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Almaraz: Conselho de Segurança Nuclear de Espanha “cede a pressões do setor”

Associação de Técnicos espanhóis denuncia que regulador “cede a pressões do setor em detrimento da segurança nuclear”, desvalorizando “incidentes” como os registados na central de Almaraz, e põe em causa a fiabilidade dos relatórios do CSN.
Associação de Técnicos espanhóis denuncia que regulador “cede a pressões do setor em detrimento da segurança nuclear”
Associação de Técnicos espanhóis denuncia que regulador “cede a pressões do setor em detrimento da segurança nuclear”

A Greenpeace divulgou, nesta terça-feira, uma carta da Asociación Profesional de Técnicos en Seguridad Nuclear (Astecsn) endereçada ao Congresso de Deputados de Espanha sobre o Conselho de Segurança Nuclear (CSN), onde denunciam a “grave deterioração da função reguladora deste organismo, devido à atuação dos seus atuais gestores” e pede a mudança de direção do CSN.

Segundo a Astecsn, o CSN “cede a pressões do setor em detrimento da segurança nuclear” e os técnicos que inspecionam as centrais, como a de Almaraz, “estão imersos numa política de medo” e “ocultação de informação”.

António Eloy do Movimento Ibérico Antinuclear (MIA) declarou ao Expresso: “Esta carta vem confirmar o que já suspeitávamos: a informação do CSN não é fidedigna”. O dirigente do MIA salienta que o regulador espanhol, por servir interesses económicos e políticos, emite pareceres “à revelia dos técnicos e inspetores”.

Na carta, a Astecsn acusa a atual direção do CSN de “pressionar os inspetores e técnicos avaliadores”, para “ocultarem informação interna e externa (não por ser de natureza reservada, mas para não prejudicar interesses espúrios)”.

A associação dos técnicos critica a alteração do sistema integrado de supervisão das centrais nucleares espanholas, levando a uma “desvalorização dos incidentes”. O sistema “converteu-se num tribunal em que os inspetores têm de defender as suas propostas perante a hierarquia do CSN, invariavelmente alinhada com argumentos que minimizem a severidade da classificação” dos incidentes, afirmam.

A Astecsn revela que os técnicos denunciaram à associação que são alvo de “pressões e ameaças para alterarem atas de inspeções”, recebem indicações para “não perderem tempo procurando incidentes” nas centrais nucleares e “estão imersos numa política de medo”.

“São especialmente ilustrativos os informes autocríticos dos reguladores japoneses analisando as circunstâncias que, a partir do organismo regulador, contribuíram para a gravidade do acidente de Fukushima. O paralelismo da situação que descrevem com a que observamos no CSN é preocupante”, realça a associação dos técnicos espanhóis.

O MIA decidiu pedir uma reunião urgente ao ministro do Ambiente de Portugal, João Matos Fernandes, com base nesta informação e face ao anúncio da autorização de um novo armazém de depósitos radioativos em Almaraz (que levará ao prolongamento da vida da central para além dos 40 anos). "Há desinformação ou falta de informação do Governo português, que presta demasiada confiança nos pareceres e informações fornecidas pelo CSN”, salientou António Eloy ao Expresso.

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