Bolívia: Ex-presidente interina acusada de “sedição e terrorismo”

14 de março 2021 - 11:10

Jeanine Áñez foi detida na madrugada de sábado. O Ministério Público boliviano emitiu ainda mandados de captura de vários chefes militares e de inúmeros ex-ministros do governo golpista que levou Evo Morales a exilar-se.

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Foto de STR, EPA/Lusa.

"Informo ao povo boliviano que a senhora Jeanine Áñez já foi detida e está atualmente nas mãos da Polícia", anunciou o ministro de Governo da Bolívia nas redes sociais. Eduardo Del Castillo Del Carpio agradeceu o trabalho das autoridades envolvidas “nesta grande e histórica tarefa de fazer justiça ao povo boliviano”.

A ex-presidente interina da Bolívia é acusada de "terrorismo, sedição e conspiração" no âmbito do golpe de Estado de novembro de 2019 que levou à demissão de Evo Morales da presidência e ao seu exílio.

O Ministério Público boliviano ordenou ainda a detenção de vários chefes militares, entre os quais William Kaliman, o general que anunciou a retirada do apoio das Forças Armadas a Morales, e cinco ex-ministros do governo racista e golpista que esteve no poder até ao final de 2020.

Jeanine Áñez recusa ter existido qualquer golpe de estado e defende estar a ser vítima de uma perseguição política orquestrada pelo Movimento ao Socialismo - Instrumento Político para a Soberania dos Povos (MAS-IPSP), o partido de Evo Morales que regressou ao poder em novembro.

Na sua conta de Twitter, Morales pede “justiça e verdade para as 36 vítimas fatais, os mais de 800 feridos e más de 1.500 detidos ilegalmente no golpe de Estado”.

“Que se investigue e sancione os autores e cúmplices da ditadura que saqueou a economia e atentou contra a vida e la democracia na Bolívia”, escreve.

MAS regressou ao poder no final de 2020

A 18 de outubro de 2020, o MAS, afastado do poder por um golpe de Estado em novembro de 2019, venceu as eleições. O seu candidato à Presidência, Luis Arce, foi eleito logo à primeira volta com mais de 55% dos votos. O ex-presidente Carlos Mesa ficou a 20 pontos de distância.

O MAS obteve também maioria no Parlamento. No seu bastião de La Paz, impôs-se com 65% a 32%, enquanto conseguiu uns significativos 35% em Santa Cruz, onde se fortaleceu o conservador Luis Fernando Camacho, líder dos protestos de rua de novembro do ano passado que, no quadro de um motim policial e de um pronunciamento militar, levaram ao derrube de Evo Morales e ao seu exílio na Argentina.

A vitória do MAS foi tão esmagadora que a ONU e a OEA apressaram-se a declarar que não havia indícios de fraude.