Educação

Falta de professores: “Ou o ministro é incompetente ou mentiu ao país”

29 de novembro 2024 - 15:01

Fernando Alexandre reconheceu ter anunciado números falsos sobre o número de alunos sem professores no primeiro período letivo. Bloco quer que o ministro vá ao Parlamento explicar “se é incompetente ou se é mentiroso”.

PARTILHAR
Fernando Alexandre
Fernando Alexandre e os números.

O ministro da Educação anunciou na semana passada que o Governo tinha conseguido reduzir em 90% o número de alunos sem professores em Portugal face ao ano passado. De imediato surgiram dúvidas sobre os números avançados por Fernando Alexandre, com o Bloco de Esquerda a denunciar a falsidade daquela afirmação.

“Dissemos que o governo estava a comparar o incomparável, que a comparação que fazia não era honesta, não era possível de ser feita e que o anúncio de que o problema estava quase resolvido claramente não era verdadeiro”, afirmou esta sexta-feira a deputada bloquista Joana Mortágua aos jornalistas, anunciando que o Bloco irá chamar Fernando Alexandre ao Parlamento para explicar “se é incompetente, se é mentiroso, e porque é que o governo andou a surfar esta propaganda quando foi avisado pela oposição de que os seus números não eram verdadeiros”. Mas também “queremos que o Governo diga o que é que está a fazer para combater a falta de professores, que afinal, como nós avisamos, não estamos a ver”, acrescentou.

“O Governo ter dito que tinha diminuído em 90% o número de alunos sem professores, sendo esse dado falso, é muito grave” e “significa que das duas uma: ou o Governo é tão incompetente, e o ministro da Educação é tão incompetente que não consegue perceber sequer a dimensão do problema da falta de professores, e se não a compreende, também será certamente incompetente para resolver; ou então o Governo usou mais uma manobra de propaganda e mentiu deliberadamente ao país sobre a falta de professores e sobre a suposta solução para a falta de professores. Qualquer uma das duas é uma má notícia para o país”, resumiu Joana Mortágua, lembrando que as afirmações falsas do ministro foram depois repetidas por outros membros do Governo e pelo próprio primeiro-ministro.

Para a deputada do Bloco, além do problema da falta de professores, soma-se outro problema que “o ministro também desvaloriza”. Trata-se de haver agora muitos milhares de professores com licenciatura mas sem formação pedagógica pra serem professores. “Isso significa que nós vamos recuar em décadas na qualidade de ensino, na qualidade de escola pública. Vamos voltar aos tempos em que bastava ter curso superior para dar aulas. Não é assim que uma escola pública de qualidade funciona”, criticou Joana Mortágua.

Governo conseguiu “uma bela capa de jornal” com afirmação falsa e a seguir entrou numa “espiral de arrogância”

Questionada sobre a versão do ministro de que foi induzido em erro pelos serviços do Ministério, Joana Mortágua respondeu que quem acompanha a situação da falta de professores nos últimos anos percebeu de imediato que “a conclusão que o Governo tirou a partir daqueles números era falsa. Era uma conclusão forçada, feita para efeitos de propaganda”.

Bolseiros nas escolas: o Ministro sabe o que está a fazer?

por

Miguel Correia

03 de novembro 2024

“O Governo estava a comparar o número de alunos sem aulas, pelo menos a uma disciplina, durante a totalidade do primeiro período, com o número de alunos sem aulas, pelo menos a uma disciplina de forma pontual, durante o primeiro período. E essa comparação não era possível de fazer”, argumenta Joana Mortágua, acusando o executivo de depois de “achar que tinha conseguido um belíssimo número de propaganda e uma belíssima capa de jornal”, ter entrado numa “espiral de arrogância” face aos alertas que de imediato se levantaram.

“Se o ministro foi induzido em erro, das duas uma: ou foi induzido em erro, se apercebeu, e continuou a mentir ao país; ou então é incompetente, porque a oposição, com os mesmos números, não foi induzida em erro”, concluiu a deputada, acusando Fernando Alexandre de vir agora tentar encontrar no diretor-geral dos estabelecimentos escolares “um bode expiatório” para o seu número de propaganda desmascarado. “Já não é a primeira vez neste governo que se tentam descartar culpas para os de baixo ou até para ninguém”, rematou.

Termos relacionados: PolíticaEducação