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Socialismo 2010: A recepção é a arma do povo?

Numa das sessões do Socialismo 2010, que arranca sexta-feira em Braga, João Teixeira Lopes vai falar de arte e práticas culturais do ponto de vista da recepção, um tema "que ganha particular sentido num contexto de proliferação das práticas culturais doméstico-receptivas".

Texto de João Teixeira Lopes, professor da Fac. Letras da Univ. Porto

A recepção é a arma do povo?

A recepção é uma «arma»? Em concreto, é a arma simbólica dos oprimidos? A questão ganha particular sentido num contexto de proliferação das práticas culturais doméstico-receptivas (apesar de esta categoria englobar uma série de actividades que vão das apropriações mais passivas dos media tradicionais às emergentes práticas amadoras propiciadas pela panóplia de novos media, passando pela apropriação sem produção de cariz convivial e crítico).

Além do mais, não raras vezes se falou, em particular nos estudos empíricos dos cultural studies, na interpretação como uma espécie de ferramenta de contradominação dos pobres, particularmente quando destituídos de capital escolar e simbólico. Tratava-se, até um certo ponto, de superar uma gama de caracterizações de pólo negativo em que as culturas populares, seguindo um certo legitimismo radical, surgiam invariavelmente, em determinadas pesquisas sociológicas, como estando eternamente «aquém», numa espécie de essência ou fixismo de subalternidade (o que denunciava implícitos evolucionistas e etnocêntricos, por referência a um ponto avançado de um arbitrário cultural cultivado) ou sepultadas na terra do «não»: não cultivados, não legitimados, não letrados. Ou, finalmente, brotando na quintessência de algum inconsciente do pensamento estrutural que actualizava formas primitivas na alegórica interpretação de dicotomias ou pares binários, classificando tais práticas como a «cultura de baixo».

Ainda assim, convém explicitá-lo, pretendo falar neste artigo mais de «recepção» do que de «interpretação». Ambas, é certo, recolocam o «leitor» (falaremos aqui de «autor», «leitor» e «texto» em amplo sentido e não no estrito código do campo da leitura) numa posição activa de quem acciona apropriações, usos, «artes», modos de relação. Mas a recepção cultural engloba a interpretação como um acto de um processo estético mais vasto que inclui também a percepção e toda uma cadeia dialógica de construção, difusão e reconstrução dos textos e da própria praxis social.


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