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25 de Abril: dois meses antes
Mês -2 | Fevereiro de 1974
GRANDES TEMAS DO MÊS
O Livro
Sai a 23 o livro de Spínola “Portugal e o Futuro” que, segundo os membros do MFA vieram a reconhecer, “poderá ter ajudado os oficiais politicamente mais tímidos a vencer o complexo da apoliticidade das Forças Armadas, e portanto a acompanharem os camaradas já empenhados numa acção que iria desembocar do programa do MFA”.
A 13, Silva Cunha (Ministro da Defesa) dera despacho favorável sem o ter lido, com base no parecer de Costa Gomes.
A 18, Spínola entrega um exemplar a Marcelo Caetano, que o lê a 20 e, escreverá mais tarde, “ao fechá-lo, tinha compreendido que o golpe de Estado militar, cuja marcha já pressentia há meses, era agora inevitável”; e parte para o Buçaco, em férias de Carnaval, para reflectir.
O costume
Caetano faz quatro discursos este mês, com destaque para aquele em que tratou de “política ultramarina” (a 10, na ANP), rejeitando a “solução federalista”, que já sabia ir ser defendida por Spínola no livro que em Janeiro lhe anunciara (v. acima).
Manifestação estudantil contra a guerra colonial enfrenta polícia de choque.
Termina (desta vez com absolvição) o 2º julgamento do padre Mário, da Lixa.
Numa mesma semana a polícia entra duas vezes em instalações de Associações de Estudantes de Lisboa (Medicina e Farmácia) e diz ter encontrado tipografias a imprimir material clandestino.
Prosseguem as greves em numerosas empresas.
Por África
“Maravilhosos a actuar”, é como um fazendeiro branco de Vila Pery (Moçambique) se refere aos “Flechas” da PIDE-DGS recém-colocados nessa região. Imagine-se!
A deputada angolana Sincrética Torres diz, na Assembleia Nacional, ser “perigoso (e susceptível de aproveitamento preverso) que, próximo de Luanda, um agricultor africano receba 7$50 por kilo de algodão, enquanto os restantes (brancos) são pagos a 23$00”; a deputada Teresa Lobo insurge-se contra a colega, acusando-a de racismo.
O governo e a crise
Tendo em conta o que designa como “o fim do período de euforia económica do Ocidente”, diz o deputado Homem de Mello: “Eis-nos portanto a suportar os efeitos e consequências do temporal que desabou sobre o Ocidente”, pelo que “seria ridículo concluir que os males que presentemente nos afligem são essencialmente produto de erros e omissões de quem governa”. Parece estarmos a ouvir, a propósito da crise de agora, os deputados do PSD, o próprio Cavaco na sua última “mensagem” ao povinho.
Gente rija
Em visita ao quartel da Legião Portuguesa, o ministro da Defesa ouve do almirante Tenreiro, presidente da respectiva Junta Central: “Somos uma reserva com a qual a Pátria pode contar, pronta para actuar em qualquer sítio”. Esqueceu-se de dizer: excepto se for no Largo do Carmo, o Terreiro do Paço, a Emissora nacional, a Televisão, etc., como se iria ver daí a dois meses.
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