O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda enviou, na passada segunda-feira, um conjunto de perguntas dirigidas ao ministério da Saúde sobre a denúncia da Associação Portuguesa dos Médicos Dentistas dos Serviços Públicos (APOMED) que aponta para 32 gabinetes de medicina dentária parados por falta de profissionais médicos.
Os 32 gabinetes “podiam ter realizado, só entre janeiro e agosto deste ano, cerca de 30 mil consultas”, frisa o Bloco de Esquerda com base nos dados fornecidos pela APOMED. Isto num país onde 26,9% dos portugueses nunca vão ao médico dentista senão em situações de urgência e uma das principais razões é a falta de dinheiro, segundo o Barómetro Saúde Oral.
Face a esta denúncia, o grupo parlamentar do Bloco de Esquerda considerou incompreensível que num país com tantas carência na área da saúde oral, se desperdicem dezenas de milhares de consultas por não se contratar os profissionais necessários. “Como é possível que se desperdice dinheiro público em equipamentos que depois não são utilizados por falta de profissionais? Como se pode dizer à população que vai continuar sem acesso a saúde oral ou que vai ter de continuar a fazer um esforço financeiro do seu próprio bolso quando no SNS existem gabinetes equipados, mas que não funcionam porque não se contratam médicos dentistas?”, lê-se no documento a que o Esquerda teve acesso.
O Bloco salienta que sempre alertou para os perigos de investir em equipamento sem investir em profissionais de saúde, que culminam na ineficácia das políticas de saúde. “Ter gabinetes vazios não resolve nada e eles vão continuar vazios se não houver contratação de profissionais e a criação de condições para essas mesmas contratações”
A APOMED partilha as mesmas preocupações. Ao Público, a associação admitiu que a contratação de profisisonais sempre foi complicada, mas que a queda do anterior Governo e a extinção das administrações regionais terão aprofundado o problema. Para além disso, o facto de não haver uma carreira para os médicos-dentistas no SNS dificulta ainda mais a contratação.
Por isso, o Bloco de Esquerda procurou esclarecer estas situações. No documento assinado pela deputada Marisa Matias, o grupo parlamentar questiona o ministério da Saúde sobre a existência destes gabinetes em contradição com a as consultas desperdiçadas, mas também sobre por que razão não foram contratados os profissionais necessários, que medidas tomou o ministério para colocar os gabinetes em funcionamento e para concretizar o restante montante previsto pelo Plano de Recuperação e Resiliência para a saúde oral, a situação de precariedade dos médicos dentistas que trabalham para o Serviço Nacional de Saúde e a publicação da carreira destes profissionais.