“Mandaram-nos de férias na sexta-feira, dia 7, e a fábrica fechou. Só nós apercebemos disso na segunda-feira [dia 10], quando recebemos um email a dizer que a fábrica ia fechar e que iam dar mais informações na sexta-feira que passou. Mas não disseram mais nada. Agora, o nosso receio é que retirem daqui as máquinas”, explicou Ana Oliveira em declarações ao Jornal de Notícias.
Esta trabalhadora, há 16 anos ao serviço da Nuri, adiantou ainda que a administração da empresa alega não ter dinheiro para pagar os salários: “Dizem que não têm dinheiro para pagar. Temos um mês e meio de salário para receber, mais o subsídio de férias. E estávamos a receber o subsídio de Natal em duodécimos, porque em dezembro já não nos pagaram o subsídio. Agora, falta receber dois duodécimos”, detalhou.
Ana Oliveira afirmou ainda que a fábrica teve sempre encomendas. “Tivemos sempre encomendas, e não estávamos a contar que não pagassem o subsídio em dezembro. Só no início deste ano é que começamos a ter menos encomendas”, assinalou a trabalhadora. De acordo com a mesma, a Nuri “tem dívidas de 11 milhões de euros”, sendo um banco o maior credor.
Daniela Oliveira, que trabalha na empresa há 15 anos, deu conta à Santo Tirso TV das dificuldades com que se confrontam as trabalhadoras: “Até ao momento nenhum pagamento foi efetuado, mesmo após garantirem que os salários seriam pagos até ao dia 8. Com mais de um mês sem remuneração e ainda com o subsídio de férias por receber, a situação financeira de todas nós é delicada. Temos contas para pagar, temos filhos, temos casas…”,
Com três décadas de atividade, o estabelecimento fabril, localizado em Santa Cristina do Couto, ainda foi sujeito a um plano de recuperação. No entanto, a direção da empresa viria a declarar, em requerimento que anexou ao processo de insolvência, não ter condições para cumpri-lo. A par de uma alegada “substantiva diminuição” de encomendas, a Nuri apontou ainda que “o pagamento [por parte de um cliente] não ocorreu, o que inviabiliza o pagamento tempestivo dos salários”.
“Subtraindo às expectativas de liquidez os montantes provenientes daquelas encomendas e não sendo os mesmos substituídos por quaisquer outros, resulta expectável que a requerente não consiga pagar as suas obrigações essenciais, com especial incidência para os salários e impostos”, lê-se no referido documento.
Em declarações ao JN, o advogado de cerca de 20 trabalhadores acusou a direção da empresa de prestar uma série de “informações contraditórias” aos trabalhadores. “Os trabalhadores estavam a contar que a empresa pagasse o salário e o subsídio [de férias], e não pagou. Eles precisam do dinheiro para viver”, frisou Hernâni Gomes.
Abordado também pela Santo Tirso TV, o representante legal referiu que “a empresa está em processo de liquidação e os documentos estão a ser preparados para serem apresentados ao centro de emprego, a fim de garantir o acesso ao fundo de desemprego”.
Hernâni Gomes realçou ainda que “a falência da empresa já havia sido decretada anteriormente, com planos de reestruturação que não foram cumpridos. Agora, o despacho de encerramento definitivo das instalações foi emitido, embora as trabalhadoras ainda não tenham recebido uma confirmação oficial dessa decisão”.