Tinha 17 anos. Era guarda-redes e estava prestes a começar a treinar na escola de futebol da seleção da Palestina. E também a fazer as provas de entrada na universidade. Na madrugada de 30 de setembro do ano passado, soldados israelitas irromperam pela casa da sua família, em Silwad, na Cisjordânia. Levaram-no e nunca mais foi visto pela família.
Sabe-se que morreu na prisão israelita de Megiddo no dia 22 de março. O Instituto Forense Abu Kabir de Tel Aviv fez a autópsia e o resultado foi que a causa da morte foi desnutrição profunda.
A história de Walid Khaled Abdallah Ahmad será como tantas outras na Palestina. Mas este jovem tem também nacionalidade brasileira, o que levou o governo deste país a pedir explicações a Israel. Passadas três semanas, estas ainda não chegaram. Tal como o corpo ainda não foi entregue aos seus pais.
Toda esta história é contada pelo ICL Notícias que também entrevistou os seus pais. Khaled Abdalla Fadel Ahmad, filho de um palestiniano e de uma brasileira, dirige-se ao governo brasileiro para “implorar” que este “faça pressão sobre o governo ultra-racista de Israel” para entregar o corpo do seu filho para que possa ser enterrado de acordo com as tradições da religião islâmica.
O pai acompanhou o seu processo mas nunca mais pode ver Walid que entrava por vídeoconferência a partir da cadeia. Sobre ele pendiam 56 acusações, sempre “as mesmas apresentadas contra os jovens da Palestina”, escreve aquele órgão de comunicação social. O jovem negou sempre, o pai também, explicando que “ele não tinha nem tempo” para ter algum envolvimento político entre escola, tarefas diárias e dedicação ao futebol.
Sobre a situação na Palestina Khaled diz: “não podemos esquecer que Israel é uma força de ocupação patrocinada por grandes potências, especialmente os Estados Unidos. E os meios de comunicação social desses países são responsáveis por tratar Israel como inocente, como a vítima. Mas é o contrário. Hoje o povo palestino tem certeza de que para salvar o pouco que sobrou vai depender dos meios de comunicação social da Europa, dos Estados Unidos, do Brasil, da Argentina, serem éticos e falar a verdade. Se os povos do mundo não saírem às ruas com consciência, não seremos livres”.
E deixa ainda um alerta sobre o primo de Walid, também palestino-brasileiro, que está na prisão, com a família a temer também pela sua vida: “ele está a sofrer o que todos os presos palestinianos sofrem, tortura, fome, sede, falta de higiene, ausência de lugar para dormir ou de cobertores, sem falar na tortura”.
O Brasil de Fato conta a história deste outro cidadão brasileiro, também ele de 17 anos, preso desde 18 de novembro na prisão de Ofer, a oeste de Ramallah, na Cisjordânia. Salah Al-Din Yasser Hamad está na prisão sem julgamento, acusado do mesmo tipo de coisas que o seu primeiro, fabrico de armas caseiras, suspeita de lançar pedras a soldados e de planear ataques.
A sua mãe, Nadia, contou à Federação Árabe Palestina do Brasil que o conseguiu visitar e que disse ao comandante que “não havia razão nenhuma para o meu filho ser preso, pois não havia nenhuma perturbação por parte da população local há dois anos”. Na zona, não tinham havido manifestações, ninguém tinha atirado pedras.
Yasser Salah Hamad, o seu pai, também o visitou na prisão. A última vez foi a 24 de fevereiro. Diz que não o reconheceu sequer: “foi Salah quem veio ao meu encontro porque eu não conseguia identificá-lo. Ele nunca teve barba, pois é muito novo, mas estava com uma barba enorme e muito magro, desnutrido.”
A Fepal tem denunciado estes casos e feito pressão para que o governo brasileiro aja. Para a organização, “talvez seja hora de o ministro da Relações Exteriores, Mauro Vieira, rever a muito branda declaração que deu em 23 de outubro de 2024, em que afirma que a rutura de laços com os genocidas de Tel Aviv ‘não estava em consideração'”. Nesta altura, romper laços diplomáticos e acordos de cooperação com Israel “é uma obrigação moral – e legal! – do Estado brasileiro com a humanidade, com o povo palestino sob solução final com a comunidade brasileiro-palestino, sob pena de entrar para a história na condição de ator acusado de cumplicidade com o Holocausto Palestino.”