Desflorestação na Amazónia brasileira aumentou 85% num só ano

16 de janeiro 2020 - 8:31

Comparando os dados de dezembro de 2019 com os de dezembro de 2018, a desflorestação na Amazónia aumentou 183%. Bolsonaro tem estado no centro de várias polémicas, sendo acusado por organizações ambientalistas de não tomar qualquer medida para combater a desflorestação, os focos de incêndio ou proteger a Amazónia como um todo.

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Imagem aérea de queimadas na Área de Proteção Ambiental Jamanxim na cidade de Novo Progresso, Estado do Pará. (Foto: Victor Moriyama / Greenpeace)
Imagem aérea de queimadas na Área de Proteção Ambiental Jamanxim na cidade de Novo Progresso, Estado do Pará. (Foto: Victor Moriyama / Greenpeace)

A desflorestação na parte brasileira da Amazónia chegou aos 9166 quilómetros quadrados no ano passado, o que significa um aumento de 85% em relação a 2018. Os dados são do Instituto Nacional de Investigação Espacial (INPE) e referem-se ao primeiro ano da presidência de Bolsonaro.

Comparando os dados de dezembro de 2019 com os de dezembro de 2018, a desflorestação na Amazónia aumentou 183%, segundo dados do Sistema de Deteção de Desmatamento em Tempo Real (DETER), desenvolvido pelo INPE. Em julho e agosto de 2019, registou-se um aumento da desflorestação de 278% e 222% face aos meses homólogos, respetivamente.

Em 2018, o DETER observou 4946 quilómetros quadrados de floresta desmatada, com base em alertas de desflorestação identificados por satélite.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo, tendo a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Com cerca de 5,5 milhões de quilómetros, inclui territórios do Brasil (a maior parte, cerca de 60%), do Peru, da Colômbia, da Venezuela, do Equador, da Bolívia, da Guiana, do Suriname e de França (Guiana Francesa).

A política ambiental e Bolsonaro

A política ambiental tem sido uma questão muito polémica durante a presidência de Bolsonaro, que desvalorizou o aumento dos incêndios florestais na Amazónia (parte do Brasil) e acusou a França de tentar retirar a soberania do país. Sem apresentar qualquer prova, o atual presidente do Brasil foi mais longe, acusando o ator Leonardo DiCaprio de ser um dos responsáveis pelas queimadas.

Através de um vídeo, disse: “O pessoal da ONG, o que eles fizeram? O que é mais fácil? Botar fogo no mato. Tira foto, filma, a ONG faz campanha contra o Brasil, entra em contacto com o Leonardo DiCaprio, e o Leonardo DiCaprio doa 500 mil dólares para essa ONG”. Em jeito de conclusão, afirmou ainda peremptoriamente que “DiCaprio está colaborando aí com a queimada na Amazónia”.

Estas acusações tiveram eco imediato na imprensa internacional e DiCaprio respondeu às afirmações de Bolsonaro: “Embora dignas de apoio, não financiamos as organizações citadas.”

“Neste momento de crise para a Amazónia, apoio o povo do Brasil que trabalha para salvar o seu património natural e cultural”, afirmou, acrescentando que continua "comprometido em apoiar as comunidades indígenas brasileiras, governos locais, cientistas, educadores e as pessoas que estão a trabalhar incansavelmente para garantir a Amazónia para o futuro de todos os brasileiros.”

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

At this time of crisis for the Amazon, I support the people of Brazil working to save their natural and cultural heritage. They are an amazing, moving and humbling example of the commitment and passion needed to save the environment. The future of these irreplaceable ecosystems is at stake and I am proud to stand with the groups protecting them. While worthy of support, we did not fund the organizations targeted. I remain committed to supporting the Brazilian indigenous communities, local governments, scientists, educators and general public who are working tirelessly to secure the Amazon for the future of all Brazilians.

Uma publicação compartilhada por Leonardo DiCaprio (@leonardodicaprio) em

Em agosto de 2018, o ex-presidente do INPE, Ricardo Galvão, foi demitido pelo governo sob a acusação de exagerar na escala de desflorestação no Brasil. Esta exoneração causou forte repercussão na comunidade científica, tanto brasileira como internacional. Bolsonaro sugeriu que Galvão estaria "ao serviço de alguma organização não-governamental (ONG)”. No fim do ano, o mesmo cientista foi distinguido como um dos 10 cientistas mais importantes do ano pela revista britânica Nature.

Esta terça-feira, a ONG Human Rights Watch (HRW) divulgou o seu relatório anual, criticando a atual política ambiental do Brasil, afirmando que os planos do governo Bolsonaro “deram luz verde às redes criminosas que praticam atividades ilegais, exploração madeireira na Amazónia e usam intimidação e violência contra indígenas, residentes locais e agentes ambientais que tentam defender a floresta tropical”.

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A organização acrescentou que “sem nenhuma evidência, o Governo incriminou as ONG pelos incêndios na Amazónia, enquanto falhou na luta contra grupos criminosos que desflorestam e queimam a floresta para instalar campos e pastagens no seu lugar”.

Também a Greenpeace acusou Bolsonaro de encorajar crimes ambientais, afirmando que as palavras do presidente brasileiro “causam um embaraço internacional e encorajam as pessoas que estão dispostas a praticar crimes ambientais na Amazónia”.

Em entrevista à agência Lusa, um biólogo e membro da campanha pela Amazónia da Greenpeace Brasil afirmou que não é coincidência o agravamento dos problemas da Amazónia nos primeiros meses do mandato presidencial de Jair Bolsonaro.

"Bolsonaro tem um papel fundamental nos problemas que a Amazónia vem atravessando nos últimos tempos. Já faz quase oito meses que está no poder e até agora não vimos nenhuma medida tomada por este Governo para combater a desflorestação, os focos de incêndio ou para proteger a Amazónia como um todo”, disse Rômulo Batista.

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