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Ryanair ameaça despedir quem não substitua trabalhadores em greve

Em desrespeito pela legislação portuguesa, a empresa admite ter recorrido a trabalhadores de outros países e a voluntários para esconder os efeitos da greve. O Bloco de Esquerda irá levar o assunto ao Parlamento.
Foto de s. bennett/Flickr.

A Ryanair admite ter recorrido a voluntários e a tripulação de outros países para colmatar os efeitos da greve de tripulantes em Portugal.

Num documento enviado aos trabalhadores, ao qual a agência Lusa teve acesso, pode ler-se:

“Agradecemos a todos os que trabalharam na última quinta-feira, o vosso apoio é muito apreciado. Durante a greve portuguesa, muitas das nossas tripulações chamadas ao dever, juntamente com alguns voluntários extra e rotações vindas de bases não portuguesas, [fizeram] com que provocássemos apenas pequenas perturbações nos nossos voos e aos clientes”, lê-se no documento.

A empresa de voos de baixo custo afirma ainda que alguns dos seus trabalhadores foram intimidados pelos colegas em greve. Porém, é a própria Ryanair que ameaça de despedimento os trabalhadores de outros países que, em solidariedade com os trabalhadores em greve em Portugal, se recusaram a voar para o país e substituí-los.

Segundo reportagem da RTP, a empresa irlandesa está a ameaçar de despedimento os trabalhadores que não aceitem viajar para Portugal para substituir os colegas em greve. A estação de televisão divulgou o caso de uma trabalhadora espanhola sediada em Eindhoven que foi contactada por telefone pela central de escalas da Ryanair, em Dublin.

No contacto telefónico, a central informa a trabalhadora de que terá de voar para o Porto. A funcionária questiona se esse voo é para cobrir a greve. “Se for não quero ir, não quero ir contra ninguém”, refere. Em resposta, a central responde que a funcionária “não pode recusar o voo, senão viola o contrato”, dizendo que é “obrigada a viajar para o Porto”. 

Poucos minutos depois, a trabalhadora recebe um telefonema do diretor de recursos humanos, que a informa de que a empresa irá “lidar” com esta situação de recusa.

Em sequência das denuncias feitas pelos trabalhadores, a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) avançou com uma ação inspetiva para averiguar irregularidades relacionadas com o direito à greve dos tripulantes da Ryanair.

“A ACT tomou conhecimento de alegadas irregularidades relacionadas com o direito à greve dos tripulantes de cabine da companhia aérea Ryanair e desencadeou uma ação inspetiva, no decurso da qual serão adotados os procedimentos adequados”, disse fonte da ACT à agência Lusa.

A presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), Luciana Passo, disse hoje à Lusa que a adesão da greve dos tripulantes portugueses de cabine da Ryanair "é superior a 90 por cento”.

Além de trazerem tripulantes de outras bases fora de Portugal, Luciana Passo denuncia ainda a “reversão” de voos e dá o exemplo de voos em Faro: ao invés dos voos Faro-Dublin-Faro, a Ryanair reverteu a ligação para Dublin-Faro-Dublin durante a greve de tripulantes. Luciana Passo acrescentou também que "têm saído aviões só com pilotos para irem buscar tripulantes a outras bases".

O Bloco de Esquerda irá apresentar um pedido de audição no parlamento dos trabalhadores e da administração da Ryanair, considerando "absolutamente intolerável" que a empresa invoque a origem irlandesa "para não respeitar a legislação em Portugal".

"É absolutamente intolerável que uma empresa que anuncia investimentos, que anuncia uma base para a sua operação na Europa em Portugal, invoque como razão substantiva para não respeitar a legislação em Portugal o facto de ser uma empresa com origem irlandesa", afirmou Heitor de Sousa à Lusa.

De acordo com a página da ANA – Aeroportos de Portugal, já foram cancelados seis voos da Ryanair no aeroporto do Porto, quatro em Lisboa e quatro em Faro.

O terceiro e último dia de paralisação terá lugar quarta feira, 4 de abril. Nesta greve de três dias não consecutivos, está em causa o cumprimento de regras sobre a parentalidade, garantia de salário mínimo, retirada de processos disciplinares por motivo de baixas médicas ou vendas a bordo abaixo dos objectivos da empresa.

 

Notícia atualizada às 23:00.

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