Está aqui

Brasil: Bolsonaro perde na comparação das manifestações

Mobilizações a favor do presidente foram em menos cidades e menores em participação, se comparadas com os protestos de dia 15 contra o governo. E evidenciaram uma nova rutura na base de apoio bolsonarista. Por Luis Leiria.
Manifestantes em Brasília exibem uma imagem em tamanho real do presidente. Foto de Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Manifestantes em Brasília exibem uma imagem em tamanho real do presidente. Foto de Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Era inevitável que as manifestações pró-Bolsonaro, realizadas neste domingo 26, fossem comparadas com os protestos contra os cortes de verbas na Educação que ocorreram no dia 15 de maio. Feito o cotejo, o presidente perde em toda a linha.

O portal informativo G1, da rede Globo, foi o que fez o levantamento mais completo: neste domingo houve manifestações pró-Bolsonaro em 156 cidades de 26 estados, mais o Distrito Federal, até às 20h40. No dia 15 de maio, e na mesma hora, os protestos contra os cortes na Educação tinham ocorrido em 222 cidades dos 26 estados e do Distrito Federal. Ou seja, houve muitos mais protestos contra o governo que manifestações pró-Bolsonaro.

O G1, porém, não comparou o tamanho das manifestações ocorridas nas mesmas cidades, argumentando que não houve estimativa de público – feita por autoridades e organizadores – em todas as mobilizações.

Mas as imagens das manifestações nas duas cidades onde foram maiores, nas duas datas – Rio de Janeiro e S. Paulo –, mostram inequivocamente que havia mais gente no dia 15.

Os amigos de ontem são traidores hoje

Manifestação pró-Bolsonaro em S. Paulo.
Manifestação pró-Bolsonaro em S. Paulo

Ainda assim, os bolsonaristas conseguiram reunir bastantes apoiantes do presidente, e ainda mais tendo em conta que quem foi à rua foi a direita mais extremista, pondo em evidência uma rutura na base de apoio do presidente. Movimentos importantes nas mobilizações pelo impeachment de Dilma Rousseff, como o MBL e o Vem Para a Rua, desta vez se opuseram. As deserções no campo dos manifestantes incluíram nomes como a deputada estadual Janaína Paschoal, eleita com mais de dois milhões de votos pelo PSL de Bolsonaro.

Protesto do dia 15 contra o governo em S. Paulo
Protesto do dia 15 contra o governo em S. Paulo

Assim, o discurso de ódio, essencial para garantir as mobilizações da extrema-direita, desta vez teve novos alvos: os que até ontem eram aliados. “Um desavisado que aparecesse por ali com uma camiseta do deputado federal Kim Kataguiri, líder do MBL, correria tanto risco quanto alguém que usasse uma do PT”, comentou a Folha de S.Paulo.

O MBL chegou a ser chamado de “Movimento Bumbum Livre” e, num rap improvisado, mandado para a “Cuba que o pariu”.

Já Janaína Paschoal foi classificada como traidora. “Eu tenho vergonha de ter votado na Janaína e ver que ela chegou lá e em cinco minutos nos esqueceu”, disse uma liderança de um dos movimentos organizadores da manifestação, o Direita SP.

Bolsonaro incentivou

Manifestação pró-Bolsonaro no Rio de Janeiro, domingo 26
Manifestação pró-Bolsonaro no Rio de Janeiro, domingo 26

Apesar de ter recomendado que os ministros do seu governo não comparecessem, e de ele mesmo não se ter feito presente, Bolsonaro estimulou as manifestações nas redes sociais. “A grande maioria foi às ruas com pautas legítimas e democráticas”, declarou o presidente. “Povo na rua é democracia. Com povo e Congresso, avançaremos”, secundou-o o ministro Sérgio Moro.

Protesto contra o governo do dia 15 no Rio de Janeiro.
Protesto contra o governo dia 15, no Rio de Janeiro

Para além das críticas aos ex-aliados, os alvos das manifestações foram o “centrão”, conjunto de partidos que se dizem independentes do governo e da oposição, e o presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia, que no entanto é aliado do governo na contrarreforma da Previdência. Choveram também críticas sobre o Supremo Tribunal Federal. E houve setores dos manifestantes que pediram o encerramento do Congresso Nacional e do STF e uma intervenção militar, apesar de os bolsonaristas mais ligados ao presidente terem tentado impedir que este tipo de posições aparecessem.

Bolsonaro conseguiu dar uma prova de força frente aos deputados do “centrão”. Mas as manifestações não resolvem um problema simples: o presidente ainda precisa de maioria no Congresso para aprovar as contrarreformas com as quais se comprometeu.

O próximo episódio da novela em que está a tornar-se a política brasileira é já no próximo dia 30, data para que foi convocado um novo dia de protestos contra os cortes na Educação. E no dia 14 de junho é dia de greve geral.

Sobre o/a autor(a)

Jornalista do Esquerda.net
Termos relacionados Governo Bolsonaro, Internacional
(...)