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Bolsonaro demite chefe da polícia, Sérgio Moro ameaça sair do governo

O ministro da Justiça brasileiro chegou a ser estrela do governo, o Chefe da polícia Federal era seu aliado. A polícia continua a investigar o círculo próximo do presidente brasileiro.
Bolsonaro e Moro em visita ao Supremo Tribunal Federal. Foto José Cruz/Agência Brasil
Bolsonaro e Moro em visita ao Supremo Tribunal Federal. Foto José Cruz/Agência Brasil

A demissão de Maurício Valeixo, diretor-geral da Polícia Federal brasileira, confirmada esta sexta-feira, pode ter sido a gota de água que determinará a saída de Sergio Moro do governo de Bolsonaro.

Depois de ter sido conhecido que o Presidente do Brasil iria demitir o responsável policial, a Folha de São Paulo deu a demissão de Moro como certa. Em primeiro lugar porque Valeixo era conhecido como sendo um aliado do ministro da Justiça. Em segundo lugar porque este não foi tido nem achado na decisão. A sua assinatura consta oficialmente no decreto mas aquele jornal esclarece que o ministro da Justiça não assinou de facto e não foi avisado da sua publicação.

Os jornais brasileiros contam que há tentativas para tentar segurar no cargo aquele que chegou a ser a estrela maior do executivo. A chave poderá ser o nome do novo responsável policial que ainda não foi escolhido.

Sergio Moro chegou ao lugar com o lastro da operação Lava-Jato. Seria o justiceiro punitivo sonhado pela extrema-direita brasileira. Iria acabar com a corrupção e com o crime. Nos píncaros da fama, não era certo se a sua trajetória seria uma nomeação para o Supremo ou se chegaria mesmo ser o sucessor de Bolsonaro.

Os problemas começaram a acumular-se quando começou a política em vez da ideologia, nomeadamente com a discussão sobre o seu pacote contra a criminalidade, com Moro a ter de recuar em medidas icónicas como a prisão depois de condenação em segunda instância e o “excludente de ilicitude”, que dava carta branca às polícias para disparar, uma vez que não poderiam ser condenados por atos determinados por “medo, surpresa ou violenta emoção”. Estes adensaram-se com os choques com Bolsonaro. E intensificaram-se com o Vaza-Jato, a revelação das mensagens dos investigadores da Lava-Jato que lançaram definitivamente a sombra da perseguição política assumida nesse processo.

As últimas bolso-polémicas

A demissão de um chefe de polícia que está a investigar o círculo interno do Presidente seria um golpe fatal para muitos políticos em muitos lugares do mundo. Para Bolsonaro, no Brasil atual, parece ser apenas mais uma das suas inúmeras polémicas. Para além das investigações aos filhos do chefe de Estado, decorre, por exemplo, uma outra sobre a divulgação deliberada de fake news para atacar adversários.

Outro caso a ser investigado é o das manifestações bolsonaristas de apelo a um golpe militar. O próprio Presidente participou na de Brasília, demonstrando apoio aos manifestantes que exigiam o fecho do congresso e a destituição do Supremo Tribunal, com um discurso em cima de uma camionete. A demissão do chefe da Polícia Federal é vista por isso como uma forma de condicionar estes processos.

Para além das investigações policiais, Jair Bolsonaro está a braços com as proclamações polémicas e gestão desastrosa do surto de coronavírus no Brasil. A demissão do ministro da Saúde que estava a seguir uma linha mais próxima das evidências médicas e que estava a ganhar popularidade foi só um pequeno episódio.

De outra dimensão é mesmo o número de vítimas que contrasta com a posição de Bolsonaro sobre a “gripezinha” e o confinamento. Apesar do Presidente ser famoso por conseguir escapar com as suas declarações acaloradas, as imagens das valas em Manaus para enterrar os falecidos devido à Covid-19 foram demasiado fortes e gelaram o mundo para além de qualquer discurso.

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