Cresce o apoio e a solidariedade com trabalhadores da Linha de Saúde 24

28 de janeiro 2014 - 14:51

Mais de 30 figuras públicas de diferentes setores subscrevem carta na qual sublinham que os despedimentos na Linha de Saúde 24 são um “ataque à democracia”. CGTP já emitiu um comunicado no qual manifesta o seu apoio aos trabalhadores deste serviço. Ordem dos Enfermeiros pede esclarecimentos ao Ministério da Saúde.

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Foto retirada da página de facebook de Apoio aos Trabalhadores da Linha de Saúde 24.

Numa carta[i] subscrita por mais de 30 pessoas, entre as quais António Arnaut (advogado e responsável pela criação do Sistema Nacional de Saúde), António-Pedro Vasconcelos ( realizador), Fernando Rosas (historiador), Pedro Abrunhosa (músico), José Luís Peixoto (escritor), Viriato Soromenho-Marques (professor universitário) e Mário Jorge Neves (médico e dirigente do SMZS), é manifestado o apoio aos trabalhadores da Linha de Saúde 24 face aos despedimentos recentemente ocorrido, que são, segundo os subscritores, “um ataque à democracia que tem de ser repudiado”.

Os signatários referem que esta ação por parte da administração da empresa “é um ataque não apenas a estes trabalhadores, mas a toda a cidadania, e uma ameaça à democracia, porque viola o direito à livre expressão e organização”. “Enquanto cidadãos e cidadãs livres não podemos aceitar esta situação”, frisam.

“Não se podem tolerar retaliações sobre o exercício de direitos democráticos elementares, que representam um retrocesso histórico grave e flagrante. A situação que ocorre neste momento na Linha Saúde 24 representa um regresso ao passado, inviabilizando o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde pela vontade de uma administração privada que não respeita os direitos dos enfermeiros, quer enquanto trabalhadores, quer enquanto cidadãos, punindo a sua tentativa de organização e defesa como se essa fosse um crime. É urgente defender a democracia, defendendo para isso as pessoas que trabalham na Linha Saúde 24”, avançam.

Ordem dos Enfermeiros pede esclarecimentos ao Ministério da Saúde

Em comunicado de imprensa, a Ordem dos Enfermeiros (OE) refere que “as condições de subcontratação dos serviços da Linha Saúde 24 por parte do Ministério da Saúde, determinadas por critérios economicistas, não podem colocar em causa nem a acessibilidade ao serviço por parte dos cidadãos, nem a qualidade da resposta, nem mesmo as condições de exercício dos profissionais”. A OE sublinha ainda que “considera muito preocupante que o Ministério da Saúde não tenha salvaguardado no contrato realizado situações de instabilidade da equipa de Enfermagem, a ausência de hierarquia e a maturidade profissional necessárias à segurança dos serviços prestados à população”.

“É do conhecimento público que a área da saúde estabelece contratos em outsourcing, que implicam a contratação de profissionais de saúde, muitas vezes a um custo que pode colocar em causa a diferenciação profissional indispensável e necessária para dar resposta aos problemas dos cidadãos, fragilizando todo este processo”, lê-se no documento assinado pelo Bastonário da Ordem dos Enfermeiros, Enf. Germano Couto.

A Ordem dos Enfermeiros frisa que “não deixará, em momento algum, que os cidadãos sejam impedidos de receber cuidados seguros de acordo com o enquadramento legalmente instituído para o exercício da profissão de Enfermagem, bem como não permitirá que se violem os princípios consagrados no que se refere aos direitos dos enfermeiros de usufruírem de condições de trabalho que garantam o respeito pela deontologia da profissão e pelo direito do cidadão a cuidados de Enfermagem de qualidade”, adiantando que pretende “pedir esclarecimentos ao Ministro da Saúde e está disponível para reunir com a administração da Linha, caso a mesma assim o solicite formalmente”.

CGTP manifesta a solidariedade aos trabalhadores

A CGTP-IN manifestou a sua solidariedade aos trabalhadores da Linha de Saúde 24, “reafirmando apoio à sua luta”, que também é a sua luta contra esta política, “que está a pôr em causa a qualidade do emprego, a aumentar a exploração e as desigualdades e a degradar o Serviço Nacional de Saúde”.

“É inadmissível que o Governo tenha concessionado um serviço público a uma empresa privada, com a agravante da respetiva adjudicação ter sido efetuada pelo critério do valor mais baixo à referida empresa que, para manter a sua margem de lucro, quer impor uma redução salarial no valor hora a pagar aos trabalhadores”, avança a intersindical.

Defendendo que “estamos perante uma situação ilegal”, com a agravante de que os trabalhadores se encontram em regimes precários há vários anos, a CGTP defende que a Linha de Saúde 24 deve ser integrada no setor público administrativo e os vínculos dos seus trabalhadores regularizados e salvaguardados, quanto antes.

 



[i] "Despedimentos na Linha Saúde 24 são um ataque à democracia

A Linha Saúde 24 é um serviço de atendimento telefónico, integrado no Serviço Nacional de Saúde. Disponibiliza um aconselhamento rápido e qualificado, permitindo o melhor funcionamento do sistema público no seu conjunto e permite dotar os cidadãos de ferramentas importantes para o auto-cuidado e decisão acertada. É reconhecido como exemplo na capacidade de triagem e encaminhamento, atenuando a pressão sobre os serviços de urgência. Com dois centros de atendimento, em Lisboa e no Porto, este serviço público é assegurado por cerca de 400 trabalhadores, na sua maioria enfermeiros e enfermeiras, através da empresa LCS - Linha de Cuidados de Saúde.

Desde Dezembro de 2013, existe na LCS um conflito laboral resultante de uma tentativa de redução salarial entre os 40-45% por parte da concessionária deste serviço. Esta redução foi amplamente rejeitada. No passado dia 4 de Janeiro, os trabalhadores da Linha Saúde 24 realizaram um dia de paralisação, com uma adesão quase total.

Uma semana e meia depois, a administração da empresa despediu sumariamente 16 trabalhadores, sem aviso prévio nem justificação. Entre os despedidos, contavam-se vários dos trabalhadores que, em Lisboa e no Porto, têm representado publicamente a reivindicação colectiva. Mais do que o despedimento há um impedimento imediato de aceder ao posto de trabalho.

Estes 16 despedimentos não foram inéditos, e anunciaram-se mais retaliações, perfazendo já mais de 115 pessoas dispensadas. Esta acção da administração da empresa é um ataque não apenas a estes trabalhadores, mas a toda a cidadania, e uma ameaça à democracia, porque viola o direito à livre expressão e organização. Enquanto cidadãos e cidadãs livres não podemos aceitar esta situação.

Não se podem tolerar retaliações sobre o exercício de direitos democráticos elementares, que representam um retrocesso histórico grave e flagrante. A situação que ocorre neste momento na Linha Saúde 24 representa um regresso ao passado, inviabilizando o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde pela vontade de uma administração privada que não respeita os direitos dos enfermeiros, quer enquanto trabalhadores, quer enquanto cidadãos, punindo a sua tentativa de organização e defesa como se essa fosse um crime. É urgente defender a democracia, defendendo para isso as pessoas que trabalham na Linha Saúde 24.

Adélia Pinhão, médica e dirigente do SMZS
Ana Campos, directora do serviço de obstetrícia da Maternidade Alfredo da Costa
Ana Rita Cavaco, enfermeira
António Arnaut, advogado e responsável pela criação do Sistema Nacional de Saúde
António Chora, Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa
António-Pedro Vasconcelos, realizador
António Mariano, dirigente do Sindicato dos Estivadores do Centro e Sul
Artur Ramon Rocha de La Feria, médico e dirigente do SMZS
Bruno Noronha Gomes, enfermeiro
Camilo Azevedo, Comissão de Trabalhadores da RTP
Cipriano Pisco, ex-dirigente sindical do sector metalúrgico
Delberto Aguiar, médico e dirigente do SMZS
Diana Póvoas, médica e dirigente do SMZS
Francisco Alves, Conselho Nacional da CGTP
Francisco Raposo, sindicalista do STML
Fernando Rosas, historiador
Guida da Ponte, médica e dirigente do SMZS
Jorge Domingos Nogueira, médico e dirigente do SMZS
Jorge Espírito Santo, médico e dirigente do SMZS
Jorge Leite, professor universitário (jubilado) da FDUC e especialista em Direito do Trabalho
José Luís Peixoto, escritor
Manuela Silva, médica psiquiátrica
Manuel Carvalho da Silva, investigador e professor universitário
Manuel Loff, historiador
Manuel Martins, Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa
Mário Jorge Neves, médico e dirigente do SMZS
Pedro Abrunhosa, músico
Pilar Vicente, médica e dirigente do SMZS
Raquel Varela, investigadora
Sara Simões, Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis
Sara Ferreira, médica e dirigente do SMZS
Tiago Gillot, Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis
Viriato Soromenho-Marques, professor universitário"