Diminuição da vacinação levou a aumento de doenças evitáveis, diz OMS

26 de abril 2025 - 18:24

Cortes ao financiamento, desinformação e crises humanitárias têm comprometido um trabalho de vacinação que se estima ter salvo mais de 150 milhões de vidas ao longo de cinco décadas. Agora, regista-se aumento de doenças como sarampo, meningite e febre amarela.

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Vacinação contra a poliomielite em Gaza.
Vacinação contra a poliomielite em Gaza. Foto da OMS.

Por ocasião da semana mundial da vacinação, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, veio alertar esta quarta-feira que os cortes financeiros, a desinformação e a multiplicação de crises humanitárias são alguns dos fatores que têm vindo a colocar em causa campanhas de vacinação.

O responsável lembrou ainda que doenças como o sarampo, a meningite e a febre amarela estão a aumentar e que as vacinas salvaram mais de 150 milhões de vidas nas últimas cinco décadas.

Ghebreyesus pensa assim que os avanços “duramente ganhos” nos últimos tempos estão “em perigo” já que “as epidemias de doenças evitáveis com vacinas estão a aumentar em todo o mundo, colocando vidas em risco e expondo os países a custos crescentes no tratamento destas doenças e na resposta às epidemias”.

A OMS, a Unicef e a GAVI, Aliança Mundial para as vacinas e a imunização, lançaram um comunicado conjunto no qual destacam que há um “regresso particularmente perigoso” do sarampo. Em 2023, o número de casos desta doença atingiu os 10,3 milhões, um aumento de 20% relativamente ao ano anterior. Já no último ano, 138 reportaram casos de sarampo, com 61 deles a indicar terem sofrido epidemias significativas.

Documenta-se ainda um aumento de meningites e febre amarela, nomeadamente em África. Nos primeiros três meses deste ano foram reportados mais de 5.500 casos de meningite dos quais resultaram cerca de 300 mortes em 22 países africanos. No total, em 2024, tinha havido 26.000 casos e quase 1.400 mortes em 24 países. No ano passado, registaram-se 124 casos de febre amarela em 12 países.

“Crise global de financiamento”

A pandemia de Covid-19 comprometeu as campanhas de vacinação em muitos países. Mas os atrasos não estão a ser compensados. Os números apresentados por estas organizações apontam para um aumento contínuo das crianças que não tiveram acesso à vacinação de que precisavam. Em 2019, foram 12,9 milhões; em 2022, foram 13,9 milhões; em 2023 foram 14,5 milhões.

Catherine Russell, da Unicef, diz mesmo que os “retrocessos” a que assistimos hoje são “semelhantes aos do período da Covid”, referindo uma “crise global de financiamento” que “está a limitar gravemente a nossa capacidade de vacinar mais de 15 milhões de crianças vulneráveis contra o sarampo em países frágeis e afetados por conflitos”. Acrescenta ainda que “os serviços de vacinação, de vigilância de doenças e de resposta a pandemias já estão afetados em quase 50 países”.