Eleições Europeias

Espanha: direita mobiliza retórica da “unidade nacional”, Governo testa aliança

22 de maio 2024 - 14:12

Na ressaca das eleições bascas e catalãs, estas eleições europeias em Espanha continuarão dominadas pelos temas nacionais. Com duas exceções: política agrícola e migratória.

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Bandeiras espanholas e da União Europeia em Madrid.
Bandeiras espanholas e da União Europeia em Madrid. Foto de Contando Estrelas/Flickr.

Este ano, a campanha em Espanha para as eleições europeias será essencialmente marcada pelos temas nacionais, especialmente a política de alianças. Seguem-se às eleições regionais no País Basco a 21 de Abril e na Catalunha a 12 de maio, bem como a tentativa falhada de aprovação do orçamento nacional.

Segundo as últimas sondagens anunciadas pelo jornal El País, espera-se que o Partido Popular (PP) seja a primeira força política, elegendo 23 eurodeputados (mais 10 deputados em relação a 2019), seguido pelo PSOE, que contará com 20 deputados, menos um face ao mandato anterior. O partido de extrema-direita Vox espera duplicar os seus assentos parlamentares para oito, passando de quinta para terceira força política, e o Ciudadanos desaparece por completo. Para a esquerda, as sondagens indicam que Sumar eleja três eurodeputados e o Podemos dois.

Direita espanhola aposta na narrativa da unidade espanhola

O jornal El Diario escrevia antes dos resultados que estas eleições regionais, particularmente na Catalunha, poderiam ter um efeito dominó na política nacional por determinarem a relação de forças políticas. Os partidos independentistas catalães ERC e Junts apoiam atualmente, tal como o Sumar e o Podemos, o governo de Sánchez, assente numa coligação precária e altamente atacada pela direita e extrema-direita. O PSOE foi o grande vencedor das eleições na Catalunha, mas continuará a necessitar de apoio dos partidos independentistas, pelo que a lógica de coligação nacional ainda faz sentido.

É neste contexto que o PP e o Vox têm criticado a negociação de Sánchez da amnistia política de Puigdemont (Junts), capitalizando a discussão sobre a unidade nacional, a defesa da constituição e um sentido patriota para tentar derrubar o governo.

Exemplo disso tem sido a postura de Isabel Diaz Ayuso do PP, presidente da Comunidade de Madrid, que tem conseguido roubar votos ao Vox por apostar na narrativa da unidade espanhola, acusação de violação do estado de direito e de defesa da liberdade económica.

Esta retórica será seguida durante a campanha às europeias, sendo uma continuação da estratégia utilizada pelo grupo parlamentar PPE nos últimos meses do atual Parlamento Europeu. A direita portuguesa tem apoiado esta linha, especialmente Lídia Pereira e Paulo Rangel.

Protestos dos agricultores utilizados contra progresso ambientalista

Numa campanha que será dominada pela política nacional, dois temas serão exceção: política agrícola e migratória.

As lutas dos agricultores têm sido canalizadas pelos partidos de extrema-direita um pouco por toda a UE, galvanizando uma luta legítima para contestar os progressos tímidas da política ambiental europeia. Espanha não é exceção, sendo até dos países em que os protestos tiveram maior dimensão.

As associações de defesa dos agricultores em Espanha optaram por não apresentar candidaturas às eleições europeias, sendo que algumas têm membros próximos do Vox. Segundo os analistas, este será o partido mais beneficiado pelos protestos contra as políticas agrícolas da União Europeia, os quais reclamam o fim do Green Deal europeu e a redução dos acordos de comércio livre com países terceiros, com especial destaque para os acordos recentes com a Ucrânia.

Quanto à política migratória europeia, também no centro do debate, a direita defende um fortalecimento do policiamento, opondo-se às opções do governo do PSOE, enquanto que a esquerda (Sumar e Podemos) tem criticado a política de fronteiras da UE, representadas por Josep Borrell (PSOE/S&D) como alto-representante da UE em política externa.