PSP mata a tiro na Cova da Moura

21 de outubro 2024 - 16:50

Odair Moniz viajava no seu carro quando foi interpelado pela PSP. Acabou por morrer depois de baleado. Coordenadora do Bloco de Esquerda fala em necessidade de apurar o que aconteceu e sublinha que agentes envolvidos devem passar a funções administrativas até que haja clareza.

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PSP
Foto de Sharon Hahn Darlin/Flickr.

Odair Moniz foi morto a tiro pela PSP esta madrugada na Cova da Moura. Tinha 43 anos e, segundo a família, conduzia o seu próprio automóvel e tinha a documentação em dia, ao contrário das primeiras versões colocadas a circular na comunicação social que alegavam que tinha roubado um carro.

Foi atingido com um tiro na axila, tendo vindo a falecer mais tarde no Hospital Francisco Xavier.
As informações disponíveis são as adiantadas pelas forças policiais responsáveis pela morte. Dizem que a vítima terá avistado um carro de polícia, tentado uma "fuga" acabando por se despistar e abalroar vários carros. Depois teria reagido “violentamente” e alega-se que estaria armada com uma faca.

O comunicado da PSP confirma a autoria dos disparos que vitimaram Odair Moniz, referindo que “quando os polícias procediam à abordagem do suspeito, o mesmo terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca, tendo um dos polícias, esgotados outros meios e esforços, recorrido à arma de fogo e atingido o suspeito, em circunstâncias a apurar em sede de inquérito criminal e disciplinar”.

A ministra da Administração Interna fez saber igualmente que determinou à Inspeção-Geral da Administração Interna a abertura de um inquérito "com caráter de urgente" sobre o sucedido.

Numa publicação nas suas redes sociais,  a Vida Justa exige “uma investigação séria e isenta”, sublinhando que “os moradores dos bairros precisam de paz e não de serem assassinados”. O movimento reforça ainda um pedido que já tinha feito para ser recebido pela ministra da Administração Interna "para que se ponha cobro ao assédio e violência policial que sofrem as comunidades dos bairros”.

À Lusa, Flávio Almada, porta-voz deste movimento, membro do Moinho da Juventude e morador no bairo onde tudo aconteceu, contrapõe que a “história está muito mal contada” com a construção de “uma narrativa” para justificar o que a polícia fez. Os relatos na Cova da Moura dão conta que houve “dois tiros num trabalhador desarmado” e que “não é a primeira vez”, existindo uma “cultura de impunidade” policial.

O dirigente associativo questiona ainda “por que acertaram numa parte vital? Por que não deram um tiro no pé?”. E acrescenta: “o que sabemos é que, ao longo de décadas, dizem que investigam, mas depois a vítima é transformada em agressor, julgada e condenada no espaço público, e é o morto que vai parar ao banco dos réus”.

Segundo avança o Expresso, o agente que atingiu mortalmente Odair Moniz terá sido constituido arguido depois de ter sido interrogado pela Polícia Judiciária. O agente terá saído do penúltimo curso da PSP. Entregou a arma e saiu em liberdade.

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, salientou esta terça-feira a necessidade de apurar o que aconteceu. "Até à conclusão do inquérito, os agentes envolvidos devem ser transferidos para funções administrativas", escreveu no X. "Compromisso com justiça e igualdade perante a lei. Impunidade para ninguém".