Chuvisca levemente. Quem passa ao longo do passeio estranha as cerca de 30 pessoas encostadas com as mãos à parede, mas quem esteve atento às notícias nas últimas semanas terá um ponto de referência. Só que ali, na Avenida de Roma, em Lisboa, as rusgas policiais não são comuns e ninguém está habituado a ver pessoas encostadas à parede.
A ação foi pensada pelos organizadores da manifestação “Não nos encostem à parede”, que no próximo sábado querem encher a Avenida Almirante Reis como demonstração contra o racismo e contra a política do governo da Aliança Democrática para a imigração.
“É um ato simbólico de encostar à parede”, explica Farid Ahmed Patwary, jornalista e tradutor que participou na ação. “Na avenida de Roma, onde isso nunca acontece”. O objetivo é chamar a atenção para a manifestação “pela dignidade dos imigrantes”.
Farid considera que “a imagem que vimos a 19 de dezembro não é boa” e que os protestos em torno da intervenção policial na Rua do Benformoso servem “para mudar essa imagem”. “Toda a gente quer ter dignidade”, diz.
A ação foi um “alertar” para o tratamento desigual que os imigrantes recebem em Portugal, neste caso em concreto pela polícia. Quem o diz é Miguel Garcia, um dos organizadores da manifestação e desta ação simbólica.
“Infelizmente, as operações policiais acontecem em bairros mais pobres e em zonas que são muito frequentadas por pessoas racializadas”, explica o organizador. “É a realidade que vivemos hoje em dia”.
Para a manifestação de sábado, a expetativa é que haja muita gente “a festejar a liberdade” e a “dizer que Portugal não é racista e não é xenófoba”. Para isso, é preciso “utilizar toda a força para sensibilizar as pessoas” para um “momento democrático e constitucional”.
Sobre as posições de Luís Montenegro, Miguel Garcia considera que “o primeiro-ministro está confuso” e não sabe “se é da AD ou do Chega”. “Ainda não percebeu muito bem o país onde está e no que se tornou: um incendiário”, mas o organizador espera que a manifestação de sábado relembre o líder do PSD.
A manifestação "Não nos encostem à parede" está convocada para este sábado, dia 11 de janeiro às 15h na Alameda.