O primeiro-ministro britânico anunciou que esta semana o Governo vai apresentar uma lei para permitir deter e deportar os imigrantes e refugiados que arriscam a vida na travessia do Canal da Mancha em pequenos barcos. Calcula-se que cerca de 60 mil pessoas façam a perigosa travessia todos os anos em busca de asilo no Reino Unido e Rishi Sunak diz-se determinado em colocar um travão às leis que protegem os direitos humanos, numa altura em que o direito ao asilo está restrito a mecanismos limitados dirigidos a quem vem da Ucrânia, Hong Kong e Afeganistão.
A contestação a este anúncio não veio apenas das organizações que defendem os direitos humanos, mas do próprio partido Conservador. Sob anonimato, um ex-ministro disse ao Guardian que "estas propostas, a acreditar nos briefings e nas fugas de informação, são uma piada e simplesmente não consigo ver como podem ser transformadas em lei. Parece uma tentativa de chegar às eleições com uma linha de demarcação clara entre nós e os trabalhistas. Propor uma lei de linha dura, vê-la bloqueada pela UE e pelos tribunais e culpar os advogados da esquerda e os trabalhistas por serem brandos quanto à imigração", explicou o ex-governante.
Outro ex-ministro conservador prevê que a iniciativa cause convulsão interna dentro do partido. "Muitos não vão querer ver detenções prolongadas, enquanto outros que serviram no exército ficarão muito desconfortáveis ao ver os camaradas afegãos rotulados de "ilegais" só porque não conseguiram chegar cá através de uma rota segura".
Para o diretor executivo do Conselho de Refugiados, "estes planos rebentam como o compromisso antigo do Reino Unido no âmbito da Convenção das Nações Unidas para dar às pessoas um julgamento justo independentemente da forma como chegaram á nossa costa. E só irá acrescentar mais despesa.e caos ao sistema", afirma Enver Solomon.
Também a Cruz Vermelha britânica afirma estar "seriamente preocupada" com o plano de Sunak, enquanto os trabalhistas o acusam de servir uma "proposta requentada" depois do anterior plano para deportar os migrantes e refugiados para o Ruanda ter sido travado pelos tribunais europeus e estar em fase de recurso na justiça britânica. Quanto ao Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, já se tinha pronunciado em dezembro sobre uma proposta semelhante avançada por um think tank conservador, dizendo que "todas as pessoas têm o direito a solicitar asilo devido à perseguição noutro país e simplesmente não existem 'requerentes de asilo ilegais'".