Em entrevista à agência Lusa, um biólogo e membro da campanha pela Amazónia da Greenpeace Brasil diz que não é coincidência o agravamento dos problemas da Amazónia nos primeiros meses do mandato presidencial de Jair Bolsonaro.
"Bolsonaro tem um papel fundamental nos problemas que a Amazónia vem atravessando nos últimos tempos. Já faz quase oito meses que está no poder e até agora não vimos nenhuma medida tomada por este Governo para combater a desflorestação, os focos de incêndio ou para proteger a Amazónia como um todo”, afirmou Rômulo Batista.
O ambientalista não tem dúvidas de que "as atitudes de Bolsonaro potencializam a desflorestação”. E dá exemplos: “A retórica que assumiu foi de desmantelamento da política ambiental do país. Tem feito algumas declarações, como a de não querer criar nenhuma reserva indígena, a de que já existem muitas unidades de conservação, a de que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) é uma indústria de multas”.
"Todas estas declarações causam um embaraço internacional e encorajam as pessoas que estão dispostas a praticar crimes ambientais na Amazónia. Ouvem o presidente como se fosse uma licença para praticar a desflorestação, assim como as queimadas que estão a ocorrer", declarou a organização não-governamental (ONG).
O biólogo defende que a comunidade internacional deve colocar pressão econíomica sobre o Brasil, recusando a imprtação de produtos provenientes de áreas desflorestadas. "Seria importante que os países mandassem as suas empresas não aceitar produtos que venham de áreas desflorestadas. Que só aceitem produtos livres de desflorestação, livres de problemas sociais brasileiros, livres de invasões indígenas, tentando colocar uma pressão económica sobre a industria brasileira, para que as empresas do Brasil, que praticam esses crimes, se comprometam a parar", afirmou Rômulo Batista à Lusa.
No primeiro semestre de 2019, a área desflorestada da Amazónia cresceu 212% em relação ao ano anterior, um número que subiu para 278% em julho. No passado dia 28 de agosto, Jair Bolsonaro assinou um decreto a proibir queimadas no país durante 60 dias. Mas os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, nas primeiras 24 horas após a assinatura, o número de focos de queimadas aumentou 106% na região, indica a Greepeace Brasil.
“Esses números são a evidência mais concreta de que não será por decreto que Bolsonaro controlará a onda de fogo que varre a Amazónia”, diz Danicley de Aguiar, da campanha de Amazônia do Greenpeace. “Tão importante quanto controlar os incêndios, seria o governo Bolsonaro decretar o fim da agenda anti-ambiental que ele mesmo vem promovendo desde que assumiu seu mandato”, contrapõe o ativista.