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Argélia: um movimento estudantil determinado face à aprendizagem da politização

A maioria das universidades e das escolas superiores do país está paralisada pela greve. Estudantes estruturam os campus através da eleição de delegados e ambicionam ter “terem muito peso” na transição democrática. Por Mohamed Kebci.
Estudantes decidiram pôr entre parêntesis os seus cursos para “melhor acompanhar o movimento popular”.
Estudantes decidiram pôr entre parêntesis os seus cursos para “melhor acompanhar o movimento popular”.

Um pouco à maneira dos seus antepassados da Ugema [União Gerral dos Estudantes Muçulmanos Argelinos – cujo Primeiro Congresso se realizou em julho de 1955 em Paris] que, em 1956, decidiram deixar os bancos das universidades para se juntar ao maquis, os estudantes decidiram pôr entre parêntesis os seus cursos para “melhor acompanhar o movimento popular nascido no dia 22 de fevereiro”.

Com efeito, a maioria das universidades e das escolas superiores do país está paralisada pela greve dos estudantes. Uma greve que é diferente de um campus para o outro, num ilimitada, no outro periodicamente renovável, até à satisfação da principal palavra de ordem da revolução tranquila em curso, isto é, a saída dos símbolos do sistema atual.

Na Escola Nacional Politécnica (ENP) de El-Harrach, no leste da capital, os cerca de 1.200 estudantes que aí cursam engenharia nas diversas modalidades técnicas, preferiram optar por uma greve “renovável cada fim de semana, seguindo o curso dos acontecimentos. É aliás o caso de oito outras escolas superiores de Argel”, afirmava na segunda-feira, Khaled, estudante do 4º ano da ENP.

Para o nosso interlocutor, que estava em companhia das lideranças da contestação estudantil neste ilustre edifício do saber, os estudantes tinham “apreensão quanto à eventualidade de um ano em branco sem que o movimento popular atinja os seus objetivos. Mas é o preço a pagar, como fizeram os nossos antecessores de 1956”. Foi então que ficou decidido “cortar a pera em duas”, optando por uma greve semanal com um voto renovado cada quinta-feira, de acordo com os desenvolvimentos ocorridos no curso da semana, acrescenta o nosso interlocutor, precisando que a iniciativa é semelhante nas oito escolas superiores de Argel.

Hocine, seu camarada de campus e agora de luta, exprime, quanto a ele, a ambição dos estudantes de “terem muito peso” em toda a próxima transição democrática. Isto dando início ao vasto e laborioso canteiro da estruturação dos campus em todo o país com a eleição de delegados. “Temos o dever de encarnar a locomotiva de todo o movimento”, afirma ele, não sem que uma sua camarada, Melissa, ponha o dedo na “deficiência gritante em matéria de bagagem política” que têm muitos estudantes. “É verdade que há uma real tomada de consciência na família estudantil, mas muitos são os estudantes a quem faltam postulados e estratégias de luta política, eles que não estão estruturados em nenhuma capela partidária, ainda menos associativa”, afirma ela.

Daí o ciclo de conferências-debates previsto a partir desta quarta-feira com universitários e outros atores da sociedade civil em toda a sua diversidade. Amine também faz parte de “debates” travados ao longo do dia, entre grupos de estudantes em torno do movimento em curso com “todos os seus detalhes”.

Os estudantes também instalaram um atelier exclusivamente dedicado aos slogans e outras palavras de ordem a levar à sua manifestação de todas as terças-feiras e também às das sextas-feiras seguintes. Slogans como é o caso da marcha prevista esta manhã em Argel, como quer a tradição desde o 26 de fevereiro”, precisa Abderrahmane, um dos quase 80 membros deste atelier.

Artigo publicado no Le Soir d’Algérie, 16 de abril de 2019

Reproduzido de A L’encontre

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

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