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"A cimeira de Glasgow pode ser o enterro do Acordo de Paris"

"Os compromissos de redução de emissões por parte dos Estados apontam para um aumento da temperatura em 2,7º Celsius. Paris tinha como objetivo 1,5.º, no máximo 2.º”, alerta Nelson Peralta.
“Não precisamos de castigar a população com preços elevados para lucros fantásticos. Precisamos de investimento público nos transportes", disse Nelson Peralta. Foto de Paula Nunes, esquerda.net.
“Não precisamos de castigar a população com preços elevados para lucros fantásticos. Precisamos de investimento público nos transportes", disse Nelson Peralta. Foto de Paula Nunes, esquerda.net.

Destacando a ausência do primeiro-ministro português na cimeira da COP26, Nelson Peralta começou por relembrar que Portugal é o país da Europa que “sofrerá os impactos mais profundos das alterações climáticas”, com a subida do nível médio do mar a ameaçar 150 mil pessoas, bem como um risco de incêndio “ainda mais intenso”.

“A cimeira de Glasgow pode ser o enterro do Acordo de Paris. Os compromissos de redução de emissões por parte dos Estados apontam para um aumento da temperatura em 2,7º Celsius. Paris tinha como objetivo 1,5ºC, no máximo 2ºC”, referiu o deputado na Assembleia da República.

No primeiro dia da cimeira, foi anunciado um acordo para acabar com a desflorestação, nomeadamente da Amazónia. “É um bom título mas que esconde a realidade: o desmatamento pode prosseguir por mais uma década e mesmo em 2030 não há nenhuma obrigação vinculativa para o terminar. Mais elucidativo é que este acordo substitui um outro que tinha 2020 como a data limite para a desflorestação da Amazónia. O governo brasileiro, claro está, assinou com agrado este novo acordo”.

Criticou também um dos objetivos da cimeira: a criação de um mercado global de emissões à imagem do mercado da União Europeia. “A própria Comissão Europeia - entusiasta desta solução - está a investigar o seu mercado de carbono por suspeitas de especulação. De facto, está inundado de fundos de investimento que nada têm a ver com emissões e que apenas procuram mais um mercado rentável, à custa do planeta e das dificuldades das populações”, denunciou. Pior, na última década, “este mercado deu 50 mil milhões de euros às principais empresas poluidoras da Europa. Em Portugal foram mil milhões à Cimpor, à Petrogal e à Secil, entre outras”.

É por isso que, diz, “as soluções de mercado são falsas soluções”. As suas consequências assim o comprovam nos preços dos combustíveis, onde os preços incomportáveis para as famílias são acompanhados por lucros recorde das petrolíferas, argumenta.

“Não precisamos de castigar a população com preços elevados para lucros fantásticos. Precisamos de uma empresa pública de energias renováveis e políticas para criar alternativas, com investimento público nos transportes gratuitos e na ferrovia e, sim, com preços de habitação que não expulsem as pessoas da proximidade do seu local de trabalho”, propõe.

Ao longo dos anos, “foi esta economia real que criou desigualdade social ao mesmo tempo que produzia o desastre climático. De Glasgow não pode sair a mesma lenga-lenga. Têm que sair soluções vinculativas que respondam verdadeiramente à urgência climática”, concluiu.

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