O Bloco de Esquerda questionou esta quinta-feira a ministra da Administração Interna sobre o facto de a Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP) ter emitido um comunicado de imprensa onde afirmava que Odair Moniz, morto por agentes da PSP na madrugada de segunda-feira, tinha tentado agredir esses agentes com uma arma branca. Imagens de vigilância posteriores indicam que a vítima não estava de facto armada, confirmado também pelos agentes envolvidos.
Foi a TVI que noticiou na passada quarta-feira que os dois agentes da PSP envolvidos na morte tinham reconhecido que não foram ameaçados diretamente pela vítima com uma arma branca em punho. Também o Diário de Notícias, esta quinta-feira, noticiava que, decorrendo o inquérito criminal sobre o caso, a Polícia Judiciária analisou as imagens captadas pelo sistema de videovigilância da Amadora e que nessas imagens, Odair não tem qualquer faca na sua posse.
“A confirmarem-se estes factos, a Direção Nacional da PSP elaborou e divulgou um comunicado que continha informação falsa”, lê-se no documento assinado pelo líder da bancada parlamentar do Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo. “Deve notar-se que não é a primeira vez que tal estratégia de desinformação é utilizada pela hierarquia das forças policiais: bastará, por exemplo, lembrar o assassinato de Elson Sanches (KuKu), de 14 anos, ou atos de tortura na esquadra de Alfragide, ambos encobertos com versões falsas da polícia sobre os acontecimentos”.
O Bloco de Esquerda considera a prestação de esclarecimentos uma obrigação da Direção Nacional da PSP, indicando que “se assim não for, levanta-se um clima de suspeição sobre a Direção Nacional da PSP e a sua atuação que prejudica não apenas as forças de segurança, mas a confiança dos cidadãos nas instituições do Estado”.
O deputado questiona a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, sobre se o governo tem conhecimento desta situação, se confirma as informações partilhadas pela TVI e pelo Diário de Notícias sobre a ausência de uma arma branca, e sobre como chegou a Direção Nacional da PSP à conclusão de que Odair Moniz tinha uma arma branca, procurando saber com base em que documentação foi elaborado o comunicado da PSP e se os agentes envolvidos foram ouvidos na elaboração do comunicado. Por último, o documento enviado ao Ministério da Administração Interna procura clarificar se, a confirmar-se que foi emitido um comunicado com informação falsa, o governo procurará consequências para a Direção Nacional da PSP.
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Tumultos continuam durante a noite de quarta-feira
Os tumultos que começaram na noite de segunda-feira, e que no bairro do Zambujal foram alvo de resposta violenta por parte da Polícia de Segurança Pública, retomaram na noite de quarta-feira em vários bairros da Grande Lisboa. Nos concelhos de Lisboa, Amadora, Odivelas, Barreiro, Oeiras, Sintra, Monte da Caparica e Almada foram incendiados contentores do lixo.
A polícia procedeu a treze detenções e há três feridos, segundo avança a Lusa. Dois autocarros foram incendiados. Num deles, em Santo António dos Cavaleiros, em Loures, o motorista ficou ferido e foi internado em estado grave. A vítima terá sofrido queimaduras graves na cara, no tórax e nos braços, segundo o Jornal de Notícias.
Condenando o ataque e afirmando a sua solidariedade para com o motorista, a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda escreveu nas redes sociais que este trabalhador foi “vítima de um ato totalmente injustificável”. Mariana Mortágua considera que “a urgente pacificação dos bairros não virá de apelos à violência e ao ódio, mas sim de garantias verdadeiras de justiça e igualdade perante a lei”.
O movimento Vida Justa convocou para o próximo sábado uma manifestação em Lisboa contra a violência policial nos bairros e em homenagem a Odair Moniz. Na convocatória, feita nas redes sociais, o movimento considera que “é preciso acabar com a violência e a impunidade policial nos bairros” e que “é preciso que as pessoas deixem de ser tratadas como não-cidadãos que podem ser agredidos e mortos”. A manifestação partirá do Marquês de Pombal, com concentração marcada para as 15h, em direção à Assembleia da República.