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Acionista chinês não paga impostos por dividendos da EDP

Em cinco anos, a China Three Gorges recebeu da EDP 725 milhões de euros livres de impostos, quase 400 mil euros por dia. Desde 2011 que a empresa do Estado chinês está registada no Luxemburgo, para que os dividendos da EDP não sejam tributados.
António Mexia, presidente da EDP, falando na cerimónia de assinatura de um acordo de cooperação com a China Three Gorges, Lisboa, 27 de maio de 2016 – Foto de António Cotrim/Lusa
António Mexia, presidente da EDP, falando na cerimónia de assinatura de um acordo de cooperação com a China Three Gorges, Lisboa, 27 de maio de 2016 – Foto de António Cotrim/Lusa

A notícia foi publicada no suplemento de Economia do jornal “Expresso” deste sábado, 28 de outubro de 2017.

Segundo o jornal, a China Three Gorges (CTG) comprou 21,35% da EDP em 2011, mas a transação só foi concretizada em 2012. Assim, a empresa chinesa não recebeu em 2012 os dividendos relativos a 2011. Essa situação baixou o preço da participação de 2,7 mil milhões para 2,55.

Em 2013, a EDP distribuiu o dividendo bruto de 18,5 cêntimos por ação, pelo que a CTG recebeu 144.417.249,67 euros de dividendos, correspondendo a 780,6 milhões de ações da EDP. Em 2014, 2015 e 2016, a CTG recebeu um montante semelhante em cada ano.

Este ano, os dividendos relativos ao exercício de 2016 aumentaram de 18,5 cêntimos por ação para 19 cêntimos por ação, pelo que a CTG terá recebido, em maio passado, 148,3 milhões de euros.

No total dos últimos cinco anos, a empresa chinesa terá recebido de dividendos da EDP mais de 725,9 milhões de euros, mais de 397 mil euros por dia, em média.

China Three Gorges e Fosun no paraíso fiscal Luxemburgo

Segundo o “Expresso”, a China Three Gorges terá registado, em 2011 no Luxemburgo, a China Three Gorges International Europe SA, para gerir a participação na EDP. O registo da holding de controle da elétrica portuguesa foi feito a 29 de novembro de 2011, um mês antes da compra dos 21,35% da EDP.

Controlando a EDP a partir da sua subsidiária no Luxemburgo, a empresa chinesa garante o não pagamento de impostos pelos dividendos que recebe da elétrica portuguesa e também que esses montantes poderão ser transferidos facilmente para a China, sem pagar impostos.

Segundo o jornal, a isenção fiscal da CTG no Luxemburgo deve-se ao denominado regime de “participation exemption”, o qual garante naquele país a não tributação de dividendos relativos a participações superiores a 10% ou em investimentos acima de 1,2 milhões de euros. Não admira, portanto, que uma dezena de bancos chineses já se tenha instalado no paraíso fiscal Luxemburgo.

Segundo o “Expresso”, quando a CTG comprou a participação na EDP, em 2011, Portugal já aplicava regime semelhante ao do Luxemburgo. A escolha do Luxemburgo por parte da empresa chinesa ter-se-á devido a maiores garantias de isenção de impostos por parte daquele paraíso fiscal e, também, devido ao facto da troika estar a intervir em Portugal e o rating do país ser considerado “lixo”, pelas empresas de rating.

Segundo o “Expresso”, também a chinesa Fosun, que detém 24% do BCP, controla as suas participações em Portugal a partir do Luxemburgo, onde criou duas empresas em 18 de outubro de 2016: a Chiado Luxembourg SARL e a Fosun Yinkong SARL, que controla a primeira e que é controlada pela Fosun Yinkong Holdings de Hong-Kong.

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