Sergio Moro saiu do governo brasileiro batendo a porta estrondosamente. Resta saber se, com isso, abriu a porta para um processo de destituição de Jair Bolsonaro.
A Procuradoria-Geral da República anunciou que pediu ao Supremo Tribunal Federal um inquérito sobre o sucedido. Augusto Aras quer averiguar a veracidade das acusações do ex-ministro da Justiça que poderão constituir diversos crimes: “falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, denúncia caluniosa e crime contra a honra”. Se estas não forem verdadeiras, será Moro a cair na barra dos tribunais por “denúncia caluniosa”.
Sergio Moro demitiu-se na sequência da demissão chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Bolsonaro terá tomado a medida unilateralmente, afastando um apoiante do ex-ministro e pressionando as investigações em curso contra a sua família e círculo próximo.
Foi isso mesmo que Moro confirmou: “o Presidente disse-me, mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contacto pessoal dele [para o qual] ele pudesse ligar, ele pudesse colher informações, ele pudesse colher relatórios de inteligência”.
Depois destas declarações, Moro mostrou na TV Globo o que disse serem mensagens trocadas com Bolsonaro. Nelas teria ficado confirmado por escrito que o Presidente brasileiro queria pressionar a investigação. Junto com uma ligação a uma notícia sobre a investigação da Polícia Federal ao grupo de bolsonaristas, entre os quais um dos filhos de Jair, Carlos Bolsonaro, que montou um grupo de disseminação de notícias falsas contra os adversários de Bolsonaro.
Bolsonaro terá acrescentado à ligação as palavras: “mais um motivo para a troca”. Moro terá contraposto que a investigação não foi causada por Valeixo mas pelo Supremo Tribunal Federal.
Bolsonaro contra-ataca
Por sua vez, Jair Bolsonaro assegura que a escolha sobre nomeações e demissões no comando da Polícia Federal lhe cabe exclusivamente e que, apesar disso, terá procurado um consenso com o seu ex-ministro.
Só que, ao mesmo tempo, tenta descredibilizar aquele que antes era a sua grande aposta. Acusa Moro de ter querido condicionar a demissão do chefe de polícia à sua nomeação para o Supremo Tribunal Federal em fevereiro: “mais de uma vez, Moro disse para mim: 'você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o STF'."
O Presidente disse ainda que o ex-juiz teria um compromisso apenas “com o próprio ego” e não com o governo. Contudo, apesar de rejeitar veementemente que tenha tentado interferir nas investigações, não deixou de admitir que pedia relatórios policiais sobre as investigações em que os seus aliados e filhos estavam a ser postos em causa. "É interferência cobrar isso de sua Polícia Federal”, questionou.
Também admitiu que teve acesso a um depoimento sigiloso no caso do assassinato de Marielle que ligaria numa relação romântica o seu filho mais novo à filha de Ronnie Lessa, principal suspeito do crime.
Moro defende-se, mais uma vez, recorrendo a mensagens trocadas. Desta feita, com Carla Zambelli, deputada muito próxima do Presidente, que lhe teria proposto aceita a nomeação do novo chefe de Polícia para depois ser nomeado para STF. Ela comprometer-se-ia “a ajudar” fazer Bolsonaro prometer isso. Moro terá respondido: “não estou à venda”.