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Goldman Sachs sugeria confidencialmente a Barroso alterações às políticas da UE

Uma investigação do jornal Público nos arquivos da Comissão Europeia revela que durante a sua presidência, Durão Barroso manteve uma grande proximidade com a Goldman Sachs.
Durão Barroso a discursar, foto de João Relvas/Lusa.

Uma reportagem de investigação pelos emails, cartas e mensagens dos arquivos da Comissão Europeia, publicada este sábado no jornal Público prova que o banco de investimentos norte americano entregava em segredo a Durão Barroso sugestões de alteração às políticas da União Europeia (UE).  Lisa Rabbe, então diretora executiva do banco, escreveu em janeiro de 2005 num email para o conselheiro principal do presidente da Comissão que “o Goldman Sachs está encantado” com as políticas de Durão.

O artigo dá conta de vários encontros em pessoa entre Durão Barroso ou de assessores seus e responsáveis do Goldman Sachs. Por exemplo, em setembro de 2013 o CEO do Goldman Sachs Lloyd Blankfein escreveu-lhe, agradecendo a Barroso por se ter encontrado com ele, por ter participado numa reunião com os “senior partners” do banco e acrescentando que “gostei muito da nossa discussão produtiva sobre as perspectivas económicas mundiais.” Deste encontro do então Presidente da Comissão Europeia não foi feita nenhuma ata, nem consta dos registos na sua agenda pública, revela ainda o Público.

Durão Barroso poder-se-á ter encontrado com representantes do banco de investimento noutras ocasiões, uma vez que só em 2015 passou a ser obrigatória a divulgação de todos os encontros, formais e informais, de comissários europeus com representantes de instituições privadas. Ainda assim, sabe-se de vários momentos em que Barroso esteve com representantes do Goldman Sachs em contexto informal que não foram divulgados. O Público menciona, a título de exemplo, um jogo de futebol do Manchester United ao qual Barroso foi acompanhado de Peter Sutherland, quando este ainda era Presidente não executivo do Goldman Sachs International, cargo para o qual Barroso foi agora nomeado. O mesmo Peter Sutherland que Barroso nomeou um ano antes, com António Borges, na altura era vice-presidente do bando de investimento, um dos quatro membros de um painel de consultores especiais para a Energia.

A proximidade de Barroso com o banco de investimento não se fica por aqui, em 2008, Lisa Rabbe, referida acima, pediu um encontro com assessores de Barroso para discutir, entre outros, “as restrições nas políticas de livre circulação de capitais, trabalho e tecnologia” que limitavam “o crescimento da oferta”. Outro exemplo dado pelo Público é o de Jenny Cosco, uma dos seis lobistas oficiais da Goldman Sachs que, em 2005 lhe enviou, “confidencialmente”, um relatório sobre a legislação financeira, com a posição do banco sobre as regras que limitam as vendas a descoberto. Por último, Durão Barroso nomeou Otmar Issing, consultor do Goldman Sachs para o “Grupo de Alto Nível” que fez as bases da reforma europeia do setor financeiro. Todo o grupo foi muito criticado por quatro ONG que fizeram um relatório sobre as nomeações, em especial Issing que, segundo o relatório citado pelo Público, estava em conflito de interesses ao dar conselhos sobre políticas que diretamente afetavam o Goldman Sachs.

Em declarações ao Público, Durão Barroso negou “categoricamente” favorecimento do Goldman Sachs, mas Jean-Claude Juncker, que lhe sucedeu na presidência da Comissão Europeia, após um pedido de esclarecimento da provedora europeia Emily O’Reilly, lançou uma investigação sobre se Durão violou alguma norma europeia ao aceitar ir trabalhar no banco de investimento. Junker anunciou ainda que Barroso passará a ser recebido como um lobista, sem os benefícios a que teria direito se fosse recebido como ex-Presidente. A investigação dos arquivos da Comissão feita pelo Público termina em 2014, quando Barroso estava quase a terminar o seu mandato e convidou o número dois do CEO do Goldman Sachs para um encontro ao pequeno-almoço em Davos, à margem do encontro anual do Fórum Económico Mundial.

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