Depois das versões iniciais sobre a morte de Odair Moniz às mãos de um agente da PSP, várias notícias começam a corrigir as notícias então veiculadas. A PSP acabou por admitir que o carro em que este cidadão vinha não era roubado. Mas, ao Público, “reitera o difundido no comunicado de 21 de Outubro”. Aí tinha escrito que “quando os polícias procediam à abordagem do suspeito, o mesmo terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca, tendo um dos polícias, esgotados outros meios e esforços, recorrido à arma de fogo e atingido o suspeito”.
Só que, de acordo com a CNN, as declarações dos próprios polícias sobre o sucedido já desmentiram este relato da direção da PSP que apresentava a vítima estando armada. De seguida, diversos outros órgãos de comunicação social afirmaram que as imagens de videovigilância que foram vistas pela Polícia Judiciária também não evidenciaram a presença de qualquer arma nas mãos do homem que acabou por ser morto.
Esta sexta-feira, é a vez de quatro testemunhas ouvidas pelo Público confirmarem não só que Odair Moniz não empunhou nenhuma arma, como nem tentou sequer agredir os polícias.
Violência policial
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Estas testemunhas terão sido acordadas pelas cinco da manhã quando ouviram o choque de um carro na Rua Principal da Cova da Moura e foram às janelas. Sabe-se que o condutor teria estado a confraternizar com amigos naquele bairro e terá ido ao Zambujal, onde vivia, buscar uma cachupa. No regresso, o automóvel terá passado um traço contínuo e a polícia tê-lo-á mandado parar. Seguiu-se uma fuga breve que terminou no choque com outros carros.
Nenhuma destas quatro pessoas foi ainda ouvida pela polícia e os seus relatos, ouvidos em separado, são coincidentes: “Os polícias disseram para ele sair do carro. Quando saiu do carro, queriam pegar nele para o algemar. Disseram para ele se deitar no chão. Ele começa a andar. Eles queriam pegar nele e ele disse: ‘não me toquem’, ‘tira a mão’. Mas em nenhum momento tentou agredir os policiais. Não tinha nada na mão”. “Eles queriam pegar nele para o meter no chão. Quando ele disse para tirarem a mão para não tocar, à frente do café, deram dois tiros para cima”, diz um deles.
Outra testemunha confirma exatamente o mesmo: “Não tinha nada na mão.” “Ele só não queria que lhe colocassem algemas”. “Em nenhum momento ele foi violento com a polícia”.
Uma outra confirma a existência de um tiro para o ar seguido de dois disparos no corpo deste homem.
As quatro testemunhas dizem ainda que a vítima não tinha corrido, apenas andado.
Falta de auxílio e demora do INEM
Estes moradores da Cova da Moura também asseguram que depois de Odair Moniz estar já no chão os polícias pouco fizeram enquanto alguns moradores diziam para ver se ele respirava e para confirmarem se o tiro “foi na perna mesmo”. Um vídeo que tem sido divulgado sobre os momentos depois dos tiros confirma a atitude dos polícias.
Há ainda mais um dado relevante que dão a conhecer. O INEM chega ao local “mais de uma hora depois”, cerca das 6h18. Uma das moradoras revela que tinha ligado às 5h49 a reclamar pela demora em chegar uma ambulância ao local. Terá obtido como respostas que “tinha que aguardar e que já outras pessoas o tinham feito”.
Aquele diário questionou o INEM sobre isto “mas até à publicação deste texto não obteve resposta”, escreve.