Uma “caravana anti-mineração” percorreu na tarde desta sexta-feira quatro aldeias ameaçadas pelas concessões de minas na zona do Barroso. Carros e tratores começaram o percurso em Morgade, junto à área de concessão da Mina do Romano, um projeto da Lusorecursos, depois passaram por Caniçó, parando na área de concessão da Mina da Borralha, detida pela Minerália, seguiram para Dornelas, com paragem na Mina de Lousas da Felmica, e acabaram em Covas do Barroso, parando na área de concessão da Mina do Barroso da Savannah Resources.
O objetivo fixado para a ação era “alertar para a destruição sócio-ecológica que representa a mineração e desmascarar a falsa narrativa da transição verde”, além de exigir a suspensão e rescisão de todos os contratos de exploração mineira”, segundo comunicado dos organizadores da mobilização. As oito associações, Associação Povo e Natureza do Barroso, Unidos pela Natureza – Associação de Desenvolvimento de Dornelas, Unidos em Defesa de Covas do Barroso, Associação Bio-N, Movimento Não às Minas – Montalegre, Espaço A Sachola, Rede Minas Não e Iris – Associação Nacional de Ambiente pretenderam ainda “demonstrar a sua união e força perante esta ameaça aos seus territórios”.
No Romano e no Barroso, projetos recentemente mediatizados por estarem incluídos na Operação Influencer, que culminou com a queda do Governo, está em causa a exploração do lítio. Em Lousas a exploração que acontece já desde 2008 é de rocha pegmatítica para a indústria cerâmica. Na Borralha, estão a acontecer trabalhos de perfuração e sondagem mirando uma futura exploração de volfrâmio. Aí, os ambientalistas denunciam que se está a laborar em terrenos classificados pelo Laboratório Nacional de Engenharia e Geologia como muito poluídos com metais pesados de elevada toxicidade por causa da antiga mina de volfrâmio aí existente.
“Querem-nos impingir uma transição energética justa, sustentável e ecológica e isto é precisamente o contrário. Ela não está a ser justa porque está a ser imposta à força, não está a ser verde porque destrói as florestas, os cursos de água e o meio ambiente e nem é sustentável porque sabemos que, no fim da mineração, não dá lá mais nada”, referiu Nelson Gomes, presidente da associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, à agência Lusa.
Movimento acusa Savannah Resources de ocupação ilegal de terrenos
À Renascença, Nelson Gomes acrescenta que nada mudou depois das suspeitas de tráfico de influências: “a empresa continua a fazer explorações e a entrar em terrenos onde não tem autorização”.
Continua a haver um braço de ferro entre a população local e a Savannah Resources, que é acusada de ocupar terrenos de forma ilegal, com o caso a ter seguido para tribunal. Entretanto, a população faz turnos para parar o avanço das máquinas.
De acordo com aquele dirigente associativo, “já levamos dez dias consecutivos, de manhã à noite, e temos conseguido impedir as máquinas de entrar em terrenos baldios e em terrenos de particulares que não foram cedidos nem expropriados”. O movimento insiste que não quer que a região perca o selo de património agrícola mundial.
“Estamos a tratar de uma providência cautelar para que os trabalhos estejam parados nessas áreas até que haja uma decisão do tribunal”, afirmou à Lusa Aida Fernandes, presidente da Comunidade Local dos Baldios de Covas do Barroso.