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Venezuela, um país bloqueado

A Venezuela está mergulhada numa profunda crise política, económica, social, ambiental e humanitária, que se vem agudizando desde 2013. Os últimos cinco anos foram desvastadores e destruíram as promessas de transformação social e as importantes conquistas democráticas e sociais dos primeiros quinze anos do chavismo.
Qual a origem desta crise?
O cerco imperialista é muitas vezes apresentado como a causa dos problemas da Venezuela. É verdade que os EUA mantiveram uma política contra a Venezuela desde que Chávez chegou ao poder, passando mesmo por tentativas de golpe de Estado. Nos últimos anos, sobretudo desde que Trump chegou à presidência e a direita foi voltando ao poder nos países da América Latina onde tinha sido afastada, o cerco económico à Venezuela agravou-se brutalmente. No início de 2019, os Estados Unidos passaram a uma nova fase, tentando criar na Venezuela um “Estado paralelo”, com o apoio do grupo de Lima e da oposição interna ao regime, maioritária na Assembleia Nacional (AN). A escolha de Juan Guaidó para presidente da Assembleia Nacional em dezembro de 2018 e a sua autodeclaração como presidente interino em 23 de janeiro de 2019, de imediato reconhecido pelos EUA como presidente “legítimo”, representou precisamente a tentativa de impor esse “Estado paralelo”. A política de Trump para a Venezuela, fortemente apoiada pelo Estado espanhol e pela União Europeia, não resolveu nenhum problema do povo venezuelano, pelo contrário a grave situação continuou a aprofundar-se, transparecendo claramente no forte aumento da emigração.
Será o cerco imperialista o único responsável por esta crise?
O regime de Nicolás Maduro e do PSUV acusa os Estados Unidos e o imperialismo norte-americano, apoiado internamente pela oposição de direita, de ser o responsável pela difícil situação que vive o país e a sua população. É verdade que o cerco imperialista cria uma difícil situação que o país enfrenta há muitos anos, mas não foi devido ao cerco que a situação do país se deteriorou nos últimos cinco anos.
A humilhante derrota do PSUV nas eleições legislativas de 2015, em que a MUD (Mesa de Unidade Democrática) ganhou a maioria na AN com cerca de dois terços, provocada pelo profundo descontentamento popular na sequência do início da crise económica, agravou profundamente a crise política que se vivia no país.
A disputa entre as duas forças, Maduro, governo e PSUV por um lado e oposição e AN por outro, acirrou-se e transformou-se numa autêntica guerra, contra a democracia e a população e aumentando o autoritarismo e a repressão do regime. Já se iniciaram negociações entre o regime e a oposição, por diversas vezes, mas todas se têm gorado, pois ambas as fações pretendem apenas ultrapassar a situação de duplo poder através de uma via golpista. A força do governo tem sido e é, cada vez, mais a força do exército venezuelano.
Como desbloquear a situação de efetivo duplo poder na Venezuela e que riscos ela coloca?
Na origem da crise esteve a queda dos preços do petróleo. A riqueza em petróleo e noutros minerais tem sido, afinal, a fonte dos maiores males do país.
Foi a apropriação dessa riqueza que deu origem às classes dominantes venezuelanas e é também em função dela que se mantém um modelo predador, que tem bloqueado o país e o seu desenvolvimento. A atual crise é a “implosão da Venezuela rentista”, como assinalou o sociólogo Edgardo Lander.
A resposta para a queda do preço de petróleo, que o regime criou, foi o aumento da exploração mineira. A criação em 2016 da “Zona de Desenvolvimento Estratégico Nacional Arco Mineiro do Orinoco (AMO)”, constituiu a proposta de saída do regime: uma zona económica, à semelhança das ZEE da China, onde as forças armadas comandam e as leis de exceção são a norma, representando o prolongamento do rentismo. O Plano Mineiro Nacional 2019-2025, apresentado em junho deste ano, “sistematiza” este caminho, “convertendo a Venezuela numa mina”.
Este projeto extrativista é apoiado pelo regime e pelas forças armadas, mas, curiosamente também Guaidó e a oposição de direita parecem estar de acordo. A saída para a crise a que ambas as fações aspiram é a continuação da “Venezuela rentista”.
E, não terá sido também esse um dos pontos mais equívocos do chavismo? O “socialismo petrolero”, como foi chamado, não existe e nunca poderia ser o “socialismo do século XXI”.
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