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Partido ruralista e populista venceu eleições provinciais nos Países Baixos

O mais recente fenómeno da política neerlandesa chama-se Boer-Burger Beweging. Com apenas quatro anos e um discurso populista e de nicho, o Movimento Agricultor-Cidadão apresentou-se como o grande vencedor das eleições provinciais desta semana que decidem também a composição do Senado dos Países Baixos. Os eleitos provinciais elegerão em maio este órgão e o partido “ruralista” deverá obter entre 16 a 17 lugares do total de 75.
Nas únicas eleições em que tinha participado até agora, em 2019, para a câmara baixa do Parlamento, o BBB tinha tido uns modestos 104.319 votos, 1%, obtendo um lugar. Agora, à boleia dos protestos dos agricultores contra o Governo, consegue uma votação bem mais expressiva, cerca de 20%.
O partido apoia as manifestações de agricultores contra os planos de corte nas emissões de nitrogénio do país através da redução de cabeças de gado em um terço e do possível compra pública de quintas para depois as encerrar. Os Países Baixos têm níveis de nitrogénio no solo e na água que excedem os limites da União Europeia e o objetivo é reduzi-los para metade. Em tribunal, grupos ambientalistas tinham ganho já processos no sentido de obrigar o Governo a limitar as emissões antes de poder licenciar novos projetos de construção.
Outra causa que este partido abraça é o fim da proibição dos neonicotinóides, inseticidas quimicamente semelhantes à nicotina, desenvolvidos pela Shell e Bayer nos anos 1980 e que têm efeitos ecológicos nocivos, afetando abelhas e aves. O conservadorismo, a posição contra as propostas de mitigação das alterações climáticas, o discurso contra a elite urbana do país e o tom eurocético compõem ainda o ramalhete ideológico dos “ruralistas”.
Nas suas declarações de vitória, na rede pública NOS, Caroline van der Plas afirmou que as eleições mostraram que o país “está farto destas políticas” e que o resultado “não é apenas acerca do nitrogénio, é acerca de cidadãos que não são vistos, não são ouvidos, não são levados a sério”. A antiga membro do Partido Democrata Cristão, de direita, e jornalista especializada em agricultura, que ajudou a fundar este movimento em 1999, pretende projetar-se a seguir para a ribalta da política nacional.
Mas essa passagem não é automática. Sendo eleições a meio do ciclo eleitoral para as legislativas, as eleições provinciais costumam ser vistas como expressão de um voto de protesto. Por exemplo, nas últimas, há quatro anos, o fenómeno tinha sido o FVD, Fórum pela Democracia, de extrema-direita e vencedor com cerca de 15%. Desta feita, o mesmo partido, com os seus 3%, deverá eleger apenas dois senadores.
Esta eleição significou ainda uma derrota da coligação governamental de quatro partidos, de centro-direita. Quem mais perdeu foi o Partido Democrata Cristão que ficou reduzido quase a metade dos lugares que tinha. Todos somados, os partidos que apoiam o primeiro-ministro Rutte deverão ter 24 lugares em vez dos atuais 32. Os trabalhistas do PvdA e os Verdes, em conjunto, deverão obter 15 lugares no Senado.
Isto obrigará o Governo a ter de optar entre uma aliança com o BBB ou com a aliança Verde-Trabalhista para fazer passar legislação no Senado. E coloca as medidas ambientais no centro do debate político no país, com estas forças políticas a exigirem um aprofundamento da transição energética, nomeadamente o encerramento das centrais elétricas a carvão em dois anos e o fim dos subsídios à indústria dos combustíveis fósseis.
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