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9 de dezembro de 1985: Maria de Lourdes Pintasilgo formaliza candidatura presidencial

A engenheira química, dirigente eclesial, primeira mulher a ser ministra em Portugal e a única mulher a exercer o cargo de primeiro-ministro no nosso país, formalizou a sua candidatura com a entrega de cerca de 15 mil assinaturas no Tribunal Constitucional. Por Mariana Carneiro.
Maria de Lourdes Pintasilgo no almoço em homenagem à sua candidatura à Presidência da República, realizado na Estufa Fria, em Lisboa, a 17 de novembro de 1985. Foto de Alfredo Cunha. Lusa.

A 9 de dezembro de 1985, Maria de Lourdes Ruivo da Silva Matos Pintasilgo (1930-2004), engenheira química, dirigente eclesial, primeira mulher a ser ministra em Portugal e a única mulher a exercer o cargo de primeiro-ministro no nosso país, formalizou a sua candidatura à Presidência da República. Com a entrega de cerca de 15 mil assinaturas no Tribunal Constitucional, Pintasilgo volta a ser “a primeira mulher”. Desta vez, como candidata a Presidente da República nas eleições de 1986. Sem o apoio de qualquer máquina partidária, recolhia nas sondagens elevadas percentagens das intenções de voto. Os resultados eleitorais vieram, contudo, a contrariar as expectativas. Maria de Lourdes Pintasilgo obteve somente 7,4% dos votos. Na segunda volta, disputada entre Freitas do Amaral e Mário Soares, foi este último a ganhar as eleições.

A “candidata indomável”i que quer “mudar este estado de coisas”

Na primeira edição do jornal Democracia e Desenvolvimentoii, de 20 de abril de 1985, Pintasilgo dizia ao que vinha: “mudar este estado de coisas”:

Viveu este povo um dia de grande esperança. Mas hoje arrasta-se um tempo que tem sido de desencanto, de preocupações, de insegurança, de grandes ansiedades sobre o futuro.
As estruturas estão enferrujadas. Os mecanismos que nos deviam servir funcionam sem eficácia. A vida de todos os dias vem carregada do cumprimento de regras absurdas, de sujeição a uma ordem desorganizada. Há entre nós gente com fome, sem trabalho, sem salário, sem casa, sem cuidados médicos, sem a educação necessária, sem transportes. Há gente entre nós a viver abaixo do nível mínimo da dignidade humana. A justiça faz-se esperar.

Imagem do arquivo da Ephemera.

Assumia-se, à partida, como candidata independente, assinalando que “o diálogo franco e direto” era a forma que tinha para exprimir a sua independência “sem rotura nem indevido distanciamento”. Pintasilgo enquadrava-se “em valores e em referências que unem e não separam” e garantia que a sua candidatura “não é um ato isolado, é um processo coletivo”. “Ela pretende ser um contributo para a libertação das mentalidades, para que ideias diferentes se reúnam, conjuguem, convirjam”, apontavaiii.

Para Pintasilgo, nas mãos do Presidente da República estava “não só o poder de decidir. E de fazer atuar os mecanismos conhecidos. Mas o poder de ouvir para adequadamente analisar e equacionar os dados da crise; o poder de congregar para tornar consciente o primado do bem comum sobre os interesses individuais ou de grupo; o poder de inovar para encontrar caminhos alternativos; o poder de discernir para não ver cada situação de crise como mais uma rotina e descobrir o elemento-chave que, nesta crise, é a brecha, a saída, a solução adequada”.

“No momento atual, em que uns especulam sobre as hipóteses possíveis e outros adiantam as soluções que lhes parecem mais acertadas, recai sobre o Presidente da República o poder de criar, a partir da situação complexa que é a nossa, uma situação nova, capaz de revitalizar, por dentro, a própria democracia”, referiaiv

Durante a campanha, Pintasilgo abordou inúmeras temáticas, entre as quais a adesão à CEE. Defende que, ao contrário do que é propalado por muitos, a integração europeia não é o “grande desígnio nacional” nem a “prioridade das prioridades”. A candidata presidencial criticava a falta de transparência do processo, e a falta de preparação do país, questionando os motivos que levaram o governo de então a pedir a adesão à CEE. Pintasilgo defendia que a Europa “não se deve restringir ao mercado comum”: “Fomos artífices de uma Europa das culturas e é dessa Europa que podemos e devemos fazer partev, vincava. E sublinhava o papel decisivo que a Europa pode assumir no que respeita à “salvaguarda da paz e dos grandes valores que fizeram no passado a sua grandeza”. A candidata insurgia-se ainda contra a subserviência ao FMI, que punha em causa a soberania nacional e condicionava o desenvolvimento do país, e defendia a renegociação da dívida externavi.

Pintasilgo posicionava-se contra a privatização do Estado, como era defendido pela direita. De acordo com a candidata, o setor empresarial do Estado era indispensável. Sublinhava, por outro lado, que as suas estruturas deviam ser “racionalizadas, redimensionalizadas e dotadas dos meios necessários” e que devia existir uma “forma de controlo dos contribuintes” da sua gestão, na medida em que estava em causa o erário público. No que respeita ao setor privado, apontava a necessidade de existirem regras concretas definidas pelo Estado e de garantir o apoio público à economia. A luta pela transparência e a responsabilização contra a corrupção estavam entre as suas bandeiras. O desenvolvimento regional e a regionalização, bem como a implementação de um verdadeiro plano de desenvolvimento económico, a reestruturação do setor agrícola e a remodelação do sistema educativo também constavam da sua lista de prioridades.

Felicidade: “um valor político de que nunca se fala”

O aprofundamento da democracia, o envolvimento dos cidadãos nas decisões que afetam as suas vidas, a defesa de uma verdadeira democracia participativa, que extravasa a democracia representativa parlamentar, trespassava todo o discurso de Maria de Lourdes Pintasilgo. Bem como a luta por uma sociedade mais justa e igualitária, em que há direito à diferença e igualdade na diferença; a necessidade de pensar o outro; e a defesa dos direitos e interesses das mulheres e da sua igualdade, seja na esfera pública como na privada.

E a felicidade pessoal como “um valor absoluto” e como “um valor político de que nunca se fala”. “O que me preocupa a mim é a pessoa humana, é a felicidade, mas para se ser feliz é preciso o mínimo de dignidade. Como se pode aspirar à felicidade sem essas condições, como é que é possível?vii”, afirmava Pintasilgo, fazendo referência às “condições miseráveis” em que as pessoas “estão condenadas a viver”.

Na edição especial de Democracia e Desenvolvimento, Pintasilgo deixava “um apelo: formarmos em conjunto uma República de cidadãos que seja também a “terra da fraternidade” com que sonhámos um diaviii”.

"Engenheira de utopias"

Manuel António Pina, Eduardo Lourenço, Lindley Cintra, Natália Correia, Carlos Cal Brandão, Jorge Strecht Ribeiro, Maria Velho da Costa, Mário Tomé, Pezarat Correia, Costa Malheiros, Maria João Seixas, Maria do Céu Guerra, Hélder Costa, António Vitorino de Almeida, Pedro Barroso, Vitorino, Pedro Osório… Estes são alguns dos nomes daquelas e daqueles que expressaram publicamente o seu apoio à candidatura presidencial da “engenheira de utopias”, tal como lhe chamou Natália Correiaix.

Natália Correia, apoiante da candidata à presidência Maria de Lourdes Pintasilgo, no comício de encerramento da campanha eleitoral para as eleições presidenciais, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, a 24 de janeiro de 1986. Foto de António Cotrim, Lusa.

Lindley Cintra assinaloux “a sua independência, extrema simpatia e capacidade de uma comunicação em que se adivinha sinceridade e transparência, entusiasmo e esperança”. Sobre as críticas de ser utópica, o professor universitário destacou que, “para além do facto, que creio notório, de que os seus propósitos se vão tornando cada vez mais explícitos com base numa análise também cada vez mais rigorosa da situação atual, a verdade é que um idealismo utópico pode ser em certos momentos – e talvez sempre – oportuno e necessário como força atuante, em qualquer sociedade em crise, a fim de a levar a superar essa crise e de, apesar de forças contrárias, a levar a progredir”.

Para o maestro e compositor António Victorino de Almeidaxi, Pintasilgo “deixou atrás de si um rasto de humanidade e de esperança, um qualquer coisa de azul a lembrar manhãs de primaveras”. “Senti que Maria de Lourdes Pintasilgo poderia ser uma nova dimensão na política, poderia representar, de facto, um caminho aberto para o futuro e não mais uma repetição mais ou menos bem sucedida dos estafados esquemas”.

Durante a apresentação pública da candidatura, a 27 de julho, no Hotel Ritz, em Lisboa, o escritor Eduardo Lourenço referiu-se à candidatura de Pintasilgoxii como “uma candidatura vitoriosa de todos por todos e para todos” que surge do “desejo de mudança profunda no estilo e nos objetivos da nossa vida pública de que a hegemónica versão política é o reflexo deformado e deformante”.

“É ao mesmo tempo para uma relativização da esfera política na vida social e para uma participação mais séria e profunda dos cidadãos na solução dos seus próprios problemas ou na expressão deles como problemas de todos, que aponta a doutrina e o sentido, mais cultural e social do que ideológico ou estritamente político, da candidatura que tenho o prazer e a honra de vos apresentar”, afirmou.

Os ataques e críticas de que foi alvo

Durante a sua campanha, Maria de Lourdes Pintasilgo percorreu o país de lés-a-lés, privilegiando o contacto direto com as cidadãs e os cidadãos. Deu destaque aos problemas do interior e à necessidade de envolver as pessoas nas decisões que afetam as suas vidas e de valorizar a sua própria propositura. O entusiasmo da candidata foi contagiante. A sua candidatura atravessou vários quadrantes políticos e a adesão popular teve expressão nas várias visitas que fez pelo país. E as sondagens traduziam o fulgor da campanha, atribuindo-lhe elevadas percentagens das intenções de voto.

Mas as críticas também se fizeram sentir. No período em que assumiu a chefia do V Governo Constitucional (de julho de 1979 a janeiro de 1980), Pintasilgo já tinha resistido a pressões e ataques de toda a ordem, inclusive de carácter pessoal. “Terceiro mundista”, “Vasco Lourenço com saias”, esta última da autoria de Francisco Lucas Pires, do CDS, são apenas alguns dos exemplos das designações com que foi “presenteada” pela direita. O facto de uma mulher atrever-se, novamente, a romper os cânones e a invadir o espaço até então reservado aos homens não foi, como seria de esperar, bem tolerado. E o conservadorismo bafiento de uma classe política obtusa voltou a manifestar-se durante a campanha presidencial. As suas convicções religiosas também serviram como arma de arremesso, que foi mobilizada por setores da esquerda. Foi apelidada, com intenções depreciativas, de ser utópica e a sua candidatura foi muitas vezes tratada de forma condescendente.

Imagem publicada na página de facebook de Graal Portugal.

Entre algumas críticas de que foi alvo, Pintasilgo mereceu reparos por parte de algumas feministas devido ao seu posicionamento sobre o aborto. Quer por não ter ter levantado a questão quando foi primeira-ministra quer por ser, a nível pessoal, contra o aborto. A este respeito, a candidata afirmava que o aborto clandestino era uma situação dramática, para além de constituir uma forma de exploração comercial. Pintasilgo defendia que era necessário garantir o acesso ao planeamento familiar, à informação sobre saúde reprodutiva, por forma a que as mulheres pudessem viver plenamente a sua sexualidade estando informadas de todos os riscos e de todos os cuidados a ter em conta.

Eu não posso deixar de ser contra a situação que leva as mulheres a abortar (…) A minha posição é muito mais uma posição afetiva de solidariedade com as mulheres do que de seguidismo em relação a esta ou àquela orientação da igrejaxiii.

Em Os novos feminismos: interrogação para os cristãos?xiv, Pintasilgo assinalava que os assuntos sobre as mulheres que a Igreja prioriza dizem respeito a questões relacionadas com o corpo das mulheres, como a contraceção e o aborto. E acusava as entidades religiosas cristãs de assumirem uma postura passiva em relação ao holocausto nazi e às guerras que devastam o mundo: “Será a instituição eclesial tão incisiva, tão clara,tão precisa a falar da vida humana, espezinhada por estas guerras como o é em relação a tudo o que diz respeito à concepção dessa mesma vida?”.

Pintasilgo “tem a coerência de uma vida, não a fatalidade de uma desistência”

Numa entrevista ao jornal Público, datada de novembro de 2001, Pintasilgo assinalava três dimensões da sua pessoaxv. Uma pessoa “fascinada pelo saber e por passear entre os saberes”. “Cada vez aprecio mais o saber rigoroso, profundo, interrogativo. O passear entre os saberes é isso, não passa por uma especialização em tudo, mas sim por uma capacidade de apreensão e de compreensão da ‘outra’ coisa”, explicava. Uma pessoa “visceralmente movida pelo dever”. “É um dever que diz ‘é preciso fazer isto que ainda não foi feito’, é um chamamento do que ainda não está”, salientava. Uma pessoa com “uma sensação de pertença sem limites ao mundo”. “Quando falo em pertença, falo na convicção de que neste espaço tão diverso estamos todos ligados uns aos outros, de uma maneira que não é moralista, estamos ligados porque existimos”, clarificava.

Para se definir, Pintasilgo chegou a recorrer a dois poemas, um dos quais de Mário de Sá Carneiro: “Tenho a dor de ser quase em relação a quase tudo na vida”.

Durante a sua vida, Pintasilgo ocupou cargos de grande relevância institucional, quer a nível nacional como internacional. Deixou um vasto pensamento que vai das questões feministas ao papel da Igreja e da fé, à política, à economia, ao ambiente.

Frontalidade, perspicácia política, entusiasmo contagiante, exigência, cultura, inteligência, generosidade, capacidade de trabalho, coerência, independência, abertura, empatia, solidariedade, coragem, honestidade intelectual, responsabilidade, humanidade. Estas são alguns dos atributos que trespassam os testemunhos recolhidos por ocasião do septuagésimo aniversário de Maria de Lourdes Pintasilgoxvi.

Nessa compilação, Ramalho Eanes avançou com uma justificação para o facto de não ter apoiado a candidatura presidencial de Pintasilgo: “(…) com o seu forte sentido de rebelião face à cidadania passiva instalada, estaria condenada a pregar no deserto ou, mesmo, a ser politicamente crucificada”. Vasco Gonçalves, por sua vez, identificou-a como uma “verdadeira mulher do Movimento das Forças Armadas”.

Já Miguel Portas afirmou que, no seu currículo, Maria de Lourdes Pintasilgo “tem a coerência de uma vida, não a fatalidade de uma desistência”.

Maria de Lourdes Pintasilgo. Trabalho de Almerinda Bento.

“Furar esse silêncio de vergonha é um imperativo”

“A partir da eleição de Mário Soares, em Janeiro de 1986, e da implantação do liberalismo no Governo, tornou-se óbvio que a sociedade portuguesa, na sua expressão política institucional, não tinha lugar para uma pessoa como eu”, afirmava Pintasilgo em 1995.

Não obstante o seu inestimável contributo, Maria de Lourdes Pintasilgo não só não mereceu o devido reconhecimento em Portugal como o valioso capital que nos deixou não foi potenciado.

“Maria de Lourdes Pintasilgo tinha como evidente que, sendo a política a expressão de uma visão e não uma técnica engenhosa de gestão de expetativas, era esse primado da vida boa e feliz de cada um/a e de todos/as que devia ser o princípio de organização económica e social em todas as escalas, desde a casa até ao mundo. Sem nenhuma submissão a cartilhas ideológicas e com toda a alma”, escreveu José Manuel Purezaxvii.

“Essa luta política e cultural por uma democracia completa, em que a representação dedicada seja permanentemente interpelada por uma participação crítica e que dê expressão à prioridade da justiça intra e intergeracional valeu a Maria de Lourdes Pintasilgo a desconsideração do Portugal pequenino e mesquinho. Esse Portugal de chico-espertos, da vidinha, do respeitinho, de senhoritos empertigados na obediência aos cânones não perdoou ser desafiado por uma mulher inteligente e irreprimivelmente livre. Furar esse silêncio de vergonha é um imperativo”, acrescenta o dirigente bloquista.

Na intervenção feita na sessão pública a propósito dos 70 anos de Maria de Lourdes Pintasilgo, no Palácio Foz, em Lisboa, Boaventura de Sousa Santos também denunciou aquela que considera ser “a cultura de desperdício de capital humano que assola o nosso país”:

O motivo da nossa convocatória é uma ação cívica de protesto contra a cultura de desperdício de capital humano que assola o nosso país, a qual lhe permitiu, durante quase duas décadas, dispensar os préstimos, os serviços, os talentos de uma das mais lúcidas personalidades políticas e intelectuais deste século. Não é caso único, mas é um caso gritantexviii

Neste contexto, e tal como frisa José Manuel Pureza, “divulgar o pensamento de Maria de Lourdes Pintasilgo é uma exigência de primeira importância para o refrescamento da democracia”.

A então primeira-ministra Maria de Lourdes Pintasilgo durante uma entrevista à RTP, em Lisboa, a 10 de setembro de 1979. Foto de Alfredo Cunha, Lusa.

BIOGRAFIA DE MARIA DE LOURDES RUIVO DA SILVA MATOS PINTASILGO

Maria de Lourdes Ruivo da Silva Matos Pintasilgo nasceu a 18 de janeiro de 1930, em Abrantes. Era filha de um empresário da indústria de lanifícios da Covilhã e de uma doméstica. Com apenas sete anos, a sua família mudou-se para Lisboa, onde Pintasilgo frequentou o Colégio Garrett. Em 1940, ingressou no Liceu D. Filipa de Lencastre. A sua inteligência fez-se notar desde cedo, tendo terminado o curso como melhor aluna do liceu. Em dois anos consecutivos, recebeu ainda o Prémio Nacional.

Foto do arquivo da Fundação Cuidar o Futuro

Posteriormente, entrou para o curso de Engenharia Químico-Industrial do Instituto Superior Técnico (IST), que era “um reduto ainda esmagadoramente masculino”. De um total de 250 alunos que frequentavam este curso, apenas três eram mulheres. Sobre o seu tempo no IST, Pintasilgo referia que encontrou “um grupo de colegas que não fez senão alargar” os seus “interesses e preocupações. Era um grupo de excecional qualidade intelectual, em que camaradagem, trabalho em conjunto e solidariedade constituíam a trama da vida escolar”xix.

Foto do arquivo da Fundação Cuidar o Futuro

O Graal e a relação da Igreja com as mulheres

Aderiu à Juventude Universitária Católica Feminina – JUCF, que chegou a presidir entre 1952 e 1956. Para Pintasilgo, “a Ação Católica foi muito importante, porque funcionava segundo uma metodologia própria: ‘Ver, Julgar e Agir’ ou seja, estar atenta às coisas e aos factos e analisá-los para ver o que era preciso fazer, e então fazê-lo”. “Todos os fins-de-semana tinha atividades com os diferentes círculos universitários do país. (...) Desse tempo vem o meu interesse pela transformação das estruturas e das instituições, a par da mudança dos corações e das mentalidades”, acrescentava. Presidiu, juntamente com Adérito Sedas Nunes ao I Congresso Nacional da Juventude Universitária Católica que juntou, em abril de 1953, cerca de 2000 estudantes.

Foi, entretanto, eleita, por aclamação, presidente da Pax Romana – Movimento Internacional de Estudantes Católicos (MIEC), cargo que exerceu entre 1956 e 1958. Foi nessa qualidade que realizou inúmeras viagens e presidiu a várias iniciativas internacionais: Gana (I Seminário de Estudantes Cristãos Africanos das Universidades ao sul do Sahara), El Salvador (Assembleia-Geral do MIEC), Viena de Áustria (Congresso Mundial de Estudantes e Intelectuais Católicos). No discurso de boas-vindas proferido em Acra, capital do Gana, posicionou-se publicamente a favor da independência das colónias. Tal atitude valeu-lhe, no regresso a Lisboa, uma visita ao presidente da empresa onde trabalhava, ao ministro da Presidência Marcelo Caetano e ao Cardeal Patriarca de Lisboa.

Pintasilgo destacava a “possibilidade de viajar e de viver intensamente a dimensão internacional da vida, com o conhecimento e a mistura com outros povos, outras culturas, outras formas de viver e de pensar. Tudo isto era como um puzzle dentro de mim, com peças diversas mas igualmente importantesxx.

Numa das suas deslocações, derivadas da sua participação no MIEC, conhece Rosemary Golde, e, por seu intermédio, o movimento de mulheres católicas Graal. Em 1957 cria, conjuntamente com Teresa Santa Clara Gomes, uma filial do Graal em Portugal. Pintasilgo viveu intensamente o anúncio do Concílio Vaticano II. A partir de 1964, assumiu a vice-presidência internacional deste movimento, no âmbito do qual foi coordenadora de programas de formação e de projetos-piloto no domínio da emancipação da mulher, do desenvolvimento, da ação sociocultural, entre outros. Neste período representou o Graal em inúmeras atividades internacionais e foi mentora de inúmeros projetos. Entre eles, o processo de alfabetização pelo método de Paulo Freire. Dirige o Centro Internacional Interdisciplinar “Tiltenberg”, passando parte do tempo na Holanda e nos Estados Unidos. Simultaneamente foi designada, pelo Papa Paulo VI, representante da Igreja Católica num grupo de ligação ecuménica com o Conselho Mundial das Igrejas (1966-1970).

A propósito da sua integração no Graal, Pintasilgo afirmava:

Andava, desde muito nova, interessada na questão do que é ser mulher, por que é que os homens fazem determinadas coisas e as mulheres outras, por que é que os homens são educados de uma maneira e as mulheres doutra. Queria aprofundar esse ser mulher para além dos cânones estabelecidos. Entretanto, vinda embora de um meio onde a fé e a religião não eram muito presentes, tinha-me tornado numa cristã convicta, num momento em que muitas das formas do cristianismo no nosso país eram muito fechadas, não iam às fontesxxi.

Quando encontrei o Graal (um pequeno grupo, como uma tribo!), foi um momento de grande felicidade, porque sendo um movimento internacional de mulheres cristãs, o Graal reunia todas essas peças que faziam parte de mim, das minhas inquietações, das minhas demandas e eu dei-me conta de que aquilo que era uma atitude individual, existia afinal coletivamentexxii

Pintasilgo debruça-se sobre a questão da relação da Igreja com as mulheres.

É nesta experiência que a liberdade do homem-de-fé se vai construindo. Vai a cada momento refazer a imagem que tem de si próprio e a imagem que tem de Deus... a experiência de fé será tanto mais próxima da verdade de Deus quanto mais se desfizerem os mitos, as imagens, as construções que o próprio homem produziu e substituiu a Deusxxiii

Através de toda essa literatura, torna-se patente que a simbólica primordial cristã está profundamente centrada no masculino. Esse facto, longe de ser ressentido como obstáculo, surge como elemento fundamental da exegese cristã. Com efeito, à luz das religiões comparadas, Yahvé aparece como uma revelação única em Israel. Essa revelação surge num mundo rodeado de religiões muito primitivas, mas onde o elemento feminino era fundamental. No círculo formado pelas grandes religiões da Índia, da Pérsia e do mundo celta, os mitos fundamentais identificam-se de forma impressionante com a deusa-mãe, a fecundidadexxiv

O início das interrogações do processo económico

Pintasilgo iniciou a sua carreira profissional em setembro de 1953 como investigadora na Junta Nacional de Energia Nuclear, na qualidade de bolseira do Instituto de Alta Cultura. Posteriormente foi nomeada chefe de serviço no Departamento de Investigação e Desenvolvimento da Companhia União Fabril (CUF). Esta empresa aceitou pela primeira vez uma mulher nos seus quadros técnicos superiores. Entre setembro de 1954 e outubro de 1960 assumiu a direção de projetos no Departamento de Estudos e Projetos da CUF. Ainda enquanto estudante, Pintasilgo faz um estágio na CUF e nas instalações das tintas Dyrup, em Sacavém: “O meu verdadeiro batismo profissional teve lugar na então maior empresa do país, a C.U.F., na primeira equipa de investigação e desenvolvimento que existiu na indústria portuguesa. (...) Fui a primeira engenheira numa empresa de 40 000 operários”xxv

Para mim, isso foi o início das interrogações do processo económico: o modo como se servia das pessoas, o modo como a industrialização, que parecia uma necessidade para o desenvolvimento do país, quando se olhava a médio prazo, era feito dum quotidiano de sacrifício para milhares de pessoas, da sua vida pessoal, das suas condições de relacionamento, de vida de família, etc...xxvi

Nos anos 50, através da Acção Social Universitária e, mais tarde, no meio fabril, percebi que as mulheres viviam não só sexualmente discriminadas pelos homens mas dominadas por eles em formas que violavam toda a dignidade da pessoa humana. Em oficinas só de mulheres, os contramestres exigiam o silêncio face a toda a espécie de chantagem sexual. [...] Percebi então que a condição operária, que me levara até à engenharia, se sobrepunha, no caso das operárias, à sua condição de mulheres. As condições físicas do trabalho eram inaceitáveis. Os abortos chegavam a atingir 6 ou 7 por cada mulher trabalhando em fábricas - era um sofrimento marcado em rostos envelhecidos de mulheres que ainda não tinham trinta anos. (Pasta nº 0024.011)xxvii

Participação no governo de Marcelo Caetano

Em novembro de 1969, após recusar o convite de Marcelo Caetano para fazer parte da lista de deputados à Assembleia Nacional, Pintasilgo acedeu ao seu convite para ser procuradora à Câmara Corporativa na Secção XII – Interesses de ordem administrativa, 1.ª Subsecção: Política e Administração Geral. Foi a primeira mulher a exercer funções nesta secção, na qual se manteve até abril de 1974. Durante este período, assinou doze pareceres da Câmara Corporativa, dois com declaração de voto e sete com voto de vencida sobre matérias como a liberdade de imprensa, o modelo de desenvolvimento económico e as alterações constitucionais.

O obstáculo intransponível que era para mim o regime de partido único levou-me a recusar. Já a Câmara Corporativa, para a qual fui convidada depois, se me afigurou algo de completamente diferente. (...) Posso dizer que a minha tarimba política foi feita ali. Foi lá que pela primeira vez me apercebi de como é que as coisas funcionam por dentro, das teias, cumplicidades e cedências do poder... Aprendi muito na Câmara Corporativa, não só em razão dos trabalhos concretos em que participei, mas sobretudo por aquilo que ouvia aos meus colegas, muitos dos quais ex-Ministros do regime. Ajudou-me a clarificar as minhas opções, em imensos aspetos contrárias às deles. Ao mesmo tempo, a minha participação na Câmara Corporativa serviu para salvaguardar outras atividades públicas de carácter não governamental, em que estava profundamente empenhada (MPSC p.220)xxviii

Entre maio de 1970 e setembro de 1973, trabalhou como consultora junto do Secretário de Estado do Trabalho e Previdência, Joaquim Silva Pinto. Presidiu também, a convite de Marcelo Caetano, ao Grupo de Trabalho para a Participação da Mulher na Vida Económica e Social. No âmbito deste grupo, integrou a Delegação Portuguesa à Assembleia Geral da ONU. Neste contexto realizou cinco intervenções, subordinadas às problemáticas: o direito dos povos à auto-determinação (novembro de 1971), a juventude (dezembro de 1972), a condição feminina (novembro de 1972), a situação social no mundo (outubro de 1971), a liberdade religiosa (dezembro de 1972)xxix.

A proposta para presidir a este grupo coincidiu com a escalada na Imprensa dos problemas da mulher. Foi isso que me levou a tentar alguma coisa a nível legislativo. Comecei então a trabalhar numa legislação que considerava as mulheres como um grupo social, que as considerava não só no trabalho, mas no trabalho e no exercício da sua dupla tarefa. O que estava em causa era o problema da igualdade de oportunidadesxxx (in SOUSA, Antónia de, “Tenho medo de que a História passe ao lado”, Modas & Bordados, 18-2-1974)

Manteve-se no Ministério das Corporações e Previdência Social até à instituição da Comissão para a Política Social relativa à Mulher, em setembro de 1973. Foi nomeada presidente desta Comissão que, em 1975, ganhou a designação de Comissão da Condição Feminina.

Os objectivos da comissão (...) eram muito amplos e eram portadores de toda uma convicção de que as mulheres constituem um grupo social discriminado. (...) Os limites da comissão residiam, justamente, no seu carácter inconformista (...).xxxi

Participação nos Governos Provisórios

Após a Revolução dos Cravos, Pintasilgo foi nomeada secretária de Estado da Segurança Social no I Governo Provisório, chefiado por Palma Carlos. Entre julho de 1974 e março de 1975 assumiu, como ministra, a pasta dos Assuntos Sociais nos II e III Governos Provisórios. O seu programa, no qual foi introduzida a aplicação do princípio da universalidade das prestações sociais do Estado, foi distinguido com a classificação de programa-modelo pelo Secretariado do Desenvolvimento Social para a Europa da ONU. Entre maio e setembro de 1975 pertenceu ao Conselho de Imprensa.

Quando fui Ministra dos Assuntos Sociais, há mais de vinte anos (...) decidi intervir em todos os assuntos. Mesmo naqueles que não me diziam diretamente respeito e que eram, acentuadamente, do domínio masculino, como a Justiça, a Defesa, a Descolonização, os Negócios Estrangeiros. Para muitas pessoas isto foi visto como querendo eu abarcar mais do que me cabia. Na realidade, o que eu queria, e consegui, foi falar das coisas que os homens falavam para depois eles me escutarem naquilo que eu tinha a dizer: a necessidade da introdução da pensão social, a necessidade de um salário mínimo, a extensão da cobertura da Saúde aos rurais, etc., etc. Eu queria fazer entrar esse cuidado da sociedade por todos, sem que ficasse alguém de fora. Para isso tive de falar a linguagem da mesaxxxii

Em maio de 1975, voltou a assumir a presidência da Comissão da Condição Feminina. Em agosto do mesmo ano, tomou posse como embaixadora junto da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Foi eleita, por um período de quatro anos, membro do Conselho Executivo da UNESCO.

Chefia do V Governo Constitucional

O Presidente da República, General Ramalho Eanes, escolheu Maria de Lourdes Pintasilgo para chefiar o V Governo Constitucional, face à ausência de acordos parlamentares, e à consequente queda dos I e II Governos Constitucionais.

Mais tarde, quando questionado pelo Expresso sobre a sua decisão, Eanes explicou que optou por Maria de Lourdes Pintasilgo por ser “uma mulher de princípios, valores, culta, de boa formação académico-científica, com experiência política, com longa prática de ação na área internacional, e, além disso, ousada, determinada e corajosa”.

Foto do arquivo da Fundação Cuidar o Futuro

A 19 de julho de 1979, Pintasilgo foi indigitada para chefiar o V Governo Constitucional. Este governo de gestão, em funções entre 3 de setembro de 1979 e 3 de janeiro de 1980, foi incumbido de preparar as eleições legislativas intercalares marcadas para o final desse ano.

Pintasilgo foi alvo de pressões e ataques de toda a ordem, inclusive de carácter pessoal, cuja “virulência despropositada de que se revestem”, constitui “uma grave ameaça aos valores que sempre cimentaram a vida portuguesa”xxxiii.

“Vasco Gonçalves de saias”, “socialismo terceiromundista”, “neogonçalvismo de saias e espartilho” são algumas das expressões utilizadas por dirigentes dos partidos da Aliança Democrática que ocupam as páginas dos jornais.

A dificuldade maior não esteve no povo, mas na classe política, especialmente a conservadora, que via numa mulher uma ameaça ao seu conservadorismo.xxxiv, afirmava Pintasilgo.

"Quando, porém, as circunstâncias políticas começaram a conjugar-se para que eu exercesse a função de Primeira-Ministra, desencadeou-se na classe política e em vários órgãos de informação uma verdadeira «revolta» cuja análise, feita a frio muitos anos depois, permite perceber que continuam vivos, no fim do século XX, os fantasmas que na idade média conduziam a sociedade a exorcizar e a punir severamente as mulheres que ousavam ter uma palavra própria na cidade dos homens" (Pintasilgo, 1995:223), explicava a ex chefe de Estadoxxxv.

A primeira-ministra Maria de Lourdes Pintasilgo e o Presidente da República Ramalho Eanes durante um comunicado sobre o violento sismo que ontem atingiu a ilha dos Açores, Lisboa, 2 de janeiro de 1980. Foto de Luís Vasconcelos, Lusa.

Pintasilgo inaugurou, pelas suas próprias palavras, “uma outra forma de governar”, caracterizada por um “princípio de ação decisória próxima das pessoas a quem a decisão dizia respeito”.

Ainda que com os constrangimentos de um Orçamento Geral do Estado limitado, que não tinha sido aprovado pelo seu Governo e já estava no 3º trimestre de aplicação, o mandato de Pintasilgo, de apenas quatro meses, ficou marcado pelo aumento do salário mínimo, do subsídio de desemprego e das pensões de velhice e invalidez, pela aprovação de um esquema mínimo universal de proteção social, com mais de dois milhões de pessoas, anteriormente desprotegidas, a beneficiarem desta medida, pela aprovação do Código de Processo do Trabalho e pela promoção da igualdade entre homens e mulheres no trabalho e emprego.

Após as legislativas de 1979, com a Aliança Democrática de Sá Carneiro e Amaro da Costa a assumir o poder, muitos dos despachos de Pintasilgo foram simplesmente atirados ao lixo.

Movimento para o Aprofundamento da Democracia

Um ano depois, Pintasilgo apoiou a candidatura do general Ramalho Eanes à Presidência da República e, com a sua eleição, exerceu funções como sua consultora entre 1 de outubro de 1981 e 1 de fevereiro de 1985. Ficou responsável, nesse período, pelo dossier Timor-Leste.

No início dos anos 1980, Pintasilgo iniciou uma ação cívica orientada para o aprofundamento da democracia, Pintasilgo dinamizou importantes movimentos sociais e cívicos, entre os quais a Rede de Mulheres (1980-1986), a Plataforma Inter-Grupos, o Movimento para o Aprofundamento da Democracia (MAD), surgido entre 1982 e 1985, e a Plataforma Europeia para o Ambiente.

Na base do Movimento para o Aprofundamento da Democracia (MAD) está a crença de que “a democracia não se esgota na sua vertente parlamentar”xxxvi e de que é preciso garantir uma “articulação entre democracia representativa e direta”.

Pintasilgo sublinhava que “o contexto político dos últimos anos veio demonstrar que é cada vez mais necessária uma intervenção a nível da sociedade enquanto tal e não ao nível do Estado”xxxvii, pelo que o MAD surge como “um movimento cívico-cultural privilegiando a intervenção social transformadora”xxxviii.

A candidata à Presidência da República Maria de Lourdes Pintasilgo no comício de encerramento da campanha eleitoral, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, a 24 de janeiro de 1986. Foto de António Cotrim, Lusa.

Seguiu-se a candidatura às eleições presidenciais de 1986, em que Maria de Lourdes Pintasilgo obteve 7,4% dos votos, não passando da primeira volta. Mário Soares e Freitas do Amaral disputam a eleição na segunda volta, tendo sido o socialista a ser eleito presidente da República.

Entre 1987 e 1989, Pintasilgo rumou a Bruxelas, eleita como eurodeputada na qualidade de independente integrada no Grupo Socialista.

O plano internacional

Foi no plano internacional que, a partir da década de 80, Maria de Lourdes Pintasilgo exerceu maior atividade. Foi membro do conselho diretivo do World Policy Institute da New School of Social Research (1982). do Conselho de Interação de Ex-Chefes de Governo (1983), assumindo a sua vice-presidência entre 1988 e 1993. Foi também membro do Conselho Diretivo da Universidade das Nações (1983 a 1989), do Conselho da Ciência e da Tecnologia ao Serviço do Desenvolvimento (1989 a 1991) e do Grupo de Peritos da OCDE sobre A Mudança Estrutural e o Emprego das Mulheres (1990-1991).

Foto do arquivo da Fundação Cuidar o Futuro

Entre 1990 e 1992 foi conselheira especial do Reitor da Universidade das Nações Unidas. De 1992 a 1994 foi presidente do Grupo de Peritos do Conselho da Europa sobre Igualdade e Democracia. O seu reconhecimento internacional levou-a ainda à liderança da Comissão Mundial Independente sobre a População e Qualidade de Vida entre 1992 e 1997). Presidiu igualmente ao Conselho Diretivo do WIDER/UNU, Instituto Mundial de Investigação sobre Desenvolvimento Económico da Universidade das Nações Unidas (entre 1993 e 1998) e ao Comité dos Sábios (entre 1995 e 1996).

Foto do arquivo da Fundação Cuidar o Futuro

Do seu currículo consta a participação em numerosos simpósios, encontros, colóquios em universidades, institutos religiosos e organizações cristãs, entidades internacionais (OCDE, ONU, UNITAR, OIT, NATO, UNESCO), em associações e movimentos de mulheres, fóruns políticos e sociais em todo o mundo.

Maria de Lourdes Pintasilgo na reunião de antigos chefes de Estado e de governo o Interaction Council, realizado no Hotel Ritz, em Lisboa, a 26 de janeiro de 1988. Foto de Alfredo Cunha, Lusa.

Conforme destaca a Fundação Cuidar do Futuro, foi membro das seguintes entidades: Fundação Europa - América Latina (1984); Clube de Roma, Paris (1984); Pax Christi (1984); Movimento Internacional de Mulheres Cristãs; Sisterhood is Global Institute, em Nova Iorque (1986, tornando-se sua presidente, em 1994); do comité consultivo do Synergos Institute, Nova Iorque (1988); Instituto para o Desenvolvimento e a Acção Cultural (IDAC), Rio de Janeiro (1997); Institute for Democratic Electoral Assistance, em Estocolmo (1997); Conselho de Women World Leaders, Cambridge (1998) e membro do World Order Model´s Project.

Foto do arquivo da Fundação Cuidar o Futuro

O combate contra a opressão da mulher

“Até ao dia 10 de julho de 2004, data da sua morte, a sua atitude arrojada e curiosa sempre se destacou, nomeadamente na defesa e preocupação com o estatuto e condição das mulheres, o que a levou a estar na linha da frente na criação do que viria a ser a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG)”, lê-se num comunicado da CIG.

Na nota publicada no seu site, a CIG assinala ainda que “Maria de Lourdes Pintasilgo foi uma personalidade ímpar da política nacional e uma referência nacional e internacional na defesa dos direitos e interesses das mulheres e da sua igualdade, tanto na esfera pública como na esfera privada”.

Maria de Lourdes Pintasilgo durante o seminário Mulher em Portugal, em Lisboa, a 6 de janeiro de 1985. Foto de António Cotrim, Lusa.

Em 1968, ao discursar, em Nova Iorque, sobre o papel das mulheres no mundo moderno, Pintasilgo afirmava:

A definição biológica da mulher, assumida, século a século, como inferioridade, e assim considerada na lei e no comportamento, está na raiz da sua situação específica de minoria cívica, de exploração social e económica. Embora essas características pareçam comuns a outros grupos, elas recebem uma nova ênfase pela sua base biológica, no caso dos grupos sociais formados por mulheres. Vejamos como: por causa da sua capacidade de procriação, as mulheres são reduzidas a uma condição de cidadania de segunda classe e relegadas à condição de mera dona de casa. (Pasta nº 0044.029)

Numa entrevista concedida à F Magazine, em setembro de 1979, Pintasilgo apontava, por sua vez, que “a grande maioria de mulheres continua a ser um proletariado dentro do proletariado”.

Questionada por Helena Salem, a 1 de agosto de 1979, sobre o movimento feminista (no singular), Pintasilgo responde:

Nas sociedades industrializadas os movimentos feministas, com todos os exageros das suas políticas e das suas atitudes, têm tido um comportamento e uma ação muito importantes na vida social, porque têm demonstrado que as estruturas familiares, sociais, de trabalho, tal como estão, não estão certas. Não servem não só às mulheres, como também não servem aos homens; são simplesmente desumanas. (Pintasilgo, 1980:35)

Em entrevista a O Jornal, Pintasilgo tece o seguinte comentário:

Entre nós, a movimentação de mulheres tem, porém, características próprias, que importa não esquecer. A luta das mulheres em Portugal não se coloca em termos exclusivamente feministas, como nos países industrializados, nem tão pouco em termos exclusivamente políticos, como é o caso de certos países do Terceiro Mundo. Revela-se entre nós uma evidente sintonia entre a participação das mulheres na transformação das suas próprias vidas e a sua luta, como cidadãs, por uma sociedade com um projecto inovador e solidário. (Pasta nº 0231.005)

Em Os novos feminismos: interrogação para os Cristãos?, defende que “O feminismo não é a luta das mulheres contra os homens: é a luta das mulheres pela sua autodeterminação; é o processo de libertação de uma cultura subjugada; é a conquista que do espaço social e político onde ser mulher tenha lugar. (Pintasilgo, 1981:23)”

“Se continuamos a chamar ‘feminismo’ à luta das mulheres hoje, fazemo-lo com a consciência de que se trata de uma etapa totalmente nova. Ao tomarem consciência da discriminação que as atinge, as mulheres verificam que essa discriminação tem que ver com outras formas de violação de direitos humanos nas sociedades, com outras injustiças e opressões. Por isso põem em causa a ideologia dominante que é afinal a racionalidade da exploração, da desordem, do egoísmo e da luta pelo poder", continua.

Num texto retirado de Palavras dadas, surge ainda a seguinte frase: “Vincular as mulheres, ou a sua identidade, a uma atividade específica, ou a uma organização própria do tecido social, é cair de novo na essência do feminino, ‘na natureza’ da mulher.” (Pintasilgo, 2005:304)

Pintasilgo evitava falar da “mulher”, falava das “mulheres”:

Evito deliberadamente o uso do singular para tornar explicita a pluralidade das situações, das histórias, das mundivivências

(…) se sobretudo nas últimas décadas, poucos se atreveriam a escrever os exactos encómios e diatribes dos seus antepassados sobre as mulheres, os factos aí estão a revelar que, se houve progresso, talvez ele tenha mais a ver com a contenção das palavras e até, é justo dizê-lo, com a evolução das leis, do que com as práticas diretas ou subtilmente discriminatórias que atingem ainda hoje as mulheres. O que não se é capaz de dizer porque se sabe não ser ‘politicamente correcto’, recalca-se e, na primeira ocasião, rebenta como violência física ou como displicência verbal, como discriminação social e económica ou como tentativa de remeter à invisibilidade as mulheres que ousam viver a igualdade (Prefácio do Livro de Regina Tavares da Silva “A Mulher – Bibliografia Portuguesa Anotada (1518-1998), publicado em 1999)

Em 2002, questionada sobre o maior problema que as mulheres enfrentavam, Pintasilgo foi perentória: “A sua situação de menoridade camufladaxxxix”.

Fundação Cuidar O Futuro

O interminável currículo de Pintasilgo conta com uma passagem, em 1987, pela Universidade Internacional de Lisboa, onde lecionou um Curso sobre Problemas de Desenvolvimento Global. Em 1994, foi professora na Universidade Aberta de Lisboa, no âmbito do Mestrado em Relações Interculturais, da disciplina Nacionalidade, Cidadania e Identidade Cultural. Entre 1991 e 2002 foi membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, eleita pela Assembleia da República. Em 2001 tornou-se presidente da Fundação Cuidar O Futuro, por si concebida e instituída pela Associação Graal.

Cuidar o Futuro já tinha sido o título do estudo a que Pintasilgo presidiu no âmbito da Comissão Independente para a População e Qualidade de Vida, em 1992. O “cuidar” surge como “a síntese de uma nova maneira de olhar para os problemas que afetam a humanidade”, que exige um “novo contrato social”.

A liberdade é uma condição subjacente a tudo. Não há cuidado pelo outro, não há qualidade de vida se não há liberdade. Mas a recíproca é também verdadeira: liberdade é fruto de um certo número de condições de ordem cívica, social, económica, cultural.xl

A extensa obra de Pintasilgo

Pintasilgo foi distinguida, em 1986, pelo Women’s International Center com o The 1986 Living Legacy Award. Em fevereiro de 1990, foi-lhe atribuído o doutoramento honoris causa pela Universidade Católica de Lovaina. Foi ainda agraciada com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (1981), tornando-se na primeira mulher agraciada nessa Ordem com esse grau; com a Grã-Cruz da Ordem do Infante (10.06.1994) e com a Medalha Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras (13.11.1997).

Foto de Roland Gerrits, Anefo, 1986, Wikimedia.

A Fundação Cuidar o Futuro dá também conta da extensa obra de Maria de Lourdes Pintasilgo, assinalando que “as principais temáticas abordadas nos seus artigos são sobre a participação das mulheres no desenvolvimento/qualidade de vida, na cultura e na política, a renovação da teoria e prática políticas, a espiritualidade e o compromisso cristãos”.

A Fundação destaca os livros Sulcos do nosso querer comum (Porto, Ed. Afrontamento, 1980); Imaginar a Igreja, (Lisboa, Ed. Multinova, 1980); Les nouveaux féminismes: question pour les chrétiens? (Paris, Éditions du Cerf, 1980); As dimensões da mudança (Porto, Ed. Afrontamento, 1985); As minhas respostas (Lisboa, Ed. D. Quixote, 1985).

Em 1974, Pintasilgo prefaciou a segunda edição das Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa (1974). E assinou o Pré-Prefácio e o Prefácio da 3.ª edição do livro em 1980. Em 1999, prefaciou também a obra de Maria Regina Tavares da Silva, A Mulher – Bibliografia Portuguesa Anotada (1518-1998).

 


Fontes / Bibliografia:

Arquivo Maria de Lourdes Pintasilgo – Centro de Documentação e de Publicações/ Fundação Cuidar O Futuro
https://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Site/default.aspx

Arquivo Ephemera - MOVIMENTO PARA O APROFUNDAMENTO DA DEMOCRACIA (MAD)
https://ephemerajpp.com/2020/11/02/movimento-para-o-aprofundamento-da-democracia-mad/

Morreu Maria de Lurdes Pintassilgo – RTP Ensina
https://ensina.rtp.pt/artigo/biografia-de-maria-de-lurdes-pintassilgo/

Evocar Maria de Lourdes Pintasilgo - Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género
https://www.cig.gov.pt/2018/01/evocar-maria-lurdes-pintassilgo/

Conversa com vista para... Maria de Lourdes Pintasilgo. Por Maria João Seixas. Jornal Público, 5 novembro, 2001.
https://www.publico.pt/2001/11/05/jornal/conversa-com-vista-para-maria-de-lourdes-pintasilgo-163849

A actualidade do pensamento de Maria de Lurdes Pintasilgo, por Helena Pinto
https://www.esquerda.net/opiniao/actualidade-do-pensamento-de-maria-de-lurdes-pintasilgo/65524

Maria de Lourdes Pintasilgo, por José Manuel Pureza
https://www.esquerda.net/opiniao/maria-de-lourdes-pintasilgo/52903

Maria de Lourdes Pintasilgo Primeira-Ministra do V Governo Constitucional. Em busca das reacções na imprensa. Ana Tavares. Universidade de Évora
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-55602010000100007

Maria de Lourdes Pintasilgo – Uma mulher à frente do seu tempo
http://geo.cm-lisboa.pt/fileadmin/GEO/Imagens/GEO/Pessoas_em_Lisboa/MLP__1_.pdf

Tenho medo de que a História passe ao lado. Entrevista por Antónia de Sousa. Modas & Bordados, 18-2-1974
https://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Documentos/0099.017.pdf

Mulher das Cidades Futuras, coord. de Isabel Allegro de Magalhães, Lisboa, Livros Horizonte, 2000
https://www.livroshorizonte.pt/produto/mulher-das-cidades-futuras/

Ramalho Eanes conta porque nomeou Pintasilgo para primeira-ministra há 36 anos. Artigo do jornal Expresso de 12.08.2015
https://expresso.pt/politica/2015-08-12-Ramalho-Eanes-conta-porque-nomeou-Pintasilgo-para-primeira-ministra-ha-36-anos

Maria de Lourdes Pintasilgo e os desafios da sociedade contemporânea - Pensamento e Ação. Fundação Cuidar o Futuro
https://fundacaocuidarofuturo.pt/wp-content/uploads/WEB-Caderno-tematico-1e2.pdf

O pensamento ético-político de Maria de Lourdes Pintasilgo - Diálogos com Martin Heidegger e Hans Jonas, de Maria Rosálio Carrilho. Fundação Cuidar o Futuro
https://fundacaocuidarofuturo.pt/wp-content/uploads/WEB-TeseDoutoramentoMariliaCarrilho_versao_final.pdf

Memória silenciada - O percurso feminista de Maria de Lourdes Pintasilgo, Tese de mestrado em Estudos Feministas, co-orientada pelas Professoras Doutoras Adriana Bebiano e Maria Irene Ramalho de Sousa Santos. Mestranda: Vânia Duarte. Setembro de 2011
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/20413/1/Tese%20V%C3%A2nia%20Duarte.pdf

Entrevista de Maria de Lourdes Pintasilgo a “O País”, 26.07.1979
https://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Documentos/0278.022.pdf

Mulheres que marcaram a História : Maria de Lurdes Pintassilgo, por Sandra Cunha, TSF Online, 02.03.2002
https://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Documentos/0269.016.pdf

É preciso um novo contrato social, por António Marujo ; Teresa de Sousa ; Adelino Gomes
artigo do jornal Público, 26.01.99
https://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Documentos/0258.016.pdf

Maria de Lourdes Pintasilgo : fortalece-se o sentimento de que a minha candidatura se torna necessária, por Manuel A. Pina, Jornal de Notícias, 16 de dezembro de 1984
https://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Documentos/0215.035.pdf

Maria de Lurdes Pintasilgo : «Sou uma candidata indomável», por Fernando Diogo, Diário de Notícias, 14.10.1985
https://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Documentos/0188.040.pdf

Revitalização da sociedade pela raiz democrática, por Joaquim Fidalgo, Jornal de Notícias, 24.03.1983
https://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Documentos/0188.036.pdf

Maria de Lourdes Pintasilgo: "Estamos a viver todos ao contrário", por Armando Ramos, semanário O País, 01.06.1983
https://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Documentos/0188.033.pdf

Maria de Lourdes Pintasilgo e a adesão à CEE: "Um atentado à nossa História e à nossa dignidade no Mundo", por Händel de Oliveira, jornal O Tempo, 02.02.1984
https://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Documentos/0188.023.pdf

Pintasilgo candidata? : Se, como, porquê… ; Maria de Lourdes Pintasilgo : serei candidata se…, por Augusto M. Seabra ; Jorge Wemans ; Maria João Avillez ; [et al.] , Revista Expresso, 20.10.1984 https://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Documentos/0188.007.pdf

Antunes, Sofia (2019), "Maria de Lourdes Pintasilgo", Mestras e Mestres do Mundo: Coragem e Sabedoria. Consultado a 08.12.20, em https://alice.ces.uc.pt/mestrxs/index.php?id=27696&pag=23918&entry=29349&id_lingua=2. ISBN: 978-989-8847-08-9

Mulher das cidades futuras, artigo de Boaventura Sousa Santos no jornal Público de 20 de Janeiro de 2000
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Quando Pintasilgo convenceu Marcello a defender as mulheres, por São José Almeida e António Marujo jornal Público, 9 de julho de 2009
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Democracia e Desenvolvimento nº1 20 de abril de 1985, Palavra de candidata – Arquivo Ephemera https://drive.google.com/file/d/0B8qf4EMOlMBkM0ZTR1MtX1kwclk/view

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Democracia e Desenvolvimento nº4 20 de julho de 1985 – Palavra de Candidata: Dar prova e sinal – um novo ciclo da vida política - Arquivo Ephemera https://drive.google.com/file/d/0B8qf4EMOlMBkSm9JQTluSWhrLVE/view

Democracia e Desenvolvimento Edição Especial – Palavra de Candidata: Anúncio de candidatura: um anúncio e um sinal https://drive.google.com/file/d/0B8qf4EMOlMBkTmdTMnZ3dG9Fa3c/view

Maria de Lourdes Pintasilgo – 1930-2004. UMAR - http://www.umarfeminismos.org/index.php/component/content/article/15-noticias-e-comunicados/1029--maria-de-lourdes-pintasilgo

Em busca de um novo paradigma, por São José Almeida, jornal Público, 15 de fevereiro de 2012
https://www.publico.pt/2012/02/15/jornal/em-busca-de-um-novo-paradigma-23938128

PINTASILGO, Maria de Lurdes, 1930-2004. Os novos feminismos : interrogação para os cristãos?. Lisboa : Moraes, 1981

PINHEIRO, Paula Moura, “As mulheres têm de trabalhar sobre si próprias”, Pública, supl. Do jornal O Público, 3-8-1997


 i Maria de Lurdes Pintasilgo : «Sou uma candidata indomável», por Fernando Diogo, Diário de Notícias, 14.10.1985

ii Democracia e Desenvolvimento nº1 20 de abril de 1985, Palavra de candidata – Arquivo Ephemera

iii Democracia e Desenvolvimento nº2 20 de maio de 1985 - Palavra de candidata: Independência, uma atitude, um processo. Arquivo Ephemera

iv Democracia e Desenvolvimento nº3 20 de junho de 1985 - Palavra de candidata: Os poderes do Presidente. Arquivo Ephemera

v Maria de Lurdes Pintasilgo : «Sou uma candidata indomável», por Fernando Diogo, Diário de Notícias, 14.10.1985

 vi Maria de Lourdes Pintasilgo : fortalece-se o sentimento de que a minha candidatura se torna necessária, por Manuel A. Pina, Jornal de Notícias, 16 de dezembro de 1984

 vii Maria de Lurdes Pintasilgo : «Sou uma candidata indomável», por Fernando Diogo, Diário de Notícias, 14.10.1985

viii Democracia e Desenvolvimento Edição Especial – Palavra de Candidata: Anúncio de candidatura: um anúncio e um sinal

ix Maria de Lourdes Pintasilgo – 1930-2004. UMAR -

x Democracia e Desenvolvimento nº3 20 de junho de 1985

xi Democracia e Desenvolvimento nº3 20 de junho de 1985

xii Democracia e Desenvolvimento Edição Especial – Palavra de Candidata: Anúncio de candidatura: um anúncio e um sinal

xiii Maria de Lurdes Pintasilgo : «Sou uma candidata indomável», por Fernando Diogo, Diário de Notícias, 14.10.1985

xiv PINTASILGO, Maria de Lurdes, 1930-2004. Os novos feminismos : interrogação para os cristãos?. Lisboa : Moraes, 1981

xv Conversa com vista para... Maria de Lourdes Pintasilgo. Por Maria João Seixas. Jornal Público, 5 novembro, 2001.

xvi Inventário dos atributos que trespassam os testemunhos compilados na obra Mulher das Cidades Futuras, coord. de Isabel Allegro de Magalhães, Lisboa, Livros Horizonte, 2000

xvii Maria de Lourdes Pintasilgo, por José Manuel Pureza

xviii Mulher das cidades futuras, artigo de Boaventura Sousa Santos no jornal Público de 20 de Janeiro de 2000

xix revista ex-æquo n.º 12, 2005, Um legado de cidadania – homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo, pp. 45-57.

xx Conversa com vista para... Maria de Lourdes Pintasilgo. Por Maria João Seixas. Jornal Público, 5 novembro, 2001.

xxi Conversa com vista para... Maria de Lourdes Pintasilgo. Por Maria João Seixas. Jornal Público, 5 novembro, 2001.

xxii Conversa com vista para... Maria de Lourdes Pintasilgo. Por Maria João Seixas. Jornal Público, 5 novembro, 2001.

xxiii In Imaginar a Igreja – Reflexões ultrapassadas?, Multinova, 1980

xxiv revista ex-æquo n.º 12, 2005, Um legado de cidadania – homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo, pp. 45-57.

xxv revista ex-æquo n.º 12, 2005, Um legado de cidadania – homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo, pp. 45-57.

xxvi revista ex-æquo n.º 12, 2005, Um legado de cidadania – homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo, pp. 45-57.

xxvii revista ex-æquo n.º 12, 2005, Um legado de cidadania – homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo, pp. 45-57.

xxviii revista ex-æquo n.º 12, 2005, Um legado de cidadania – homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo, pp. 45-57.

xxix revista ex-æquo n.º 12, 2005, Um legado de cidadania – homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo, pp. 45-57.

xxx SOUSA, Antónia de, “Tenho medo de que a História passe ao lado”, Modas & Bordados, 18-2-1974

xxxi SOUSA, Antónia de, “Tenho medo de que a História passe ao lado”, Modas & Bordados, 18-2-1974

xxxii PINHEIRO, Paula Moura, “As mulheres têm de trabalhar sobre si próprias”, Pública, supl. Do jornal O Público, 3-8-1997

 xxxiii Entrevista de Maria de Lourdes Pintasilgo a “O País”, 26.Jul.1979

 xxxiv Mulheres que marcaram a História : Maria de Lurdes Pintassilgo, por Sandra Cunha, TSF Online, 02.03.2002

xxxv revista ex-æquo n.º 12, 2005, Um legado de cidadania – homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo, pp. 45-57

xxxvi Revitalização da sociedade pela raiz democrática, por Joaquim Fidalgo, Jornal de Notícias, 24.03.1983

xxxvii Maria de Lourdes Pintasilgo: "Estamos a viver todos ao contrário", por Armando Ramos, semanário O País, 01.06.1983

xxxviii Pintasilgo candidata? : Se, como, porquê… ; Maria de Lourdes Pintasilgo : serei candidata se…, por Augusto M. Seabra ; Jorge Wemans ; Maria João Avillez ; [et al.] , Revista Expresso, 20.10.1984

 xxxix Mulheres que marcaram a História : Maria de Lurdes Pintassilgo, por Sandra Cunha, TSF Online, 02.03.2002

 xl É preciso um novo contrato social, por António Marujo ; Teresa de Sousa ; Adelino Gomes
artigo do jornal Público, 26.01.99

Sobre o/a autor(a)

Socióloga do Trabalho, especialista em Direito do Trabalho. Mestranda em História Contemporânea.
Termos relacionados Esquerda com Memória, Sociedade
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