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Brasil ultrapassa os cinco mil mortos. "E daí?", responde Bolsonaro

Esta quarta-feira, o presidente brasileiro atacou o governador de São Paulo, insinuando que as medidas de contenção estariam na origem da elevada mortalidade na região. Número de mortos no Brasil ultrapassou o da China, enquanto o número de testes é inferior ao de Portugal.
Foto de Palácio do Planalto/Flickr

O Brasil superou esta semana o número de vítimas mortais por Covid-19 na China. Com 74.493 casos confirmados o Brasil regista atualmente 5.158 mortes, e a China 4.637. Questionado sobre esse facto, Bolsonaro respondeu na terça-feira: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres”.

Na manhã desta quarta-feira, quando questionado pelos jornalistas sobre a resposta do dia anterior optou por atacar os governadores e os prefeitos, sobretudo o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), um possível candidato às próximas eleições presidenciais em 2022. Bolsonaro acusou os governadores de serem os responsáveis pelas medidas restritivas de contenção do surto, e insinuou que eram estas que estavam na origem dos elevados números registados em São Paulo. Bolsonaro é um firme opositor das medidas de confinamento, que segundo ele só prejudicam a economia. Responsabilizou também os jornalistas de terem feito “manchetes mentirosas e tendenciosas”.

Um estudo da Imperial College London desta terça-feira conclui que o Brasil é o país, entre os vários países analisados, que apresenta a mais elevada taxa de contágio. Os dados oficiais brasileiros, por seu lado, mostram que cerca de metade do número total de mortes ocorreram na última semana. E comparando os dados disponibilizados pela John Hopkins University, o Brasil figura entre os 10 países com a taxa de mortalidade mais elevada a nível mundial. O número total de testes realizados é inferior ao de Portugal, que tem 20 vezes menos população.

ONU acusa Brasil de estar a pôr em causa milhões de vidas com as suas políticas sociais e económicas

Também esta quarta-feira, especialistas de Direitos Humanos da ONU fizeram um comunicado afirmando que “o Brasil deve abandonar imediatamente as políticas erradas de austeridade que estão a pôr vidas em perigo e aumentar a despesa no combate à desigualdade e à pobreza, agravadas pela pandemia da Covid-19”. De acordo com o comunicado, apenas 10% dos municípios têm camas em unidades de cuidados intensivos e o sistema nacional de saúde não tem sequer a metade das camas recomendadas pela OMS.

Os relatores da ONU afirmam que “os cortes de financiamento governamentais violaram os padrões internacionais de direitos humanos, inclusive na educação, habitação, alimentação, água e saneamento e igualdade de género”, e acrescentaram ainda que “o sistema de saúde enfraquecido não está a dar resposta e está a falhar na proteção dos direitos à vida e à saúde de milhões de brasileiros que estão seriamente em risco”.

“E daí? Devo escolher alguém amigo de quem?”

Em risco ficou também a nomeação de Alexandre Ramagem para Director-Geral da Polícia Federal. O Supremo Tribunal Federal do Brasil suspendeu a nomeação por esta não observar “os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade do interesse público”.

Alexandre Ramagem é amigo da família Bolsonaro, foi seu chefe de segurança pessoal durante a campanha eleitoral e era actualmente diretor da Agência Brasileira de Inteligência.

No passado fim de semana, quando foi confrontado sobre essa ligação de proximidade com Alexandre Ramagem, Bolsonaro respondeu: “E daí? Devo escolher alguém amigo de quem?”

Esta nomeação foi a razão apresentada por Sérgio Moro para renunciar ao cargo de Ministro da Justiça, tendo acusado o Presidente de a fazer apenas para proteger os seus filhos, Carlos e Flávio, que estão a ser investigados pela Polícia Federal.

Após conhecer a decisão judicial, Bolsonaro anulou a nomeação, mas à tarde, durante a tomada de posse do novo Ministro da Justiça, garantiu que o “sonho” de ter Alexandre Ramagem como Director-Geral da Polícia Federal irá concretizar-se.

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