Em comunicado divulgado esta segunda-feira, a Amnistia Internacional denuncia as incursões israelitas na Cisjordânia, que aumentaram de intensidade nos últimos meses, culminando no recente ataque dentro do hospital de Jénine, com os comandos israelitas disfarçados de médicos e doentes e que deixaram três palestinianos mortos. A organização investigou quatro destes casos, ocorridos em outubro e novembro, em que as forças israelitas usaram armamento letal e que resultaram na morte de 20 palestinianos, sete dos quais crianças. A investigação recolheu testemunhos de pessoas que assistiram às ações armadas, tanto moradores como prestadores de primeiros socorros. E concluiu também que além das mortes provocadas, as forças israelitas também impediram o acesso a assistência médica às pessoas com ferimentos que os colocavam em risco de vida, chegando mesmo a atacar quem os tentava socorrer, incluindo os paramédicos.
Segundo os números da Amnistia Internacional, pelo menos 507 palestinianos, entre os quais 81 crianças, foram assassinados por tropas israelitas na Cisjordânia em 2023, tornando-se assim o ano mais mortífero desde que a ONU começou a contabilizar estes incidentes.
"A coberto do bombardeamento implacável e dos crimes de atrocidade em Gaza, as forças israelitas desencadearam uma força letal ilegal contra os palestinianos na Cisjordânia ocupada, levando a cabo mortes ilegais e demonstrando um arrepiante desrespeito pelas vidas dos palestinianos. Estas mortes ilegais constituem uma violação flagrante do direito internacional em matéria de direitos humanos e são cometidas com impunidade no contexto da manutenção do regime institucionalizado de Israel de opressão e domínio sistemáticos sobre os palestinianos", afirmou Erika Guevara-Rosas, Directora de Investigação Global, Campanhas e Política da Amnistia Internacional.
Para acabar com o atual clima de "quase total impunidade", a responsável da organização defende que o Tribunal Internacional de Justiça deve investigar todas estas mortes e feridos como potenciais crimes de guerra. "A situação na Palestina e em Israel é um teste decisivo para a legitimidade e a reputação do tribunal. Não se pode dar ao luxo de falhar", disse Erika Guevara-Rosas.
A Amnistia Internacional diz que a situação se agravou desde os ataques de 7 de outubro, com quase 300 mortos até ao final do ano na Cisjordânia, uma subida de 50% face aos meses anteriores. E desde o início de 2024 até ao dia 29 de janeiro, mais 61 palestinianos morreram naquela região, incluindo 13 menores.
As questões enviadas pela Amnistia ao comando do exército israelita sobre os quatro casos analisados ficaram sem resposta. Um desses casos diz respeito a um raid das tropas israelitas ao campo de refugiados de Nour Shams, em Tulkarem, que começou a 19 de outubro e durou 30 horas, matando 12 palestinianos, incluindo seis menores. Durante a operação, bulldozers arrasaram estradas e infraestruturas de energia e água, arrombaram e destruíram 40 casas, fazendo buracos nas paredes para os seus atiradores se posicionarem. Um vídeo mostra um jovem de 15 anos que saiu de casa para ver se as tropas ainda se encontravam nas redondezas, caindo em seguida após ser baleado numa perna, no estômago e num olho. Quando o seu pai saiu de casa para o tentar trazer para um lugar seguro, foi baleado nas costas e acabou nos cuidados intensivos. Doze horas depois as tropas entraram na sua casa e fecharam a família num quarto sob vigilância de um soldado durante 10 horas, abrindo buracos nas paredes para os atiradores se posicionarem e espancando um dos membros da família enlutada.