A inflação dá sinais de abrandamento desde novembro, mas o preço das rendas de casa continua a evoluir em sentido contrário, noticia esta quinta-feira o jornal Público. No mês de junho, o aumento foi de 4,64% face ao mesmo mês do ano passado, a maior subida homóloga desde 2014. Os valores dizem respeito ao preço médio de todos os contratos de arrendamento e têm estado sempre a subir desde dezembro de 1977. Mas desde novembro de 2014, mês em que a subida homóloga foi de 4%, que não se registava uma aceleração tão grande como a de junho deste ano. O maior aumento foi na Região Autónoma da Madeira, com uma subida de 5,1%.
O Instituto Nacional de Estatística divulgou os dados da inflação em que se baseia o coeficiente de atualização anual das rendas, que atingiu os 7,91% em junho. O valor definitivo será o do mês de agosto, que o INE divulgará em setembro, mas tudo aponta que será superior ao registado no ano passado, de 5,43%. E nessa altura o Governo terá de decidir se voltará a aplicar a norma travão, como fez este ano, limitando a atualização das rendas a um máximo de 2%.
“Era bom o Governo dizer de sua justiça sobre esta matéria para não alimentar dúvidas e especulações. Os senhorios já vieram reclamar que abaixo de 7% seria muito mau. Mas temos de enquadrar esta discussão dentro do aumento generalizado dos preços dos alimentos, da energia, do que é básico”, afirmou ao portal económico Eco António Machado, secretário-geral da Associação de Inquilinos Lisbonenses, considerando exagerados aumentos superiores a 3% ou 4%, "tendo em conta o aumento geral do custo de vida".
Por seu lado, o presidente da Associação Lisbonense de Proprietários espera que não se repita a norma travão e que os senhorios possam aplicar aumentos que podem chegar aos 8%, argumentando que caso contrário "isso resultaria em grandes prejuízos para os proprietários e numa grande desconfiança no mercado".
Ao Público, uma fonte oficial do Ministério da Habitação disse que "o Governo está a acompanhar a evolução dos dados, mas o assunto mantém-se em análise até existirem dados definitivos".
Bancos emprestam acima do limite determinado pelo Banco de Portugal, denuncia associação
A associação Chão das Lutas, que integra o movimento que promoveu a manifestação de 1 de abril pelo direito à habitação, denunciou esta quarta-feira os "abusos da banca" para contornarem os limites aos empréstimos para a compra de casa.
De acordo com as denúncias recebidas por esta associação, os bancos encontraram forma de contornar o limite do Banco de Portugal ao financiamento da compra de casa, fixado em 80% do valor. Assim, há muitas pessoas que para poderem comprar casa "contraíram o crédito à habitação normal mas foram obrigadas a contrair um crédito pessoal para terem dinheiro para dar de entrada inicial".
Para a Chão das Lutas, é "chocante que o Governo não tenha uma medida que seja para proteger as pessoas destes abusos da Banca e deixe as pessoas a sufocar com os preços das rendas e das prestações ao Banco".
"Se a Banca concedeu créditos que não podia ter concedido, isso é algo que terá de recair sobre a Banca" e não sobre quem adquiriu casa e se vê agora a braços com o aumento dos juros e das prestações.
Face à ausência de medidas do Governo que deem resposta à crise da habitação no país, na semana passada foi anunciada a convocatória de nova manifestação em Lisboa pelo direito à habitação para o dia 30 de setembro.