Seca: Bloco acusa Governo de ceder ao agronegócio

17 de janeiro 2024 - 16:15

Candidatos do Bloco em Beja e estruturas locais do partido querem que seja dada prioridade ao abastecimento público e agricultura familiar e lamentam que Duarte Cordeiro tenha cedido às pressões da agricultura intensiva na gestão da água da Albufeira de Santa Clara.

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Foto de Juntos pelo Sudoeste.

Em comunicado, o Bloco lamenta que “Duarte Cordeiro, ministro socialista do Ambiente e Ação Climática não tenha cumprido a sua palavra e cedesse às pressões da agricultura intensiva, aceitando baixar a cota mínima de exploração na albufeira de Santa Clara para garantir a rega das grandes explorações”.

No documento, o partido lembra que esta foi a “conclusão esperada” da reunião realizada a 15 de janeiro com os vários parceiros que assinaram o Pacto da Água em 2023 sobre a falta de recursos hídricos na região. O encontro, patrocinado pelos autarcas de Odemira e Aljezur, contou com a participação da ministra da Agricultura, do ministro do Ambiente e da Ação Climática, de empresários do setor agrícola e associações de produtores, ambiente e turismo.

No final desta reunião, Duarte Cordeiro anunciou, em declarações aos jornalistas, a intenção de baixar a cota de captação de água da barragem de Santa Clara-a-Velha, de 104m para 102m na agricultura e de 102m para 100m no consumo doméstico.

O Bloco alerta que “esta decisão pode comprometer o abastecimento às populações do Concelho de Odemira” e frisa que “tudo pela agricultura intensiva, nada para os Odemirenses, parece ser o lema do governo PS e dos seus ministros”.

A este respeito, os candidatos do Bloco em Beja e as estruturas locais do partido, distrital e da concelhia de Odemira, recordam que, “em menos de um ano, o Pacto para a Gestão Sustentável da Água no concelho de Odemira, assinado em 16 de março 2023, já foi violado, mostrando que a população do Concelho de Odemira não pode acreditar na palavra dos governantes PS que, pressionados pelos interesses do agronegócio, não hesitarão em ir além dos limites estabelecidos”.

O Bloco arrasa ainda a argumentação do Governo, que se resume a existir ou não capacidade técnica de conseguir explorar água a uma cota mais baixa, afirmando que o executivo socialista aborda a questão “como se de uma mina se tratasse e não de um recurso vital e essencial à vida, numa vasta região com pelo menos 36 mil consumidores domésticos, pequena agricultura familiar e outras atividades igualmente importantes, além da agrícola intensiva”.

Ministra pôs “a raposa a guardar o galinheiro”

O facto de a ministra da Agricultura, “num golpe palaciano”, ter destituído a direção democraticamente eleita da Associação de Beneficiários do Mira (ABMira), “em tempo recorde, substituindo-a por alguns dos maiores predadores do consumo de água, os senhores da agricultura intensiva, em particular das vastas extensões de estufas de frutos vermelhos”, também é criticada pelos bloquistas.

“Foi, como se diz, colocar a raposa a guardar o galinheiro”, refere o comunicado.

O Bloco enfatiza que “não podemos permitir que a agricultura intensiva esgote a água até à última gota e depois faça malas e parta para outros destinos, como se nada fosse, deixando as populações sem água para beber”.

Nesse sentido, o partido repudia as decisões tomadas pela maioria PS e insiste em que “o bem-estar dos Odemirenses tem de estar primeiro que os lucros do agronegócio”.

O Bloco saúda ainda a centena de manifestantes que realizaram um protesto contra o lóbi da agricultura intensiva durante a reunião do passado dia 15 de janeiro, e lembra que a intervenção da estrutura bloquista em Odemira sobre este tema “já vem de longe”.

Exemplo disso são as tomadas de posição aprovadas na Assembleia Municipal de Odemira, até aos protestos com o lema “Combater o efeito estufa” e ao repúdio das resoluções do Conselho de Ministros que “permitiram a proliferação de aldeias de contentores exploradas pelas máfias, em condições de vida degradantes para os milhares de imigrantes que aqui criam riqueza e procuram uma vida melhor”.

“Infelizmente”, remata o Bloco, “a orientação dos vários governos, com a cumplicidade mais ou menos envergonhada da Câmara PS, tem agravado o impacto do agronegócio do Perímetro de Rega do Mira, em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, com uma agricultura intensiva que não conhece leis nem limites em prol dos lucros”.