Num primeiro balanço da passagem da depressão DANA por Espanha, sobretudo pelo sul, registam-se 62 mortos na região de Valência, a que se soma mais duas em Castela La Mancha. A tempestade deixou ainda muitas de pessoas incontactáveis ou desaparecidas e outras isoladas em diversas localidades, inundações, quebras de eletricidade e de acesso a água potável e levou ao corte de tráfego terrestre e aéreo em várias zona.
O fenómeno meteorológico é uma depressão isolada em níveis altos, DANA é o seu acrónimo em espanhol, resulta da colisão de uma massa de ar polar com o ar quente e húmido, geralmente do mar Mediterrâneo. Foi a pior DANA do século em Valência e os níveis de precipitação que aí causou foram de entre 120 e 180 litros de água por metro quadrado em 12 horas, os mais elevados desde 11 de setembro de 1966. Nalguns locais choveu num par de horas o equivalente à precipitação habitual num ano inteiro. Nesta região, na altura em que esta notícia foi redigida, havia cerca de 155.000 pessoas sem acesso a eletricidade de acordo com a empresa Iberdrola, e notícias de várias localidades sem acesso a água potável, estando ainda a acontecer diversas operações de resgate e localização de pessoas.
Na região de Castela La Mancha houve uma dezena de municípios afetados, sobretudo Letur, em Albacete, e Mira, em Cuenca com estragos importantes e seis pessoas desaparecidas para além das mortes já referidas. O Governo regional pediu declaração de zona de catástrofe.
Já o governo nacional promete toda a ajuda necessária às vítimas, no que será a sua “prioridade absoluta”. O primeiro-ministro Pedro Sánchez garante “não vos vamos deixar sozinhos”. A ministra da Defesa, Margarita Robles, anunciou que mais de 1.000 efetivos foram transportados por helicópteros militares para as zonas afetadas.
A confederação sindical Comisiones Obreras emitiu um comunicado a lembrar que a lei protege os trabalhadores que se ausentem do posto de trabalho face aos riscos, assegurando o direito à integridade física, à segurança e à saúde. E também a ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, pediu “responsabilidade” às empresas para que não tentem forçar os trabalhadores de modo a que corram riscos e garantiu aos trabalhadores que não devem ter “nenhum medo” de não ir trabalhar caso corram perigo ao fazê-lo.
Resposta do Governo valenciano em causa
A resposta regional à catástrofe natural começa entretanto a ser criticada. As notícias dão conta que os alertas automáticos que foram enviados para os telemóveis apenas chegaram às 20h12 da passada terça-feira, quando muitas pessoas já estavam isoladas ou presas nos seus automóveis. E há críticas de que o Centro de Coordenação Operativa Integrada foi convocado tarde pelo governo regional.
O presidente da Generalitat Valenciana, Carlos Mazón, do PP, tinha feito antes, às 13h, uma conferência de imprensa na qual afirma que se “esperava” que por volta das 18h a tempestade diminuísse de intensidade, o que não sucedeu. Voltou a falar às 21h para pedir que a população não saísse para as estradas, especialmente em Valência.
O número de socorro do Centro de Coordenação de Emergências da Generalitat, o 112 local, entrou em colapso com o número de chamadas recebidas, tardando muito em atendê-las.
A Intersindical Valenciana fala abertamente em “ineficácia” que colocou “em risco a vida de centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras”.
No El Diário, o professor da Universidade de Valência, Andrés Boix, considera “absolutamente incrível e lamentável” que o alerta tenha chegado “quando já se tinham produzido as inundações, apanhando muitas pessoas a voltar do trabalho, ainda no trabalho ou em suas casas mas sem se poderem proteger”. Para ele, houve uma “gestão terceiro-mundista” da catástrofe, agravada por problemas nas infraestruturas e no mau planeamento urbano.
Outra polémica diz respeito ao encerramento da Unidade Valenciana de Emergências por parte do governo de Carlos Mazón, quatro meses depois de entrar em funções, numa altura em que integrava o Vox. Este tinha como competência garantir a rápida intervenção em caso de emergências meteorológicas, sísmicas, incêndios, maremotos e outros desastres.
No meio da tragédia, nas redes sociais, voltou a circular a publicação do PP de Valência a orgulhar-se deste ter sido o “primeiro organismo de Ximo Puig suprimido por Carlos Mazón” vendo-o como uma entidade burocrática. A então conselheira de Justiça e Interior, Elisa Núñez, do Vox, alegava que o modelo piorava e complicava ainda mais a coordenação.
Esta quarta-feira, Mazón voltou a defender a decisão dizendo que “apenas era mais um organismo fictício com zero bombeiros, zero meios materiais e zero eficiência” e que “em nenhum caso melhorava nem aumentava nenhum serviço”. E “apenas criava postos para pagar salários a eventuais colocados a dedo”. Os críticos, pelo contrário, viam no serviço uma coordenação integrada fundamental que faltou neste momento.
Mariana Mortágua expressa solidariedade para com as vítimas
A coordenadora do Bloco de Esquerda nas suas redes sociais expressou a solidariedade do partido para com as vítimas.
Mariana Mortágua apelou a que todos os meios europeus sejam colocados ao dispor do povo de Valência. Para ela, "não se conhecem ainda todas as consequências do terrível fenómeno de hoje, mas conhece-se há muito a urgência de responder à crise climática".
Exprimo toda a solidariedade do @BlocoDeEsquerda com o povo de Valência e apelo a que todos os meios europeus estejam ao seu dispor.
Não se conhecem ainda todas as consequências do terrível fenómeno de hoje, mas conhece-se há muito a urgência de responder à crise climática.— mariana mortágua (@MRMortagua) October 30, 2024