A diretora executiva do Centro Padre Alves Correia (CEPAC), Ana Mansoa, revelou em entrevista à Rádio Renascença que, em março de 2024, uma criança nepalesa de nove anos foi agredida por cinco colegas de escola, tendo uma sexta criança filmado o espancamento. Posteriormente, a agressão prosseguiu com a partilha dos vídeos num grupo de WhatsApp de alunos. A motivação da agressão foi racista e xenófoba.
“O filho de uma senhora acompanhada pelo CEPAC, que tem nove anos, e que é uma criança nepalesa, foi vítima de linchamento no contexto escolar por parte dos colegas. Foi filmado e divulgado nos grupos do WhatsApp das crianças” afirmou Ana Mansoa, acrescentando que a motivação foi racista e xenófoba, tendo a criança sido insultada com “nomes que não posso proferir”, a que se somaram frases como “vai para a tua terra”, “tu não és daqui”, “não queremos nada contigo” e “mais coisas que não posso dizer”.
RACISMO
“Quem gosta de Portugal não quer que seja um país de violência contra imigrantes”
“Foi muito grave e com um impacto muito grande, não só no bem-estar físico, mas também emocional e psicológico desta família, que acabou por pedir transferência da escola e acabamos por conseguir concretizá-la para a segurança da criança” referiu a técnica do CEPAC.
A criança agredida ficou com “hematomas pelo corpo todo” e “feridas abertas” que “acabaram por ser tratadas pela mãe porque teve medo e quis evitar ir a um hospital ou centro de saúde.”
A criança de nove anos foi mudada de escola e permanece com sequelas psicológicas: “O menino acorda de noite com pesadelos e a chorar, não quer ir para a escola”.
Segundo Ana Mansoa, a escola não denunciou o caso às autoridades e a abordagem adotada foi “muito insuficiente para a gravidade dos factos”, tendo uma das crianças sido suspensa três dias.
“Não é com a polícia em cada recreio que vamos combater o racismo”
Mariana Mortágua falou aos jornalistas ao final da tarde, já depois de a ministra da Administração Interna ter anunciado que pretende reforçar a presença policial nas escolas. “Não é com reforço policial, e certamente não é com a polícia em cada escola, em cada recreio, que vamos combater o racismo. Vamos combater o racismo e este tipo de agressões, desde logo com uma capacidade de educação antirracista nas escolas”, afirmou.
A coordenadora bloquista disse que considera esta situação “particularmente grave”, não só porque a escola não denunciou o caso e só se sabe dele dois meses depois de ter ocorrido, mas sobretudo “porque os pais da criança não sentiram segurança suficiente para levar esta criança a um hospital para poder ser tratada”.
“E é grave também porque esta agressão nesta escola acontece numa altura em que sentimos o ambiente em que aumenta a violência racista e em que aumenta a violência xenófoba”, prosseguiu Mariana Mortágua, defendendo que “é preciso garantir que nas escolas portuguesas há uma educação contra o racismo, há uma capacidade de inclusão e de integração”.
Bloco questiona Governo
Fabian Figueiredo e Joana Mortágua dirigiram hoje uma pergunta escrita ao Ministério da Ministério da da Educação, Ciência e Inovação onde consideram que é necessário esclarecer “não só esta situação grave que ocorreu em ambiente escolar, como também agir para proteger todas as crianças e todos os jovens que frequentam as nossas escolas.”
“O aumento do número de trabalhadores imigrantes em Portugal trouxe às nossas escolas crianças e jovens de várias nacionalidades”, refere o Bloco, acrescentando que “o dever da Escola para com estes menores é igual ao que tem para com os demais alunos, proporcionando-lhes um ambiente de aprendizagem, de desenvolvimento pessoal e social e de segurança e bem-estar físico e psicológico. E isto implica proteger as crianças contra a xenofobia e o racismo que, infelizmente, têm forte presença na nossa sociedade”.
Os deputados bloquistas pretendem aferir quais as diligências o Ministério da Educação, Ciência e Inovação tomou ou vai tomar junto da Escola em causa, bem como quais as medidas que vão ser desencadeadas para “promover um ambiente escolar seguro e livre violência racista e xenófoba”.
Notícia atualizada às 18h50 com as declarações de Mariana Mortágua.