Uma manifestação no Martim Moniz, em Lisboa, juntou largas centenas de pessoas em solidariedade com os protestos estudantis no Bangladesh e contra a violência utilizada pelas forças de segurança bangladeshianas na passada sexta-feira. Os estudantes têm saído à rua nas últimas semanas contra o sistema de cotas para descendentes de “lutadores da liberdade” no acesso aos empregos públicos.
Desde que os protestos começaram, o Estado bangladeshiano reprimiu violentamente os manifestantes e cortou o acesso às telecomunicações, dificultando o acesso à Internet. “Não tenho conseguido falar com a minha família por telemóvel”, diz Rajiv, um dos organizadores da manifestação.
Por isso, é também difícil perceber exatamente o que se passa no Bangladesh e como é que a violência tem escalado. “A violência contra os estudantes começou nas ruas” das grandes cidades mas pode já estar dispersa pelo país, diz o organizador da manifestação. “A minha aldeia é a 300 quilómetros da capital e todos os estudantes saíram à rua”.
Bangladesh
Polícia usa violência ilegal para reprimir protestos contra cotas no emprego
Para além dessa incógnita, também não se sabe se os números sobre vítimas e detenções que estão a ser espalhados pelos media são exatos, e isso aumenta a angústia de quem está a ver tudo acontecer ao longe. “O Bangladesh tem 170 milhões de pessoas e por isso penso que as mortes possam ser mais do que uma centena”, que é a estimativa das fontes oficiais. Já para não falar nos números oficiais de detidos que, segundo o porta-voz da polícia de Daka são pelo menos 500, mas que podem ser mais pelo país inteiro.
Este domingo, o Tribunal Superior do Bangladesh voltou atrás na decisão de reimplementar as cotas que levaram aos protestos. Cerca de 30% das cotas de empregos públicos estariam destinadas aos descendentes das pessoas que lutaram pela independência do país. A medida já tinha sido abolida mas voltou a ser implementada pelo Tribunal em Junho, o que levou a uma grande contestação social.
A manifestação em Lisboa juntou pessoas de várias nacionalidades em solidariedade com a situação no Bangladesh, mas também muitos bangladeshianos, e para Rajiv isso é uma novidade. “O problema dos bangladeshianos aqui em Portugal é que não se interessam pela política. Dizem-me que vêm para cá porque não querem lutar lá”, mas apesar disso “a maioria das pessoas cá está a apoiar estes protestos”.
Em alguns sítios, no entanto, as manifestações em solidariedade com os estudantes estão a ser reprimidas. Nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo 57 cidadãos do Bangladesh foram condenados a penas de até dez anos por se terem manifestado contra o Governo do seu país em território dos Emirados, onde as manifestações são proibidas.