Faltam “27 dias para construir uma vitória que seja o início de uma viragem política no país”. Esse foi o mote inicial da intervenção de Mariana Mortágua no comício “Fazer o que nunca foi feito” este sábado no Mercado das Culturas em Lisboa.
Ao longo deste tempo, “a esquerda tem que se erguer à altura das dificuldades e mostrar que quer ganhar”, defende o Bloco, e “só o merecemos se for para virar a página desta crise social e desta governação ao serviço de privilégios”. Mas “a direita só é derrotada se o Bloco for determinante na viragem das políticas. Se o Bloco crescer, haverá nova maioria”, acredita.
A coordenadora do Bloco criticou então as maiorias absolutas porque “degradaram Portugal” e “o poder absoluto deixou uma marca de incompetência, de arrogância, de desinteresse pelas pessoas, de desprezo por quem trabalha, de abandono dos serviços públicos e de instabilidade máxima”.
A última, a do PS, “criou uma crise política em cima da crise social, destruiu recursos na vertigem de acumular excedentes orçamentais e tornou as soluções mais difíceis” e deixou as urgências hospitalares chegarem a vinte horas de espera ou a renda de um apartamento de 100m2 em Lisboa atingir os 1900 euros”. Mas a responsável política não se esqueceu da direita “que cortou o subsídio de Natal”.
Nestas eleições, as prioridades do Bloco são o acesso à saúde, a garantia da escola de qualidade e o direito a uma casa para viver, pretendendo-se “garantir hospitais abertos e equipas de medicina familiar”, “dar à escola pública a atenção que ela merece”, “baixar o preço das casas”. E o slogan que deu título ao comício foi apresentado como a recordação de um país que “já ousou fazer o que nunca foi feito e venceu” através de “uma geração que do nada construiu o SNS e a escola pública”.
A “chuva de cheques” da direita
Esta vontade ergue-se contra as “três panelas com a mesma receita” que são “os programas do Chega, da Iniciativa Liberal e do PSD”, partidos de uma direita que “não tem uma única solução de futuro e arrasta consigo um passado de destruição”.
Nestas eleições, estes partidos “acham que tudo se resolve com cheques, uma chuva de cheques”. Enunciando-se o cheque-dentista, o cheque-formação e o cheque-cirurgia “e ainda um voucher para consultas de especialidade”, propostos pelo PSD. Ou cheque-creche, “copiado da IL”, o cheque-dentista, “copiado da AD”, o cheque-veterinário, o cheque-unidade residencial para idosos, “já os cuidadores ficam-se com um simples vale” e o cheque saúde mental do Chega.
Os cheques vêm assim “em vez de serviços de saúde de qualidade”, de “escolas com professores”, “de casas que as pessoas possam pagar” e são “para as construtoras”, “para os intermediários”, “para os grupos milionários da saúde”, “para os fundos imobiliários”, no que é apresentado como um “banquete de amigos e clientelas que dependem do desastre da saúde e da educação para venderem os seus serviços a peso de ouro”.
No caso da saúde, como mostrou no debate com Luís Montenegro, Mariana Mortágua explica que os privados iriam “usar o dinheiro dos cheques para continuar a drenar os médicos e enfermeiros do SNS” fazendo crescer os problemas deste e ao mesmo tempo enriquecendo “os acionistas do negócio da saúde”. Na educação, lembra que “o cheque-ensino foi inventado para tentar salvar projetos empresariais medíocres, sem qualidade ou viabilidade”. Na habitação, “a ideia de um cheque para a entrada da casa é o maior de todos os engodos”. Até porque “o preço das casas vai subir para absorver esse apoio” que “afinal é só um empréstimo”, acabando as pessoas por “ficar com uma dívida maior e com uma prestação mais elevada”.
O programa do PS “não será o programa do próximo governo”
A dirigente bloquista apontou críticas também ao Partido Socialista que apenas amanhã apresentará o seu programa eleitoral mas que ela antecipa que “não será o programa do próximo governo” porque este “será o fruto de um encontro de posições, de uma negociação difícil, mais difícil do que a da geringonça, mas imperativa porque é o caminho de soluções mobilizadoras e concretizáveis”.
No caso da saúde, “a responsabilidade que mobilizará o voto” são “as soluções que o PS recusou e voltou a recusar até deixar as urgências encerradas ou serviços sem especialistas” e que passavam pelas questões de melhorias salariais, de condições de trabalho e autonomia.
No da educação, há “uma maioria popular que quer uma escola pública de qualidade” e criticam-se os “zigue-zagues do PS que culminaram no momento embaraçoso em que o ministro da Educação, já com o Governo demitido, veio reconhecer que afinal tinha dinheiro para respeitar o tempo de serviço dos professores”. Isto duas semanas depois deste partido ter chumbado a proposta do Bloco nesse sentido.
Já no tema da habitação, sublinha-se que “é preciso inverter as políticas erradas da maioria absoluta” que aumentaram o preço das casas com as sobre Alojamento Local, novos hotéis, “benefícios aos fundos imobiliários” e “privilégios a não residentes milionários”.
Uma “aliança popular”
Para terminar, a dirigente partidária afiançou que a maioria de que fala, e que considera necessária para “a viragem da política, é uma aliança”. Com isto não quer dizer uma aliança entre partidos mas uma “aliança popular”: “entre todos os profissionais de saúde que querem os melhores hospitais e centros de saúde”, “entre professores e auxiliares esforçados e alunos curiosos, entre escolas e comunidades, entre arte e cultura”, “pela segurança social, que inclui imigrantes, em que quem trabalha paga as pensões de quem já trabalhou”, “pela habitação, para que todos possam viver nas suas casas, no seu bairro, sem que uma Disneylândia os expulse, sem que o turismo esvazie as cidades”.
Esta “responde a cada pessoa que sente a sua vida parada, o salário curto para demasiado tempo de trabalho, a angústia do futuro” e pretende “resgatar as vítimas da maioria absoluta, convocar a força da esperança, juntar quem não desiste da sua gente”, concluiu.