetos de construção.
Num quadro político altamente fragmentado, o BBB lidera a sondagem publicada esta segunda-feira pela Euractiv com 16,8%. No campo do governo agora em queda, o VVD desceu para 14.8%, o D66 também caiu, neste caso para quase metade do que tinha antes (tem agora 7,0%), o CDA regista uma queda de semelhante amplitude (tem agora 4.2%) e a UC desceu ligeiramente par 3.0%.
Do lado das outras oposições, a extrema-direita protagonizada por Geert Wilders tem 9.2%. Os Verdes 8,5%, os Trabalhistas 6,8%, o Partido do Bem Estar-Animal 6.5%, o Partido Socialista 5.0%, havendo ainda uma outra série de partidos com menos percentagem mas ultrapassando o patamar de 0,67% que permite a entrada no Parlamento.