Os trabalhadores da EDP têm agendada nova greve nacional e protesto para o próximo dia 10 de abril, que, à semelhança da paralisação na empresa em janeiro, volta a juntar o conjunto das organizações sindicais presentes na empresa. Esta jornada de luta acontece na sequência da recusa da administração em negociar a atualização salarial para 2024, tendo imposto unilateralmente um valor muito abaixo daquilo é pedido pelos trabalhadores.
Em dia de Assembleia Geral de Acionistas, os trabalhadores estarão concentrados em protesto em frente à sede da empresa, na Av. 24 de Julho, em Lisboa. A concentração será antecedida de um desfile, com início marcado para as 11h na Praça do Comércio. Para a noite do dia anterior, está também a ser preparada uma vigília em frente à sede da EDP e que dará início à jornada de protesto.
As reivindicações dos trabalhadores estão centradas na valorização salarial justa para 2024, depois de uma longa estagnação dos salários e dos efeitos da não revisão do Acordo Coletivo de Trabalho que vigora desde 2014. Em comunicado, a Fiequimetal, federação de sindicatos do setor afetos à CGTP, afirma que esta é uma forma de "levar o protesto à assembleia de acionistas". Também o Sindicato das Industrias, Energia e Águas de Portugal (SIEAP) assinala a importância de uma "ação enérgica de protesto no próximo dia 10 de abril", acusando os acionistas de se preparar para decidir, nesta assembleia geral, a subida dos dividendos por participação e o aumento em 15% dos salários dos administradores.
A EDP divulgou recentemente lucros de 952 milhões de euros em 2023, uma subida de 40% face ao ano anterior. Valor que se soma aos 1.100 milhões de lucros em 2021 e outro tanto em 2022, dois anos em que os acionistas distribuíram dividendos no valor de mais de 1.500 milhões de euros.
Tendo em conta os resultados da empresa, a indisponibilidade da administração para acolher as reivindicações ou sequer dialogar tem vindo a fazer crescer a indignação dos trabalhadores. Após a entrega de uma Carta Reivindicativa em outubro, que foi ignorada pela gestão da empresa, os trabalhadores estão em greve ao trabalho extraordinário desde o passado dia 1 de dezembro. Apesar dos efeitos que se vão sentido em resultado desta greve às horas extra e da forte mobilização da greve nacional em janeiro, a postura da administração não se alterou e até se agravou. No passado dia 25 de março, numa decisão que os sindicatos consideram à margem da lei, a administração impediu mesmo a realização de um plenário online no horário inicialmente previsto (no início do horário de trabalho). Esse plenário acabou por se realizar em horário pós-laboral, tendo juntado cerca de quatro centenas de trabalhadores.
"EDP não nos demoverá"
Bruno Saramago, dirigente do SIEAP e trabalhador da EDP, em declarações ao Esquerda.Net, considera que a administração da empresa está guiada pela "visão única do lucro desmedido". Afirmando que "a situação salarial na EDP expressa o que de pior existe na precarização" em curso no mundo do trabalho, explica que a degradação salarial é tão acentuada que as novas contratações têm de ser feitas por valores de referência de remuneração superiores aos de quem já trabalha há vários anos na empresa.
Este dirigente sindical assinala que se vive um clima de mobilização e que a tentativa de impedir o plenário no passado dia 25 de março, que classifica como "tentativa de sabotagem às estruturas representativas dos trabalhadores", apenas "despertou ainda mais o sentimento de união, companheirismo e de protesto face à censura". Confiante numa forte jornada de luta da próxima semana, considera que vai "demonstrar claramente à administração da EDP que não nos demoverá de exigir uma negociação real e aumentos salariais justos".