Europeias

“Extrema-direita é o maior problema de segurança na União Europeia”

15 de maio 2024 - 22:43

No primeiro debate a quatro nas televisões, Catarina Martins defendeu que a imigração em Portugal não é um problema de fronteiras mas de regularização de quem trabalha e desconta para a Segurança Social. E criticou o “eurocinismo” dos que na UE defendem o aumento da despesa militar e ao mesmo tempo fornecem armas para o massacre dos palestinianos.

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Catarina Martins e Tânger Corrêa
Catarina Martins e Tânger Corrêa no debate da RTP.

O tema da imigração abriu o debate televisivo de quarta-feira entre Catarina Martins, Francisco Paupério, Pedro Fidalgo Marques e António Tânger Corrêa. Coube a este último começar a responder, defendendo que Portugal tem as “portas escancaradas” à imigração e elogiando os imigrantes que vieram do Brasil por oposição aos restantes. Em seguida, Catarina Martins respondeu que atualmente o maior problema de segurança na União Europeia é “a extrema-direita  que ataca nacionalidades, que ataca mulheres, que divide povos, que é financiada por Putin e tem no Likud de Netanyahu o seu aliado”.

Contrariando a fantasia das “portas escancaradas” de Tânger Corrêa, Catarina lembrou que as fronteiras na União Europeia “estão fechadas” e a prova disso é que “o Mediterrâneo é a fronteira mais mortífera do mundo”. “Temos um problema em Portugal que não tem nada a ver com fronteiras, tem a ver com a regularização de pessoas que já estão em Portugal a trabalhar”, referindo-se às “centenas de milhares de pessoas que têm descontos para a Segurança Social em Portugal”.

“O nosso país está a explorar três vezes estes trabalhadores: são explorados pelo Estado que fica com as receitas para a Segurança Social e não lhes regulariza a situação; pelos senhorios sem escrúpulos que lhes cobram balúrdios para situações de habitação indignas; e pelas empresas que gostam desta situação”, resumiu Catarina, concluindo que o problema só se resolve “com regularização e integração, e não a fazer de conta que há uma onda descontrolada porque isso é a visão da extrema-direita e não corresponde à realidade”. Em concreto, reafirmou a proposta do Bloco para criar uma unidade de missão para regularizar os processos pendentes. Por outro lado, “não podemos permitir que quem precisa da mão de obra imigrante, seja na agricultura ou no turismo, possa depois não ter nenhuma responsabilidade nas condições de habitação dos seus trabalhadores”.

“Quando o Chega atira aos imigrantes, separando os portugueses dos imigrantes, está a fazer de conta que o problema está em quem é mais vulnerável, em quem está a dar tudo ao país e precisa de ser respeitado”, insistiu.

“O eurocinismo utiliza a Ucrânia para aquilo que sempre quis”

Outros temas em debate foram os da guerra da Ucrânia e a pressão para o aumento das despesas militares. Catarina Martins lembrou que essa “é uma intenção antiga”, nomeadamente da França e da Alemanha, pelo que hoje em dia “o eurocinismo utiliza a Ucrânia para aquilo que sempre quis”.

“Se temos na União Europeia potências nucleares, se temos um gasto em defesa maior do que a Rússia e a China, vamos mesmo aceitar os termos do debate colocados pelos EUA?”, questionou, lembrando mais um exemplo do que chamou “eurocinismo”: “temos governos da UE, como o alemão, que está a dar armas a Netanyahu e a reprimir os estudantes que se manifestam pela Palestina”.

A discussão que importa, prosseguiu Catarina, é “se queremos ou não paz e que cooperação queremos para a paz na Europa”. Pela sua parte, defendeu que “a paz tem de ser a missão agora para a UE”. E isso passa por “uma estratégia que não fique subordinada aos interesses norte-americanos nem permita o projeto czarista de Putin”, que apoia e financia a extrema-direita europeia de Salvini, Le Pen ou da AfD alemã. “Precisamos dessa estratégia de quem está do lado na paz e acabar com esse eurocinismo que permite que armamento europeu esteja a ser usado no massacre em Gaza”, sublinhou.

O “plano japonês” de Tânger Corrêa

O debate sobre segurança e defesa incluiu o momento mais inesperado do debate, quando o candidato do Chega defendeu que os países europeus estão mal preparados e em seguida invocou um alegado plano japonês para invadir os EUA na II Guerra Mundial, que os autores teriam abortado pelo facto de a população civil norte-americana estar armada.

“Tânger Corrêa tem como visão para a Europa que a Europa há-de ter uma III Guerra Mundial e que ter a população armada é boa ideia. Acho que há poucas coisas tão irresponsáveis e muito mais próprias de uma política criminosa do que de alguém que se diz um diplomata”, respondeu Catarina Martins no momento mais tenso do debate.