As cheias que abalaram Portugal em 1967: Testemunho de Danilo Matos

08 de maio 2020 - 9:09

O esquerda.net reproduz o testemunho do então estudante do Técnico, em Lisboa, que participou no socorro às vítimas na Vala do Carregado. Divulgamos ainda o seu documentário, com cerca de 15 minutos, sobre a mobilização estudantil no auxílio às populações atingidas.

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Estamos a 25 de Novembro de 1967, anoitece, chuva intensa começa a cair sobre a cidade de Lisboa. Era sábado, eu era estudante de engenharia no Técnico, vivia num quarto alugado ali perto, na Alameda D. Afonso Henriques, numa casa com outros amigos da Madeira. Durante toda a noite a chuva não parou, tínhamos a percepção de estar a viver uma situação complicada. As notícias eram poucas, mas por volta da meia noite, à saída dos cinemas, as rádios diziam que a cidade estava paralisada, inundada, e que a chuva caía cada vez mais, especialmente na Grande Lisboa, no Ribatejo e de Algés até ao Estoril. Aconselhava as pessoas a não saírem das suas casas.

Fernando Sacramento, de barbas, presidente da AE do Tecnico 67/68, da qual Danilo Matos foi 1º secretário.

No dia seguinte, domingo, ainda chovia, mas a noite, viemos a saber mais tarde, tinha sido trágica, dramática. As notícias continuavam a ser poucas, a censura prévia em vigor não deixava e cortava tudo o que se relacionava com mortos e desaparecidos. As primeiras, escondiam a dimensão trágica e humana daquela noite, tudo foi reduzido oficialmente a uma situação normal para a época, aos caprichos e fatalidades da natureza. Esta visão custou caro, como veremos, porque o regime ficou paralisado e foi incapaz de accionar os apoios e mecanismos urgentes de socorro, deixando milhares de pessoas sozinhas, abandonadas à escuridão da noite, à sua sorte.

Ajuntamento do povo para reunião do dia 28.

É na cantina da Associação de Estudantes do Técnico, que eu frequentava diariamente e onde fazia as minhas refeições, que tenho a primeira aproximação à dimensão da catástrofe, através dos noticiários da cabine sonora. Eu era um colaborador activo da Associação, da qual tinha sido dirigente. Resolvi permanecer por ali, na certeza, como aconteceu, de que as notícias iam chegar. E foram chegando e eram terríveis. A censura pode cortar tudo, menos a oralidade, a transmissão da verdade.

Na segunda feira, num plenário de estudantes frente ao pavilhão central, discute-se o que fazer. As informações chegam e são relatadas por muitos colegas que tiveram de atravessar Lisboa para vir às aulas. As Associações de Estudantes (AAEE) reúnem as suas direcções (RIA- Reunião Inter-Associações), ao mesmo tempo a JUC- Juventude Universitária Católica tem um encontro com a Associação do Técnico para coordenar esforços de apoio às vítimas.

António Redol, membro da Comissão Coordenadora Geral, formada pelas Associações de Estudantes e a JUC. Ao lado, o Prates, tesoureiro da Assocação de Estudantes do Técnico.

Uma proposta de unidade e acção estava sobre a mesa numa iniciativa muito importante porque a JUC desenvolvia já muito trabalho de proximidade nos bairros sociais e veio emprestar ao movimento de solidariedade então desencadeado uma dimensão unitária de relevo perante a situação política do país – já não eram só os ‘comunistas’, como tentaram denegrir a Solidariedade Estudantil que foi enviada para junto das populações.

Desse encontro nasce uma Comissão Coordenadora Central, com o Quartel General instalado na Associação do Técnico. Dela faziam parte, lembro-me, o António Redol e o Armindo, meus colegas, em representação das AAEE, e pela JUC o António Cavaco, que eu não conhecia. Uma noite a organizar o trabalho.

Uma mulher com a revolta estampada no rosto.

No dia seguinte, terça feira 28, saem as primeiras “brigadas de campo” para as zonas mais atingidas ainda com o objectivo de avaliar a situação e as necessidades, escolher os locais e as prioridades. Os elementos e dados recolhidos ao fim do dia eram assustadores. São criadas comissões locais em diversas escolas e liceus e lançado um apelo para a recolha de donativos, medicamentos, cobertores e roupas quentes. As faculdades do Porto e Coimbra também se associaram ao movimento. Solidariedade era a nossa bandeira.

E na quarta-feira, logo pela manhã, um ‘comboio’ de camionetas, cedidas por empresas e autarquias, e de autocarros, alguns da Carris, aguardava estacionado no alto da Alameda D. Afonso Henriques, com material de campanha, botas de água, pás, picaretas, luvas. Começaram a sair as brigadas de campo de apoio aos trabalhos de limpezas e de desobstrução. Cada brigada tinha o seu responsável; eu, por exemplo, fiquei responsável pela brigada destacada para a Vala do Carregado, concelho de Vila Franca. A cantina da Associação preparava refeições ligeiras frias para o dia e que, às vezes, eram repartidas com outras pessoas. Partiram para o campo 15 a 20 brigadas, cerca de 500 estudantes segundo os registos divulgados.

Um lençol de água, três dias após a inundação. A brigada a caminho do trabalho.

Ao mesmo tempo, os estudantes de medicina organizam eles próprios, na sua Faculdade, as ‘brigadas médicas’. Tudo isto foi muito rápido. A esta distância eu próprio, que tenho vindo a fazer um exercício de memória para escrever este testemunho, fico espantado com a capacidade de organização e sobretudo com a mobilização espontânea surgida - estávamos em ditadura, não esquecer.

Nos dias seguintes acorreram à Associação do Técnico centenas de pessoas a oferecer-se para colaborar e saber das notícias que o regime censurava. À medida que o número de mortos aumentava a censura era mais drástica, chegando ao ponto de proibir as redacções dos periódicos de revelar números, “não há mais mortos”, diz-se que foi a ordem dada por Salazar.

Em termos organizativos foram criadas as ‘brigadas de campo’, que saíam da Associação do Técnico e as ‘brigadas médicas’, que saíam de Medicina. As primeiras, que são as que conheço melhor, tinham, como já disse, um responsável que, no regresso, entregava um Relatório à Comissão Coordenadora Central, e eram compostas, consoante os meios de transporte disponibilizados e os locais, por cerca de 40/50 estudantes cada.

Criança com brinquedo na mão.

As segundas, que reuniram cerca de 300 estudantes e jovens médicos, tiveram um papel muito importante sobretudo na vacinação e no aconselhamento sanitário das populações. Todos os membros das brigadas de campo, por exemplo, eram previamente vacinados contra a febre tifoide. Lembro-me que foram criados em algumas localidades serviços de vela e pequenos recintos para cuidar das crianças enquanto decorriam os trabalhos de limpezas.

A um outro nível, a organização da informação aos estudantes e às populações era uma exigência e um dever. As notícias que chegavam através das brigadas e de relatos de muitos jornalistas conhecidos a quem o lápis azul da censura riscava as suas reportagens, eram passadas, através das cabines sonoras das Associações e dos jornais de parede espalhados pelas faculdades.

O SCIP – Secretariado de Informação e Propaganda, órgão das AAEE, dirigido pelo João Bernardo, pela Diana Andringa, pelo Alexandre Oliveira e o João Crisóstomo, estes dois já falecidos, centralizava a maior parte das informações e editou um boletim próprio – o Solidariedade Estudantil (SE), do qual saíram 4 números, um deles, segundo os arquivos, teve uma tiragem de 10 000 exemplares.

O trabalho de campo prolongou-se por duas semanas e envolveu cerca de 6 000/7 000 estudantes. Só no 1º de Dezembro, cerca de 1 300 jovens estudantes estiveram destacados em diversas actividades de apoio directo - dados do boletim SE.

Mas o importante desta campanha de campo, que todos nós, os que lá estiveram, podemos e devemos frisar, não foram os dias ou as horas, foi o que sentimos, o que vivemos, o calor humano ou até o abraço que levámos às pessoas, às crianças e aos velhos. E o que cada um de nós trouxe agarrado à lama que se colou à nossa roupa e cujo cheiro marcou a vida de muitos de nós. Afinal havia outro país, que não aquele que as abandonou.

Para além das causas da tragédia, que irei referir mais à frente, as pessoas foram mesmo abandonadas, o regime revelou a sua natureza, a sua incapacidade, negligência, desorganização e impreparação para lidar e dar resposta a situações deste tipo; muita gente poderia ter sido salva e não foi.

O governo limitou o apoio ao envio da GNR, uma guarda criada para reprimir o povo e não para o salvar em situações de emergência, e nos dias seguintes mandou o Movimento Nacional Feminino e a Legião, o que só causou ainda mais revolta. As autarquias mobilizaram os seus trabalhadores. Mais uma vez os bombeiros municipais e voluntários fizeram o que podiam e que foi muito para os efectivos e meios que tinham.

As cheias de Novembro de 1967, que abalaram o país, marcaram e despertaram muitas consciências politicas e ajudaram a abrir caminhos para a Liberdade

Mas foi a coragem de milhares de pessoas que arriscaram tudo para salvar familiares, amigos e vizinhos, que impediram uma tragédia ainda maior. E essa lição, de determinação, vontade e entre ajuda, para quem esteve no campo, é inesquecível.

Para nós, jovens estudantes a frequentar uma Universidade marcadamente classista, as cheias de Lisboa vieram pôr a nu as condições económicas e sociais do país e a natureza verdadeira de um regime, de que muitos ainda duvidavam. A pergunta que mais se ouvia por tudo o lado era: porquê e como foi possível, assim numa noite?

“Nós não diríamos: foram as cheias, foi a chuva”, escreve o «Comércio do Funchal» no seu editorial de 10 de Dezembro – “Talvez seja mais justo afirmar: foi a miséria que a nossa sociedade não neutralizou, quem provocou a maioria das mortes. Até na morte é triste ser-se miserável. Sobretudo quando se morre por o ser”. O jornal cor de rosa, como ficou conhecido, ainda no seu primeiro ano de edição, conseguia contornar muitos aspectos da censura em vigor.

Ver informações sobre este documetário de Danilo Matos no final teste texto.

Um editorial citado por todo o lado e que levantava o véu com que queriam tapar a realidade. A reforçar esta conclusão do nosso semanário, os dados da precipitação divulgados diziam que tinha chovido mais no Estoril do que na zona da grande Lisboa. No Estoril não morreu ninguém, em Lisboa e no Ribatejo morreram, nunca se soube ao certo nem nunca se saberá, cerca de 700 pessoas.

Para além da cintura e bairros de Lisboa para onde desde o início da década de 60 milhares de pessoas se deslocaram à procura de trabalho, improvisando dormitórios em barracas de madeira e zinco, as zonas mais duramente atingidas foram sobretudo pequenas aldeias e aglomerados do Ribatejo edificadas por trabalhadores rurais e camponeses pobres, empurrados para zonas de risco, nas encostas e fundos das colinas, valas e leitos de cheia. Mais de metade dos mortos registou-se precisamente nos concelhos de Vila Franca, Alenquer e Castanheira, aqui com a aldeia mártir de Quintas, que perdeu metade dos seus, a causar uma grande consternação nacional.

Na cintura de Lisboa as construções eram ainda mais toscas e precárias, e nasceram igualmente em zonas de drenagem natural das águas pluviais, nas margens dos ribeiros e em leitos de cheia, a formar, muitas vezes, uma espécie de diques de obstrução das águas, como lhes chamou Ribeiro Teles, que não resistiram, rebentaram e levavam tudo à sua frente. Na bacia do Trancão, na campina de Loures, nas ribeiras de Algés e Alcântara, em Odivelas, Lugar de Basto, a água e a lama foram implacáveis.

Voluntariado estudantil na resposta às cheias de 1967

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Foi a maior catástrofe de origem climatérica do século XX em Portugal. O socorro aos sobreviventes mobilizou a solidariedade estudantil e deixou marcas em todos os que a praticaram.

Parágrafos

Face à pandemia Covid-19, multiplicam-se iniciativas de apoio mútuo, mobilizando o voluntariado de milhares de pessoas - por vezes complementando a resposta pública sob pressão - na assistência a membros de grupos de risco, idosos isolados ou famílias em carência económica. Este é portanto o momento para evocar uma das mais intensas mobilizações de solidariedade da nossa história contemporânea. No final de novembro de 1967, cerca de seis mil estudantes acudiram às populações mais pobres da região de Lisboa, atingidas pelas cheias repentinas em que morreram mais de 500 pessoas. Os efeitos da catástrofe evidenciaram o peso das desigualdades e a vulnerabilidade do povo pobre, abandonado pela ditadura. Nessa experiência, emergiu toda uma geração de militantes políticos empenhados em derrubar o fascismo.

 

O trecho que se segue é do artigo “As inundações de 1967 na região de Lisboa - Uma catástrofe com diferentes leituras”, publicado em 2016 por Francisco da Silva Costa e António Avelino Batista Vieira (Departamento de Geografia e CEGOT, Universidade do Minho) e Miguel Cardina (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra) na revista “Investigaciones Geográficas”, da Universidade do Chile. 

No final deste texto, reproduzimos depoimentos publicados em 2017 pela Rádio Renascença e pelo Expresso, entre eles o do falecido coordenador do Bloco de Esquerda, João Semedo.

As inundações na região de Lisboa produziram avultados danos materiais e produziram uma imediata necessidade de mantimentos e remédios, de água e comunicações. Os seus efeitos foram atenuados pela ação organizada de setores da população, pelos soldados, cantoneiros e trabalhadores voltados à ingente e pesada tarefa de recuperar casas e limpar ruas da lama invasora (Costa et al. 2014). Enquanto isso, chegavam medicamentos, agasalhos, alimentos e assistência sanitária, numa cena que se repetia por toda a área atingida (Paviani 1968). 

Num ambiente de comoção geral, promovem-se em diferentes localidades peditórios, espetáculos e subscrições, visando recolher fundos para apoio aos sinistrados. Os estudantes, por exemplo, participam nas ações de auxílio que se efetuam no terreno, desdobrando-se em tarefas como a vacinação em massa contra a febre tifóide, a desobstrução de casas e ruas e a instrução sanitária das populações. A dimensão real do desastre e das condições de vida de uma vasta camada da sociedade portuguesa não ultrapassou a espessa cortina da censura, mas muitos estudantes universitários, que agiram de forma imediata para prestar ajuda, tiveram a possibilidade de entrar em contacto com a situação verdadeira. 

A participação de quase seis mil estudantes nas atividades de socorro não agradou às autoridades, que intervieram procurando dificultar e desacreditar este trabalho, também através da intervenção da Polícia de Segurança Pública. A participação de estudantes, apesar do sentimento de impotência face à dimensão da tragédia para a qual não estavam preparados, permitiu criticar as deficiências dos serviços sanitários e sociais do Governo, revelar a eficácia de organismos democraticamente organizados (como a rede de apoio estudantil) e denunciar as miseráveis condições de vida em várias zonas do país (Duarte 1997; Cardina 2008; Accornero 2009). 

Em Lisboa, a planificação das ações de socorro encontrou-se a cargo de uma Comissão Coordenadora Central, instalada na associação de estudantes do Instituto Superior Técnico, da qual fazem parte a Juventude Universitária Católica e várias associações de estudantes. Tendo durado cerca de duas semanas, abrangeram centenas de estudantes. Em cada jornada, divulgavam o sucedido à população que pouco sabia da dimensão da catástrofe, dada a ação da censura. Merece especial realce nesta divulgação o periódico Solidariedade Estudantil, que chegou a ter uma tiragem de 10 mil exemplares e se esgotou numa manhã (Oliveira 2013). Este Boletim foi distribuído pelo «Secretariado Coordenador da Informação e Propaganda» das Associações de Estudantes de Lisboa e publicado a propósito da ação, procurando relatar o trabalho efetuado pelos estudantes e apresentar um conjunto de comentários críticos ao acontecido, equacionando-o em termos de uma análise das causas (e das consequências) sociais da tragédia (Ferreira 1969). 

No Porto, grupos estudantis organizam uma recolha de donativos a favor dos atingidos. De Coimbra partem alguns estudantes, sobretudo de Medicina, que integram brigadas de auxílio aos sinistrados. Chegados ao local, o voluntarismo terá sido matizado por certa impotência em fazer face à dimensão da tragédia, para a qual não estavam preparados a nível técnico. O jornal Comércio do Funchal elenca as tarefas desenvolvidas por estes estudantes no dia 17 de Dezembro de 1967: “...vacinação em massa contra a febre tifóide; instalação de postos clínicos; informações sanitárias à população, separação das populações em maior risco de contraírem febre tifóide; inquérito profilático às populações, ideia que também teve a aprovação da DGS; velas noturnas para casos urgentes; organização de creches com os devidos cuidados médicos e de puericultura… Apesar disso, a participação dos estudantes nestas ações possibilitou, num mesmo lance, criticar a impreparação e desorganização dos organismos sociais e sanitários do Governo, enaltecer a capacidade realizadora de Organizações Democráticas e Livres e, ainda, denunciar a existência de condições de vida miseráveis em várias localidades do país (Comércio do Funchal, 17/12/1967, nº 1964). 

Os testemunhos dos estudantes relatados pelo Comércio do Funchal revelam esta mesma denúncia: “A nossa participação carateriza-se, ao contrário da oferecida por outras entidades, pelo conhecimento exato e desmistificado da extensão do desastre, que não atribuímos à imprevisibilidade das chuvas, à conformação do terreno ou quaisquer condições naturais inimputáveis e de acaso, mas sim a condições sociais, económicas e administrativas bem concretas. Como pode isso acontecer, sem sequer se tenha verificado o rebentamento de diques ou barragens, ventos ciclónicos, desmoronamentos em série…? A resposta apresenta-nos agora, na sua realidade indesmentível: acentuadas condições de desenvolvimento em que viviam as populações atingidas sem os mais elementares requisitos de sanidade e segurança; ausência quase total de sistemas de segurança e socorro, prevenção de epidemias, redes de escoamento de águas, condições de estabilidade de terrenos, defesa contra aluimentos de terrenos, inundações; previdência social precariamente montada, quase inexistente, de tal forma que não foi possível organizar desde a primeira hora o serviço complexo do auxílio às vítimas, deixando ao sabor da iniciativa individual ou de organizações, mais ou menos oficiais…” (Ibidem). (...) 

Esta campanha marcou, para muitos estudantes, a rutura definitiva com o Estado Novo. Rita Veiga, evocando em 1997 a sua participação nesta jornada, fala da lama como uma força maligna que deixava atrás de si um cheiro ácido a humores orgânicos como se tivesse conservado em si a miséria das barracas que destruíra. A lógica corporativa do regime não podia tolerar que organizações não enquadradas oficialmente e com laivos de hostilidade relativamente ao regime, aparecessem como mais empenhadas do que o governo na assistência ao desastre. Ao mesmo tempo, a intervenção estudantil no auxílio à catástrofe serviu, assim, como um importante motor de politização das jovens gerações que, a partir das universidades, vinham ensaiando modos de contestação menos elitistas e mais aguerridos. Longe das preocupações elitistas de outrora, os estudantes ensaiavam já uma efetiva abertura à sociedade, efetuada num liame de contornos marxizantes, através do encontro com as faixas mais pauperizadas da população. De qualquer forma, o aspecto mais importante com respeito a estes episódios, foi a difusão e extensão da iniciativa e do estímulo à participação (Cardina 2008b: 65-66). 

A ação da censura 

Apesar de num primeiro momento se permitirem notícias sobre o assunto, a ação censória agiu para evitar leituras políticas da catástrofe e evitar que a comoção geral instalada adquirisse laivos críticos, como é possível perceber em alguns exemplos referidos por César Príncipe. No dia 27 de Novembro, um telegrama da Direcção da Censura enviou a seguinte informação às delegações locais: “Gravuras da tragédia: é conveniente ir atenuando a história. Urnas e coisas semelhantes não adianta nada e é chocante. É altura de acabar com isso. É altura de pôr os títulos mais pequenos”. Dois dias depois, a 29 de Novembro, determinava-se: “Inundações: os títulos não podem exceder a largura de 1/2 página e vão à censura. Não falar no mau cheiro dos cadáveres. Atividades beneméritas de estudantes – Cortar”. Dias mais tarde eram emitidas novas orientações pelo mesmo órgão como mostram os seguintes exemplos: “Deliberação do Senado universitário de Coimbra acerca do auxílio a prestar às vítimas das enxurradas. Cortar. A notícia só pode sair nos Jornais de Coimbra” (Príncipe 1979). 

Bibliografia

ACCORNERO, GUYA, 2009. Efervescência Estudantil. Estudantes, acção contenciosa e processo político no final do Estado Novo (1956-1974). Dissertação de Doutoramento em Ciências Sociais, Especialidade de Sociologia Histórica, Universidade de Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, Lisboa, 350 p.
CARDINA, MIGUEL, 2008b. A Tradição da Contestação. Resistência Estudantil em Coimbra no Marcelismo. Coimbra: Angelus Novus.
COSTA, F. S., M. CARDINA & A. A. B. VIEIRA, 2014. Inundações na região de Lisboa (1967). Um olhar sobre o impacto político e social. Actas do VIII SLAGF Simposio Latinoamericano de Geografia Física, IV SIAGF Simposio Iberoamericano de Geografía Física, Facultad de Arquitectura y Urbanismo, Universidad de Chile, Santiago, Chile: 1263-1271.
DUARTE, M. B., 1997. Foi apenas um começo. A crise académica de 1969 na história do movimento estudantil dos anos Sessenta e da luta contra o Estado Novo. Tese de mestrado, Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.
FERREIRA, V., 1969. Inventário analítico da imprensa estudantil portuguesa em 1945- 1967. Análise Social, 7 (25-26): 223-281. 
OLIVEIRA, L. T., 2013. O ativismo estudantil no IST (1945-80). In Branco, Jorge Freitas, ed. - Visões do Técnico, no Centenário 1911-2011, Lisboa, ISCTE-IUL: 307-370.
PAVIANI, A., 1968. Alenquer, Aspectos Geográficos de uma Vila Portuguesa. Finisterra, 5: 32-78.
PRÍNCIPE, CÉSAR, 1979. Os Segredos da Censura. Lisboa Caminho (Ed).


Os depoimentos que se seguem foram recolhidos pela jornalista Joana Pereira Bastos e publicados pelo Expresso em 2017:

Passaram cinquenta anos sobre a tragédia. Sabemos como o tempo embacia as nossas memórias e rouba nitidez aos factos que vivemos. Contudo, por mais anos que passem sobre as cheias de 1967, julgo que nunca se apagará em mim o choque brutal que senti ao mergulhar naquele cenário de morte, destruição e pobreza extrema, que atingia milhares de pessoas a viverem em condições absolutamente degradantes e desumanas.

Aos dezasseis anos, para um estudante do Liceu Camões, miséria e desigualdades existiam sem as vermos, como dois mundos separados. Esse submundo, escondido e ignorado, fazia parte das conversas que escutava lá em casa e o que dele sabia era o que me contavam os livros de Steinbeck, Ferreira de Castro, Manuel da Fonseca ou Jorge Amado, que os meus pais me davam para ler, escritores inspirados nos dramas sociais provocados pela exploração de vidas humanas.

Miséria e desigualdades que, no primeiro confronto, nos revoltam pela sua imoralidade e injustiça, até a nossa consciência amadurecer e nos revelar a engrenagem social que as constrói e mantém.

Desde então, sempre me senti convocado para o combate à pobreza, à exploração e às injustiças

Não sei se teria sido outra pessoa ou se a minha vida teria sido diferente se não tivesse estado naqueles dias, primeiro às Portas de Benfica e depois em Loures, com muitos outros estudantes mobilizados pelo padre Mário.

Dois ou três dias enterrado na lama até aos joelhos, entre destroços e barracas destruídas, vendo, impotente, a dor e o sofrimento dos que tudo perderam, protestando contra a avareza e o atraso do apoio dispensado pelas autoridades salazaristas, revoltado sempre que algum governante garantia que a tragédia se devia às chuvas torrenciais e não à miséria que habitava aquelas barracas.

Sei que, desde então e ao longo destes cinquenta anos, nunca fiquei indiferente perante qualquer desigualdade ou discriminação e sempre me senti – e sinto – convocado para o combate à pobreza, à exploração e às injustiças que, em grande medida, foi o que deu corpo e sentido à minha vida.

E sei, também, que esse combate valeu e vale a pena. Basta pensar como a democracia, entretanto, mudou o país, mesmo sabendo-se que a pobreza não acabou…

 

No seio do movimento estudantil discutiu-se da oportunidade dos estudantes universitários apoiarem os bombeiros nos trabalhos de remoção de lamas. Seria aceitável apoiar o Governo nestas iniciativas? Não seria preferível ir às próprias localidades observar a verdadeira dimensão da catástrofe e depois denunciar? Foi esta a linha seguida.

Na Faculdade de Medicina as brigadas organizaram-se para trabalhos de proximidade, a fim de promoverem mais higiene e imunização da população. Lá fui para Odivelas na companhia de algumas dezenas de colegas. Uns limpavam casas, outros removiam lamas, outros ainda acompanhavam professores primários em atividades de sensibilização para a saúde. Muitos de nós identificaram corpos escondidos entre os escombros: crianças, pais, mães, avós. Um sem número.

 

Domingo fomos sabendo as más notícias e creio que foi logo na segunda que, na Faculdade, fui mobilizada para o auxílio às vítimas. Pedi por telefone à minha mãe roupas, agasalhos, biberões, leite em pó e, pouco depois, um motorista requisitado pelo meu pai foi levar-nos a Santa Maria.

Penso que foi ainda nesse dia que partimos, em carros identificados como “Associações de Estudantes de Lisboa” – a que os sinaleiros abriam, estranhamente, caminho –, rumo às zonas de catástrofe. Sendo de Medicina, integrei uma Brigada de Vacinação, chefiada pelo então (penso) quintanista Pio de Abreu, destinada a Frielas e Póvoa de Santo Adrião.

Tratava-se de vacinar em massa contra o tifo – e venci a minha fobia de agulhas para dar quase centena e meia de vacinas nesse dia. Venci-a, também, para acompanhar no hospital a pequena cirurgia feita a um menino que encontráramos a vaguear, sozinho, com um corte profundo no pé – e que se agarrava com força à minha mão.

Dias depois, integrei – com o Alexandre Oliveira, o João Bernardo, o João Crisóstomo, o Jorge Simões e o José Brazão – o grupo do Secretariado Coordenador de Imprensa e Propaganda (SCIP), que publicou o “Solidariedade Estudantil”, com as notícias (livres de cortes de Censura) sobre as consequências das cheias – e que muitas pessoas, vencendo o medo, vinham pedir-nos à porta do Técnico, onde o imprimíamos. E foi depois desses dias, em que vencera alguns dos meus maiores temores em relação à Medicina, que tomei finalmente coragem para deixar o curso e optar pelo Jornalismo.

 

Trecho de reportagem das jornalistas Dina Soares e Joana Bourgard, da Rádio Renascença, emitida em novembro de 2017:


Jorge Simões e José Brazão vinham de Coimbra com o cantor José Afonso quando começaram a ouvir na rádio que estava a acontecer uma catástrofe em Lisboa. Danilo Matos vivia num quarto na Alameda e passou a noite a ouvir a chuva cair. No dia seguinte era domingo, mas foram todos para o Instituto Superior Técnico, onde estudavam, para tentarem perceber o que se estava a passar.

António Alves Redol já tinha acabado o curso, mas continuava muito ligado à associação de estudantes. Foi um dos principais organizadores da ajuda estudantil às vítimas das cheias, uma ajuda proposta pela Juventude Universitária Católica, que conhecia o terreno, mas não tinha meios.

“Era no Técnico que recebíamos as inscrições dos estudantes, formávamos as equipas e distribuíamo-las pelo terreno depois de devidamente equipadas. Houve dias em que chegaram a estar mil estudantes a trabalhar ao mesmo tempo. Na altura, fizeram-se as contas e concluiu-se que os estudantes executaram, no total, 44 mil horas de trabalho”, recorda Alves Redol, filho do escritor com o mesmo nome.

António nunca saiu do Técnico, mas Jorge e José estiveram na Vala do Carregado. Danilo Matos também. “A causa de tanta desgraça não foi a chuva, foi a miséria. Foram postas a nu as condições sociais em que muitas pessoas viviam nesta cidade, mas também a inoperância do governo”, afirma Danilo Matos. “O governo atrasou-se, paralisou, só conseguiu mandar para o terreno o Movimento Nacional Feminino, que só ia atrapalhar, e a GNR, que era uma polícia preparada para reprimir e não para salvar gente. Essa inoperância gerou uma enorme revolta na população.''

Diana Andringa estava no segundo ano de Medicina e pertencia à pró-associação de estudantes. Por isso, quando se começaram a organizar as brigadas de vacinação, foi imediatamente incluída. “Dei, de repente, por mim – eu que tenho horror a agulhas – a dar vacinas a pessoas, muitas vacinas a muitas pessoas, em Frielas, na zona de Loures.”

Para Diana Andringa, a vacinação só durou um dia. A seguir, passou de médica a jornalista, uma mudança que ficaria para a vida. Tornou-se uma das redatoras do “Solidariedade Estudantil”, o jornal onde os estudantes relatavam o que encontravam no terreno. O Solidariedade Estudantil era o único jornal que escapava à censura. “Foi o meu único êxito editorial”, ironiza a jornalista. Um dos números do “Solidariedade Estudantil” chegou a tirar 10 mil exemplares e muitas pessoas nem esperavam que fosse distribuído na rua: subiam as escadas do Técnico e iam buscar o seu jornal.

“A partir de certa altura, a GNR começou a perseguir os estudantes. O regime reagiu muito mal e a censura começou a cortar as notícias e mesmo a falseá-las”, recorda Diana Andringa. “Foi aí que desisti de ser médica e resolvi ser jornalista.”

O auxílio dos estudantes não se ficou pelas universidades. Em muitos liceus de Lisboa, os alunos foram também mobilizados. Jorge Wemans tinha 14 anos e andava no Liceu Padre António Vieira. “O professor de Religião e Moral, que era padre, já organizava várias ações na escola e foi através desse grupo que tomámos conhecimento das proporções da tragédia e de que era possível fazer alguma coisa. A organização cruzava pessoas envolvidas no movimento associativo universitário com algumas estruturas da Igreja, nomeadamente os movimentos de acção católica. Foi assim que fui para Odivelas e para Benfica com um conjunto de amigos do liceu.”

Wemans não se lembra de quantos dias andou no auxílio às vítimas, mas recorda-se que o ponto de encontro era o centro da Rua Martens Ferrão, em Lisboa, onde vivia um grupo de padres, e que viajavam numa carrinha Peugeot até ao local onde ficavam a trabalhar.

“A recordação mais forte que tenho é de lama, lama muito pesada que tínhamos muito dificuldade em remover. Havia muitos animais mortos, mas nunca vi cadáveres humanos. Lembro-me do peso, das pessoas muito silenciosas, de um ambiente tão pesado como a lama. As pessoas sentiam-se tão abandonadas que agradeciam imenso a presença de miúdos de 14 anos.”

"Vínhamos quase todos de casas atapetadas"

O confronto com a tragédia mudou consciências. “A ideia de que as pessoas estavam a morrer debaixo de lama sem ninguém para as socorrer. A ideia de que às portas de Lisboa estava a morrer gente porque chovia marcou profundamente todos os estudantes envolvidos”, garante Diana Andringa.

Danilo Matos não tem dúvidas de que “as inundações de 67 foram um marco quer na história política do país quer na história política do movimento estudantil. Houve uma politização muito grande tanto do movimento dos estudantes como da sociedade em geral. O fascismo estava a dar o seu estertor e as cheias foram um marco da luta contra o fascismo.” (...)

“Para muitos estudantes, as cheias de 67 foram um momento marcante de tomada de consciência das desigualdades e da injustiça social, de afastamento do ideário do regime e de politização muito rápida”, afirma o historiador Miguel Cardina. “Já não se tratava apenas de reivindicar mais autonomia para os movimentos estudantis, tratava-se de entender o estudante como alguém socialmente comprometido.”

“O mais importante foi que, pela primeira vez, fora das organizações clandestinas de oposição ao regime, conseguimos organizar algo importante, que envolveu muita gente”, constata Jorge Wemans.

 

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Populações afetadas e bairros de lata destruídos pelas inundações de 1967 na região de Lisboa. Fonte: Século Ilustrado de 2 de Dezembro de 1967
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O país faz luto e chora e a revolta é grande, discute e toma mais consciência das condições sociais em que viviam e vivem milhares de portugueses. O comportamento fascista do regime durante a crise despertou largos sectores da sociedade para a luta pela democracia. O movimento de solidariedade colocou milhares de estudantes em contacto com uma realidade dura e miserável.

A natureza do próprio ensino é posta em causa e a guerra colonial que espera os jovens e os estudantes quando terminarem os seus cursos deixa de ser um daqueles assuntos que Salazar não queria que se discutissem, como aquela célebre frase: “Não discutimos Deus e a Virtude. Não discutimos a Pátria e a sua Historia. Não discutimos a Autoridade e o seu Prestígio”, do histórico discurso fascista proferido no 28 de Maio de 1936, que marcou durante 40 anos a ideologia em que se ergueu a ditadura.

A 21 de Fevereiro do ano seguinte-1968, 3 meses depois, realiza-se em Lisboa a primeira manifestação contra a guerra colonial, organizada pelos chamados Comités Vietnam, a que tive a honra de pertencer. No Porto em Janeiro um grupo de jovens manifestou-se também contra a guerra. Como curiosidade, a 20 de Março, Mário Soares era deportado para São Tomé e tem lugar no aeroporto uma concentração de protesto que foi brutalmente atacada pela polícia de choque.

As cheias de Novembro de 1967, que abalaram o país, marcaram e despertaram muitas consciências politicas e ajudaram a abrir caminhos para a Liberdade.

HONRA ÀS SUAS VITIMAS!


Este testemunho surgiu na sequência de um convite da jornalista Dina Soares da Rádio Renascença para fazer um depoimento para o programa que ela realizou sobre as “Cheias de Lisboa”.
Funchal, 26 de Novembro de 2017

Em novembro de 2019, Danilo Matos escreve o seguinte sobre o documentário reproduzido neste texto:

O filme que vão ver, que já aqui coloquei em Maio e Novembro de 2018 e que já foi visto por muita gente, tem, como referi, uma história muito interessante, que não vou repetir. Apenas recordar que as duas bobines de 8mm que filmei, mas nunca tinha visionado, descobria-as quando em Fevereiro do ano passado estava a tentar pôr alguma ordem no meu escritório.

Dei um salto, quando vejo um autocolante com as palavras – “Campanha de solidariedade”. Cheias, Vala do Carregado, só podia ser. O meu primeiro filme, dos poucos que o tempo me deixou fazer. Mandei digitalizar a Lisboa, e quando as vejo no computador a emoção não tem palavras.

Imagens inéditas e ainda bem conservadas, com algumas limitações: eu sabia pouco de cinema, embora fosse uma espécie de militante do Cine Club Universitário. Tinha de as divulgar. Convidei o meu velho amigo arqº José Paradela que, além de ser um melómano, domina estas técnicas de montagem nos computadores.

Optámos pela versão integral, preenchendo os brancos com pequenas frases explicativas. A versão tem cerca de 15,34 minutos. Dividimos o filme em duas partes.

A primeira parte, com cerca de 10,58 minutos, foi filmada no dia 28 de Novembro, e nela vemos aspectos da reunião que os membros da comissão coordenadora estudantil de solidariedade realizaram no local com a população. É muito interessante, porque mostra que quando chegámos ao largo da aldeia não estava ninguém, as pessoas não sabiam ao que vínhamos, a mensagem foi correndo e aos poucos vão chegando, com alguma desconfiança, como é natural, no fundo estavam ali já quase há 2 dias e o apoio tinha sido quase nulo. Em pouco tempo o largo ficou cheio.

As mulheres, como sempre, as mais combativas. O objectivo destas reuniões, que se realizaram neste dia por vários bairros e aldeias do Vale do Tejo e da Grande Lisboa, era conhecer a dimensão dos problemas e colocar no terreno a nossa ajuda. Vão ver que vale a pena o tempo desta primeira parte.

A segunda parte passa-se já no dia seguinte, 29. Uma brigada que saiu de madrugada do Técnico, com cerca de 40 estudantes, com pás, botas de água e outros utensílios para as limpezas das lamas e das habitações, muito precárias como podemos ver. Tem apenas 4,78 minutos, mas as imagens são fortes e a música do Zeca faz chorar, sobretudo a quem lá esteve. Precisava de mais uma bobine, mas eram muito caras e tinham de ser reveladas em Espanha.

Eu era 1º secretário da direcção da Associação de Estudantes do Técnico e fui o escolhido para dirigir os trabalhos desta brigada. Estivemos na Vala creio que 4 dias.

O balanço final não foi a limpeza nem quantidade de lama e outras coisas bem mais chocantes que tirámos, que foram importantes, mas o apoio humano e a solidariedade que transportámos e a lição que, muitos de nós, ‘carregou’ para a vida.

Música de Zeca Afonso (Elegia) e de dois grandes pianistas Dirk Maassen e Michael Nyman.

Nota Final - O filme também está no YOUTUBE e não precisa de link, basta digitar a frase “Cheias da Vala do Carregado”. Podem sempre visionar a qualquer momento. A qualidade das fotos que acompanha este post é fraca porque foram tiradas da passagem do filme no ecrã do computador.

Danilo Matos

Funchal, 25 Novembro 2019