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Trabalhadores da Peugeot/Citroën de Mangualde vão fazer greve aos sábados

Trabalhadores querem negociar e aspiram a fim da bolsa de horas. PSA/Peugeot/Citroën ameaça com fecho da fábrica. A greve é aos dias de “produção extraordinária”, como é o caso dos sábados, começa dia 13 (próximo sábado) e pode prolongar-se até 31 de dezembro.
PSA/Peugeot/Citroën de Mangualde, 2017 - Foto de Nuno André Ferreira/Lusa
PSA/Peugeot/Citroën de Mangualde, 2017 - Foto de Nuno André Ferreira/Lusa

Os trabalhadores da PSA/Peugeot/Citroën avançaram com um pré-aviso de greve para todos os sábados, a partir do próximo – 13 de julho – e até final do ano. Lutam contra a chamada produção extraordinária, “imposta pela direção”, pretendem negociar e aspiram ao fim bolsa de horas.

Em declarações à Lusa, Telmo Reis do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Centro Norte (SITE-Centro Norte) afirmou: “Ultrapassou os limites do razoável e, neste momento, decidimos avançar com o pré-aviso de greve. Esta greve vai até à meia-noite do dia 31 de dezembro e é aplicada nos dias em que há produção extraordinária, que é o caso dos sábados, porque essas horas são cortadas nas bolsas de horas”.

Telmo Reis diz que direção da empresa “queria que os trabalhadores fizessem, numa semana de cinco dias, quatro com 10 horas de trabalho”, o que o sindicato considerou ser “um absurdo, já que em cinco dias vão ser feitas 48 horas”.

O sindicalista diz que a administração da empresa recusa o fim da bolsa de horas em 2020 e refere que já alertaram a empresa “diversas vezes que os trabalhadores começam a ficar saturados, frustrados e, neste momento, o grande absentismo é relativo a doenças profissionais e psicológicas, porque acaba por se tornar stressante o dia a dia e a pressão que exercem para a realização da produção”.

Em comunicado citado pela Lusa, o SITE-Centro Norte acusa a direção da empresa de continuar “a impor calendários de bolsa de horas sem ter em conta os alertas feitos pelos trabalhadores, nomeadamente ao nível do desgaste físico e psicológico”.

“Continuam a exercer pressão e repressão, inclusive disciplinar, sobre os trabalhadores, para os forçar a realizar trabalho aos sábados, domingos, em dia de feriado e em dias normais de trabalho (por prolongamento ou acréscimo) para a referida bolsa de horas”, refere o comunicado.

O sindicato critica a direção da empresa por ter marcado “horas de produção ao abrigo da bolsa de horas para os dias dos meses de verão, sobrecarregando os trabalhadores com 10 horas de trabalho diário” e considera que esta decisão “põe em causa os direitos dos trabalhadores, a manutenção dos dois dias consecutivos de descanso (sábado e domingo) e o efetivo gozo dos dias de feriado, bem como irá criar um desgaste diário, ao nível físico e psicológico”.

PSA ameaça com fecho da fábrica de Mangualde e deslocalização

Segundo o “Dinheiro Vivo”, a administração da PSA Mangualde ameaça com encerramento da fábrica portuguesa e com deslocalização.

“A aplicação dos objetivos contidos no pré-aviso de greve, colocaria em risco a viabilidade do centro, já que nenhuma fábrica automóvel pode sobreviver sem a flexibilidade para se adaptar ao mercado e produzir os carros que são pedidos pelos clientes. E isto num contexto em que os dispositivos industriais na Europa enfrentam grandes desafios”, diz a administração.

A PSA diz que está a aplicar um acordo de competitividade estabelecido em 2016 com a comissão de trabalhadores para enfrentar as variações da produção e que inclui uma bolsa de horas. A administração quer que os trabalhadores respondam a um pico de produção a partir do próximo sábado, que os obrigará a trabalhar 48 horas por semana, em troca de um prémio extraordinário de 17 euros por cada sábado. O cenário deverá repetir-se em agosto e a administração não refere se a situação se repetirá depois de agosto.

O “Dinheiro Vivo” lembra que esta é a segunda vez em dois anos que a PSA ameaça com o encerramento da fábrica. Em 2018 exigiu que o governo alterasse as regras de classificação dos veículos Citroën Berlingo e da Peugeot Partner nas portagens para que ficassem na classe 1, o que veio a acontecer, com a alteração da altura máxima do eixo da frente dos veículos de 1,10 para 1,30 metros.

As ameaças e chantagens são uma prática habitual da PSA, assim como os despedimentos coletivos seguidos de novas contratações, como se pode ver por exemplo nestes artigos publicados no esquerda.net em 2014 e 2015: Peugeot Citroen de Mangualde quer despedir, Bloco exige “fim da lei da selva”; Peugeot-Citroen de Mangualde “trata trabalhadores como peças descartáveis”; O mercado laboral em Portugal sempre foi muito rígido...

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